Esta foto é da altura em que escrevia estas estórias no caderno. Estava feliz!
Vou tentar contar as estórias que eu ouvia quando era pequena o meu pai contar.
Infelizmente
essa ligação entre pais e filhos vai-se acabando.
Eu gostava tanto de ouvir o
meu pai contar estas estórias que apesar da idade que já tenho, setenta e dois anos,
ainda me recordo de quase tudo o que o meu pai me contava com tanto amor.
SÃO COISAS
QUE NUNCA SE ESQUECEM!
Lagos, Agosto de
2001
Vou tentar contar a estória
de um rapaz muito pobre e também um pouco atrasado mental que em tempos viveu
em Portugal.
Há muitos anos atrás havia
em Portugal a monarquia. No tempo deste rapaz os reis tinham poder absoluto. Um
destes reis tinha uma filha muito inteligente, pois conseguia decifrar todas as
adivinhas que lhe contavam. Chegou a altura em que na corte já ninguém sabia
adivinhas que a princesa não conhecesse. Então o pai espalhou um edital por
todo o país e arredores informando que se algum rapaz fosse capaz de colocar à
princesa uma adivinha que ela não conseguisse decifrar, casaria com a princesa,
pois certamente seria também inteligente.
Apareceram muitos rapazes,
vários príncipes e ela a todos soube dar resposta adequada à adivinha proposta.
Um dia o herói desta estória
soube do edital e disse à sua mãe:
- Vou contar uma adivinha
à princesa que ela não é capaz de adivinhar.
A mãe do rapaz ficou triste,
pois sabia que esta não era aventura para o seu filho e o mais certo seria que,
o rei ao conhecer-lhe o filho, o mandasse matar. Mas o rapaz era decidido e
nessa mesma noite disse à mãe que ia com toda a certeza e levaria a Joana com
ele. Joana era a burra que o acompanhava para todo o lado e o palácio real
ficava bem distante da sua aldeia.
Nessa noite a mãe não dormiu
a pensar no que faria para evitar que o filho fizesse tamanho disparate. Então
decidiu fazer para a viagem três bolos envenenados para o filho comer quando
tivesse fome.
No outro dia de manhã lá
partiu o rapaz montado na sua burra e com o farnel que a sua mãe lhe tinha
preparado. O sol já ia alto e deu a fome ao rapaz. Este pegou nos bolos para
comer, mas pensou para consigo:
- Se eu
tenho fome, a minha Joana também tem. O melhor é dar o meu farnel à Joana e
assim ela consegue levar-me até ao palácio.
Assim pensou,
assim fez. Claro que a Joana morreu e ele ficou apeado. Ora no campo quando
morre um animal vêm logo os abutres comê-lo. Como a Joana morreu envenenada os
abutres ao comer a sua carne também morreram envenenados.
Por aqueles
dias por aquele caminho passou uma quadrilha de ladrões de sete homens. Viram
os pássaros mortos e como já havia um dia que não comiam, decidiram aproveitar
e levaram os abutres, prepararam-nos e comeram-nos. Também os ladrões morreram.
Entretanto o
rapaz escondia-se por aquelas redondezas e já havia dois dias que não comia;
então decidiu pegar na espingarda que tinha levado e caçar qualquer coisa para
matar a fome.
Lá se meteu
por aquelas árvores e arbustos à procura de caça. De repente, salta-lhe de uma
moita um coelho que se pôs a comer a erva fresquinha, verdinha e viçosa que por
ali havia. O rapaz, com todo o cuidado para não fazer o menor ruído leva a
espingarda à cara e dispara. Acontece que não consegue acertar no coelho; mas,
sorte das sortes, acerta numa lebre que estaria escondida por ali, pois ele não
a tinha visto. Ora esta lebre estava prenha e tinha vários filhotes dentro
dela.
O rapaz pensa
com os seus botões:
- Sei lá
se esta lebre está ou não envenenada e eu posso morrer se comê-la. O melhor é
comer os filhotes porque esses estão vivos portanto não podem estar
envenenados.
Se pensou melhor o fez. Abriu a barriga da lebre
tirou-lhe os filhotes, preparou-os e comeu-os.
De seguida
pôs-se a caminho para a cidade onde morava o rei. Quando lá chegou já era noite
e decidiu que seria melhor não se aproximar do palácio de noite. Verificou que
por ali havia um rio, viu vários barcos na sua margem e disse para consigo:
- Não
conheço cá ninguém. o melhor será procurar um bom barquinho com redes e
deitar-me lá, pois já tenho muito sono.
E assim fez.
E dormiu que nem um rei. Quando os raios de sol de um dia que amanhecia muito
bonito lhe deram nos olhos ele acordou, sentou-se, esfregou os olhos, lavou-se
no rio e lá seguiu a caminho do palácio.
Quando já
estava perto da porta principal do palácio os dois guardas vieram ter com ele e
perguntaram-lhe a que vinha ao palácio. Então ele, com o maior à-vontade, disse
que tinha uma adivinha para contar à princesa. Os guardas mandaram-no esperar
ali e um deles dirigiu-se para dentro do palácio e foi contar ao rei o que se
passava. Como o edital dizia qualquer
rapaz poderia
apresentar a sua adivinha, o rei disse ao guarda que o deixasse entrar e à hora
do almoço ele contaria a sua adivinha à princesa, na presença da corte.
Assim
aconteceu e ele começou a contar a sua adivinha à princesa:
“Saí de
casa da minha mãe com a Joana. A minha mãe deu-me três e três mataram a Joana.
A Joana matou quatro e quatro mataram sete. Atirei ao que vi e matei o que não
vi. Comi carne sem ser nascida nem criada. Dormi sem ser no chão nem na terra.”
A princesa
ficou a pensar na adivinha e disse que daria a sua resposta durante o jantar.
Chegou a altura do jantar, o rapaz apresentou-se na sala e a princesa informou
todos que não tinha conseguido decifrar aquela adivinha.
Então o rei,
um pouco embaraçado, disse:
- Bem,
palavra de rei não volta atrás. Portanto, meu rapaz, casas com a minha filha.
Comecem amanhã os preparativos para a boda e seja o que Deus quiser.
No dia marcado
a princesa casou com o rapaz e houve grandes festas entre o povo e também na
corte.
O certo é
que foram muito felizes.
FIM
Os meus filmes
1.º – As Amendoeiras em Flor e o Corridinho Algarvio.wmv
2.º – O Cemitério de Lagos
3.º – Lagos e a sua Costa Dourada
4.º – Natal de 2012
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