Esta é mais uma das estórias que o meu pai me costumava contar.
Havia um senhor rico que tinha um navio de carga daqueles muito
grandes. Era nesse tipo de navios, chamados navios mercantes, que se
transportava qualquer tipo de carga; tanto se transportava coisas de comida
como outros materiais.
O proprietário deste navio era também o seu comandante. Ele era casado
e tinha filhos. Há muitos comandantes que não são casados para não terem
problemas porque andam sempre fora de casa, mas este senhor tinha esposa e
filhos. Um dos filhos deste comandante era muito forte e grande; então havia
sempre sarilhos com os outros rapazes. O pai nunca estava em casa e ele não
tinha respeito à mãe; assim o pai pensou levá-lo com ele para bordo do navio,
já que o pai era o proprietário e o comandante; talvez ele tivesse respeito ao
pai e não provocasse desordens no navio com os outros rapazes que trabalhavam a
bordo. Só que aconteceu tudo ao contrário. Por tudo e por nada havia logo
sarilhos e ele como era muito forte pegava nos outros rapazes e atirava-os ao
mar. os outros rapazes começaram a ter medo dele e já não queriam trabalhar
mais no barco. Ora o pai tinha de ter homens a bordo a trabalhar e já estava
desesperado sem saber que fazer. Então pensou fazer o seguinte: continuar a
levar o filho a bordo e quando houvesse oportunidade, deitá-lo ao mar; mas como era seu filho, não tinha coragem de lhe
fazer isso. Então decidiu outra coisa: combinou com alguns homens da sua
tripulação que, quando passassem perto de alguma ilha deserta, daquelas que há lá fora onde não habita ninguém, por
isso são ilhas desertas; deixariam
o seu filho abandonado na ilha. Assim
fizeram; quando passaram perto de uma ilha deserta o pai, comandante do navio,
deu ordem para alguns dos seus homens arrearem uma baleeira para a água.
Baleeira é um barco pequeno que vai em cima do navio. Foi falado que o
objectivo da ida a terra era trazer água fresca e alimentos frescos para o
navio; pois aquela ilha não tinha habitantes e tinha muitas árvores que davam
bons frutos.
Assim lá partiram o filho do comandante e dois homens da tripulação
para a ilha na baleeira.
Quando já estavam na ilha os dois homens pediram ao filho do comandante
para subir determinada árvore que tinha muitos frutos maduros e saborosos e o
rapaz nem pensou duas vezes; num instante subiu à árvore.
Quando estava lá em cima e começava a atirar frutos para os homens,
estes desataram a correr para a baleeira e a remar com todo o vigor para
chegarem depressa ao navio e partirem. O rapaz só se apercebeu quando a
baleeira ia a entrar pelo mar adentro. Ainda chamou por eles, mas eles não
responderam e, pelo contrário, ainda remavam com mais vigor, se possível. Então
o rapaz compreendeu o verdadeiro motivo daquela saída do navio e nem tentou
descer da árvore para os seguir. Decidiu continuar em cima da árvore porque
esta tinha muita fruta e enquanto houvesse fruta para comer não sairia de cima
dela, pois aquela ilha também estava povoada de animais ferozes como tigres,
leopardos, leões e outros animais selvagens e ele tinha medo deles.
Mas houve um dia que a fruta acabou e ele teve de sair de cima da
árvore para se alimentar, pois já tinha muita fome e aí é que foi o pior porque
o rapaz teve de enfrentar as feras ou elas comê-lo-iam. Como o rapaz era muito
forte e alto começou a lutar com as feras e conseguiu vencê-las, então aí
perdeu o medo e passou a matá-las. Depois tirava-lhes a pele, fazia uma
fogueira e assava a carne. Neste lugar ele não tinha fósforos nem petróleo ou
gasolina, então fazia o seguinte: procurava uma pedra e um pau fino e bicudo e
depois esfregava com muita força o pau na pedra onde antes já tinha posto ervas
secas. Assim o pau aquece e pega fogo às ervas secas. Depois era só manter o
lume aceso. Ele de dia comia fruta e à tardinha acendia a fogueira para assar a
carne dos animais que caçava e mantinha a fogueira acesa para o aquecer à noite
e manter os animais longe dele enquanto descansava.
Assim passaram vinte anos. O pai do então rapaz pensava que o seu filho
estaria morto, comido pelas feras que habitavam a ilha, pois, apesar da força,
era um rapaz da cidade e não se saberia defender num ambiente selvagem.
Como já sabemos não foi isso que verdadeiramente aconteceu. Depois de
ter perdido o medo das feras, passou a explorar a ilha para saber o que havia
nela e foi descobrir uma caverna na rocha onde passou a se abrigar quando havia
mau tempo. A roupa que ele tinha no corpo com o tempo apodreceu e ficou sem
roupa nenhuma e passou a utilizar as peles dos animais que caçava. Ele era um
rapaz com muito pêlo no corpo e o facto de viver nesta ilha sem roupa fez com
que o seu corpo se cobrisse ainda mais de pêlos; ficasse com barba grande e
cabelo comprido. Assim ele parecia um macaco grande.
Aquela ilha era mesmo um ponto de abastecimento de alimentos dos navios
de longo curso, mas só a conheciam alguns, pois não estava divulgada e aqueles
que a conheciam pretendiam guardar bem este lugar secreto para o utilizarem
quando sentissem necessidade; quando precisavam de falar da ilha diziam
precisamente o contrário da verdade, assim ninguém se atrevia a passar por lá.
Por isso durante vinte anos ninguém se aproximou da ilha; mas aconteceu. Certo
dia atracou perto da ilha um navio que negociava animais selvagens vivos para
jardins zoológicos e circos e esta ilha era um dos seus locais de boa caça.
Quando os caçadores, vindos do navio, começaram a andar pela ilha, não
viam nenhuns animais selvagens e começaram a estranhar o facto, pois já
conheciam muito bem a ilha. Quando chegaram perto da caverna onde o rapaz se
abrigava, um deles entrou nela e qual não foi o seu espanto quando vê um monte
enorme de ossos. Foi logo chamar os outros colegas; entraram todos de rompante
e todos ficaram admirados com o que viram. De repente começam a ouvir uns urros
muito grandes e um deles vai espreitar e vê um grande macaco ao longe. Os
outros aproximaram-se dele e disseram que parecia mais um homem primitivo do
que um macaco. Decidiram regressar o mais depressa possível para o navio para
trazerem todo o equipamento necessário para caçar aquele homem-macaco e
vendê-lo por bom dinheiro a um jardim zoológico.
Passados alguns dias lá voltaram os mesmos homens àquela ilha e com o
equipamento que levavam foi fácil caçar aquele homem com uma armadilha bem
preparada e venderam-no a um jardim zoológico.
Já na jaula aquele homem não tocava na comida que os tratadores lhe
punham lá dentro, pois tinha levado vinte anos a comer carne crua. Nem sempre
era possível acender a fogueira devido à humidade do ar ou à chuva e depois o
próprio se foi desleixando, pois dá muito trabalho fazer fogo como já repararam
quando foi explicado o processo. Assim as refeições que se tomam em casa já não
faziam nenhum sentido para aquele homem.
Então os tratadores decidiram dar-lhe carne crua a comer e foi assim
que ele começou a comer qualquer coisa. Depois quem ouvia começou a compreender
que ele era realmente um homem e não um tipo de macaco e experimentaram
cortar-lhe o cabelo à homem civilizado, fazer-lhe a barba e vestir-lhe roupa de
homem da época. De seguida tiraram-lhe fotografias e publicaram-nas em jornais.
A notícia deste estranho homem encontrado numa ilha deserta percorreu mundo.
O pai do então rapaz agora, passados vinte e tal anos, já estava
velhote, mas lia sempre os jornais. Foi com enorme surpresa que viu aquelas
fotografias no jornal. Primeiro duvidou que fosse o seu filho, mas cada vez
estava mais perturbado e a curiosidade de o ver perto de si ia aumentando. Foi
mesmo ver o filho e quando olhou para ele perdeu todas as dúvidas e ia para
abraçá-lo, só que os guardas não o permitiram; pois se ele era bastante forte
em rapaz, agora ainda estava mais forte; tão forte como uma fera e os guardas
receavam que ele matasse o velhote.
O homem-macaco, como era conhecido, quando viu o pai reconheceu-o e
começou a dar muitos urros. Como durante vinte anos o rapaz não falou, ele
perdeu esta capacidade e passou a agir como as feras. Com gestos ele mostrava
que queria abraçar o pai e este pediu aos guardas permissão e assumindo o
risco, aproximou-se do filho e abraçou-o. Ambos começaram a chorar; ambos
choravam.
O pai não mais abandonou aquele seu filho e os remorsos amargavam-lhe a
vida, muito arrependido de o ter abandonado naquela ilha. Ele apenas tomou
aquela atitude devido aos problemas enormes que o filho lhe causava; mas Deus é
grande e misericordioso e os dois passaram a viver juntos com muita paz,
harmonia e amor até ao fim dos seus dias.
Foi uma velhice feliz.
Assim termina esta estória.
FIM
Os meus
filmes
1.º – As Amendoeiras em Flor e o Corridinho Algarvio.wmv http://www.youtube.com/watch?v=NtaRei5qj9M&feature=youtu.be
2.º – O Cemitério de Lagos
3.º – Lagos e a sua Costa Dourada
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terço; linda gravura da Senhora do
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