quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Tributo à Minha Mãe - Parte V





O filho rebelde
Esta é mais uma das estórias que o meu pai me costumava contar.
Havia um senhor rico que tinha um navio de carga daqueles muito grandes. Era nesse tipo de navios, chamados navios mercantes, que se transportava qualquer tipo de carga; tanto se transportava coisas de comida como outros materiais.
O proprietário deste navio era também o seu comandante. Ele era casado e tinha filhos. Há muitos comandantes que não são casados para não terem problemas porque andam sempre fora de casa, mas este senhor tinha esposa e filhos. Um dos filhos deste comandante era muito forte e grande; então havia sempre sarilhos com os outros rapazes. O pai nunca estava em casa e ele não tinha respeito à mãe; assim o pai pensou levá-lo com ele para bordo do navio, já que o pai era o proprietário e o comandante; talvez ele tivesse respeito ao pai e não provocasse desordens no navio com os outros rapazes que trabalhavam a bordo. Só que aconteceu tudo ao contrário. Por tudo e por nada havia logo sarilhos e ele como era muito forte pegava nos outros rapazes e atirava-os ao mar. os outros rapazes começaram a ter medo dele e já não queriam trabalhar mais no barco. Ora o pai tinha de ter homens a bordo a trabalhar e já estava desesperado sem saber que fazer. Então pensou fazer o seguinte: continuar a levar o filho a bordo e quando houvesse oportunidade, deitá-lo ao mar; mas como era seu filho, não tinha coragem de lhe fazer isso. Então decidiu outra coisa: combinou com alguns homens da sua tripulação que, quando passassem perto de alguma ilha deserta, daquelas que há lá fora onde não habita ninguém, por isso são ilhas desertas; deixariam o seu filho abandonado na ilha. Assim fizeram; quando passaram perto de uma ilha deserta o pai, comandante do navio, deu ordem para alguns dos seus homens arrearem uma baleeira para a água. Baleeira é um barco pequeno que vai em cima do navio. Foi falado que o objectivo da ida a terra era trazer água fresca e alimentos frescos para o navio; pois aquela ilha não tinha habitantes e tinha muitas árvores que davam bons frutos.
Assim lá partiram o filho do comandante e dois homens da tripulação para a ilha na baleeira.
Quando já estavam na ilha os dois homens pediram ao filho do comandante para subir determinada árvore que tinha muitos frutos maduros e saborosos e o rapaz nem pensou duas vezes; num instante subiu à árvore.
Quando estava lá em cima e começava a atirar frutos para os homens, estes desataram a correr para a baleeira e a remar com todo o vigor para chegarem depressa ao navio e partirem. O rapaz só se apercebeu quando a baleeira ia a entrar pelo mar adentro. Ainda chamou por eles, mas eles não responderam e, pelo contrário, ainda remavam com mais vigor, se possível. Então o rapaz compreendeu o verdadeiro motivo daquela saída do navio e nem tentou descer da árvore para os seguir. Decidiu continuar em cima da árvore porque esta tinha muita fruta e enquanto houvesse fruta para comer não sairia de cima dela, pois aquela ilha também estava povoada de animais ferozes como tigres, leopardos, leões e outros animais selvagens e ele tinha medo deles.   
Mas houve um dia que a fruta acabou e ele teve de sair de cima da árvore para se alimentar, pois já tinha muita fome e aí é que foi o pior porque o rapaz teve de enfrentar as feras ou elas comê-lo-iam. Como o rapaz era muito forte e alto começou a lutar com as feras e conseguiu vencê-las, então aí perdeu o medo e passou a matá-las. Depois tirava-lhes a pele, fazia uma fogueira e assava a carne. Neste lugar ele não tinha fósforos nem petróleo ou gasolina, então fazia o seguinte: procurava uma pedra e um pau fino e bicudo e depois esfregava com muita força o pau na pedra onde antes já tinha posto ervas secas. Assim o pau aquece e pega fogo às ervas secas. Depois era só manter o lume aceso. Ele de dia comia fruta e à tardinha acendia a fogueira para assar a carne dos animais que caçava e mantinha a fogueira acesa para o aquecer à noite e manter os animais longe dele enquanto descansava.
Assim passaram vinte anos. O pai do então rapaz pensava que o seu filho estaria morto, comido pelas feras que habitavam a ilha, pois, apesar da força, era um rapaz da cidade e não se saberia defender num ambiente selvagem.
Como já sabemos não foi isso que verdadeiramente aconteceu. Depois de ter perdido o medo das feras, passou a explorar a ilha para saber o que havia nela e foi descobrir uma caverna na rocha onde passou a se abrigar quando havia mau tempo. A roupa que ele tinha no corpo com o tempo apodreceu e ficou sem roupa nenhuma e passou a utilizar as peles dos animais que caçava. Ele era um rapaz com muito pêlo no corpo e o facto de viver nesta ilha sem roupa fez com que o seu corpo se cobrisse ainda mais de pêlos; ficasse com barba grande e cabelo comprido. Assim ele parecia um macaco grande.
Aquela ilha era mesmo um ponto de abastecimento de alimentos dos navios de longo curso, mas só a conheciam alguns, pois não estava divulgada e aqueles que a conheciam pretendiam guardar bem este lugar secreto para o utilizarem quando sentissem necessidade; quando precisavam de falar da ilha diziam precisamente o contrário da verdade, assim ninguém se atrevia a passar por lá. Por isso durante vinte anos ninguém se aproximou da ilha; mas aconteceu. Certo dia atracou perto da ilha um navio que negociava animais selvagens vivos para jardins zoológicos e circos e esta ilha era um dos seus locais de boa caça.
Quando os caçadores, vindos do navio, começaram a andar pela ilha, não viam nenhuns animais selvagens e começaram a estranhar o facto, pois já conheciam muito bem a ilha. Quando chegaram perto da caverna onde o rapaz se abrigava, um deles entrou nela e qual não foi o seu espanto quando vê um monte enorme de ossos. Foi logo chamar os outros colegas; entraram todos de rompante e todos ficaram admirados com o que viram. De repente começam a ouvir uns urros muito grandes e um deles vai espreitar e vê um grande macaco ao longe. Os outros aproximaram-se dele e disseram que parecia mais um homem primitivo do que um macaco. Decidiram regressar o mais depressa possível para o navio para trazerem todo o equipamento necessário para caçar aquele homem-macaco e vendê-lo por bom dinheiro a um jardim zoológico.
Passados alguns dias lá voltaram os mesmos homens àquela ilha e com o equipamento que levavam foi fácil caçar aquele homem com uma armadilha bem preparada e venderam-no a um jardim zoológico.
Já na jaula aquele homem não tocava na comida que os tratadores lhe punham lá dentro, pois tinha levado vinte anos a comer carne crua. Nem sempre era possível acender a fogueira devido à humidade do ar ou à chuva e depois o próprio se foi desleixando, pois dá muito trabalho fazer fogo como já repararam quando foi explicado o processo. Assim as refeições que se tomam em casa já não faziam nenhum sentido para aquele homem.
Então os tratadores decidiram dar-lhe carne crua a comer e foi assim que ele começou a comer qualquer coisa. Depois quem ouvia começou a compreender que ele era realmente um homem e não um tipo de macaco e experimentaram cortar-lhe o cabelo à homem civilizado, fazer-lhe a barba e vestir-lhe roupa de homem da época. De seguida tiraram-lhe fotografias e publicaram-nas em jornais. A notícia deste estranho homem encontrado numa ilha deserta percorreu mundo.
O pai do então rapaz agora, passados vinte e tal anos, já estava velhote, mas lia sempre os jornais. Foi com enorme surpresa que viu aquelas fotografias no jornal. Primeiro duvidou que fosse o seu filho, mas cada vez estava mais perturbado e a curiosidade de o ver perto de si ia aumentando. Foi mesmo ver o filho e quando olhou para ele perdeu todas as dúvidas e ia para abraçá-lo, só que os guardas não o permitiram; pois se ele era bastante forte em rapaz, agora ainda estava mais forte; tão forte como uma fera e os guardas receavam que ele matasse o velhote.
O homem-macaco, como era conhecido, quando viu o pai reconheceu-o e começou a dar muitos urros. Como durante vinte anos o rapaz não falou, ele perdeu esta capacidade e passou a agir como as feras. Com gestos ele mostrava que queria abraçar o pai e este pediu aos guardas permissão e assumindo o risco, aproximou-se do filho e abraçou-o. Ambos começaram a chorar; ambos choravam.
O pai não mais abandonou aquele seu filho e os remorsos amargavam-lhe a vida, muito arrependido de o ter abandonado naquela ilha. Ele apenas tomou aquela atitude devido aos problemas enormes que o filho lhe causava; mas Deus é grande e misericordioso e os dois passaram a viver juntos com muita paz, harmonia e amor até ao fim dos seus dias.
Foi uma velhice feliz.
Assim termina esta estória.                                                                           

  FIM
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