quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Tributo à Minha Mãe - Parte I



Esta foto é da altura em que escrevia estas estórias no caderno. Estava feliz!
Vou tentar contar as estórias que eu ouvia quando era  pequena o meu pai contar.
Infelizmente essa ligação entre pais e filhos vai-se acabando.

Eu gostava tanto de ouvir o meu pai contar estas estórias que apesar da idade que já tenho, setenta e dois anos, ainda me recordo de quase tudo o que o meu pai me contava com tanto amor.

SÃO COISAS QUE NUNCA SE ESQUECEM!

Lagos, Agosto de 2001















A adivinha

Vou tentar contar a estória de um rapaz muito pobre e também um pouco atrasado mental que em tempos viveu em Portugal.

Há muitos anos atrás havia em Portugal a monarquia. No tempo deste rapaz os reis tinham poder absoluto. Um destes reis tinha uma filha muito inteligente, pois conseguia decifrar todas as adivinhas que lhe contavam. Chegou a altura em que na corte já ninguém sabia adivinhas que a princesa não conhecesse. Então o pai espalhou um edital por todo o país e arredores informando que se algum rapaz fosse capaz de colocar à princesa uma adivinha que ela não conseguisse decifrar, casaria com a princesa, pois certamente seria também inteligente.
Apareceram muitos rapazes, vários príncipes e ela a todos soube dar resposta adequada à adivinha proposta.

Um dia o herói desta estória soube do edital e disse à sua mãe:

- Vou contar uma adivinha à princesa que ela não é capaz de adivinhar.

A mãe do rapaz ficou triste, pois sabia que esta não era aventura para o seu filho e o mais certo seria que, o rei ao conhecer-lhe o filho, o mandasse matar. Mas o rapaz era decidido e nessa mesma noite disse à mãe que ia com toda a certeza e levaria a Joana com ele. Joana era a burra que o acompanhava para todo o lado e o palácio real ficava bem distante da sua aldeia.
Nessa noite a mãe não dormiu a pensar no que faria para evitar que o filho fizesse tamanho disparate. Então decidiu fazer para a viagem três bolos envenenados para o filho comer quando tivesse fome.
No outro dia de manhã lá partiu o rapaz montado na sua burra e com o farnel que a sua mãe lhe tinha preparado. O sol já ia alto e deu a fome ao rapaz. Este pegou nos bolos para comer, mas pensou para consigo:

- Se eu tenho fome, a minha Joana também tem. O melhor é dar o meu farnel à Joana e assim ela consegue levar-me até ao palácio.

Assim pensou, assim fez. Claro que a Joana morreu e ele ficou apeado. Ora no campo quando morre um animal vêm logo os abutres comê-lo. Como a Joana morreu envenenada os abutres ao comer a sua carne também morreram envenenados.

Por aqueles dias por aquele caminho passou uma quadrilha de ladrões de sete homens. Viram os pássaros mortos e como já havia um dia que não comiam, decidiram aproveitar e levaram os abutres, prepararam-nos e comeram-nos. Também os ladrões morreram.
Entretanto o rapaz escondia-se por aquelas redondezas e já havia dois dias que não comia; então decidiu pegar na espingarda que tinha levado e caçar qualquer coisa para matar a fome.
Lá se meteu por aquelas árvores e arbustos à procura de caça. De repente, salta-lhe de uma moita um coelho que se pôs a comer a erva fresquinha, verdinha e viçosa que por ali havia. O rapaz, com todo o cuidado para não fazer o menor ruído leva a espingarda à cara e dispara. Acontece que não consegue acertar no coelho; mas, sorte das sortes, acerta numa lebre que estaria escondida por ali, pois ele não a tinha visto. Ora esta lebre estava prenha e tinha vários filhotes dentro dela.
O rapaz pensa com os seus botões:

- Sei lá se esta lebre está ou não envenenada e eu posso morrer se comê-la. O melhor é comer os filhotes porque esses estão vivos portanto não podem estar envenenados.

Se pensou melhor o fez. Abriu a barriga da lebre tirou-lhe os filhotes, preparou-os e comeu-os.
De seguida pôs-se a caminho para a cidade onde morava o rei. Quando lá chegou já era noite e decidiu que seria melhor não se aproximar do palácio de noite. Verificou que por ali havia um rio, viu vários barcos na sua margem e disse para consigo:

- Não conheço cá ninguém. o melhor será procurar um bom barquinho com redes e deitar-me lá, pois já tenho muito sono.

E assim fez. E dormiu que nem um rei. Quando os raios de sol de um dia que amanhecia muito bonito lhe deram nos olhos ele acordou, sentou-se, esfregou os olhos, lavou-se no rio e lá seguiu a caminho do palácio.

Quando já estava perto da porta principal do palácio os dois guardas vieram ter com ele e perguntaram-lhe a que vinha ao palácio. Então ele, com o maior à-vontade, disse que tinha uma adivinha para contar à princesa. Os guardas mandaram-no esperar ali e um deles dirigiu-se para dentro do palácio e foi contar ao rei o que se passava. Como o edital dizia qualquer rapaz poderia apresentar a sua adivinha, o rei disse ao guarda que o deixasse entrar e à hora do almoço ele contaria a sua adivinha à princesa, na presença da corte.
Assim aconteceu e ele começou a contar a sua adivinha à princesa:

“Saí de casa da minha mãe com a Joana. A minha mãe deu-me três e três mataram a Joana. A Joana matou quatro e quatro mataram sete. Atirei ao que vi e matei o que não vi. Comi carne sem ser nascida nem criada. Dormi sem ser no chão nem na terra.”

A princesa ficou a pensar na adivinha e disse que daria a sua resposta durante o jantar. Chegou a altura do jantar, o rapaz apresentou-se na sala e a princesa informou todos que não tinha conseguido decifrar aquela adivinha.
Então o rei, um pouco embaraçado, disse:

- Bem, palavra de rei não volta atrás. Portanto, meu rapaz, casas com a minha filha. Comecem amanhã os preparativos para a boda e seja o que Deus quiser.

No dia marcado a princesa casou com o rapaz e houve grandes festas entre o povo e também na corte.
    O certo é que foram muito felizes.

FIM

Os meus filmes

1.º – As Amendoeiras em Flor e o Corridinho Algarvio.wmv
2.º – O Cemitério de Lagos
3.º – Lagos e a sua Costa Dourada




4.º – Natal de 2012

Os meus blogues

http://www.psd.pt/     - “Povo Livre” - ARQUIVO  - download
http://www.arteemgestao.pt/  (empresa de consultoria e negócios utilizando a metodologia 'coaching')

 Página 1            (novo jornal online)

Sem comentários:

Enviar um comentário