Vou contar uma história que dizem ter sido verdadeira e que terá
acontecido com pessoas do concelho de Lagos numa terra chamada Espiche, no
Algarve.
A história começa assim:
Naquele tempo havia rei em Portugal. Os rapazes iam fazer a tropa para
Lisboa e outros lugares do país. O palácio do rei era guardado pelas tropas.
Houve uma grande festa que o rei deu pelo aniversário do seu casamento.
Para esta festa convidou todos os príncipes e princesas da Europa. Foi uma
festa muito linda. Quando a festa estava no auge entra no salão uma quadrilha
de ladrões mascarados e armados e roubam todas as jóias que aquela nobreza
ostentava em si. O rei ficou muito envergonhado por não ter conseguido garantir
a segurança a todos aqueles parentes e amigos e ordenou aos seus conselheiros
para apanharem os ladrões e as jóias e que estas fossem devolvidas aos seus
proprietários.
O tempo ia passando e os conselheiros não lhe traziam nenhuma notícia
nem do paradeiro dos ladrões nem das jóias.
Nessa altura estava na tropa em Lisboa um rapaz de Espiche que foi
destacado para fazer guarda ao palácio real. Este rapaz, sabendo da aflição em
que vivia o rei, pediu uma audiência ao rei e contou-lhe:
- Sabe, meu amo e senhor, na minha terra há um homem
que adivinha tudo e por isso as pessoas o chamam de Adivinhão. Quando alguém
quer saber alguma coisa, vai ter com ele e o que ele diz e aconselha, bate
sempre certo. Às vezes não chove durante muito tempo e as pessoas ficam aflitas
porque não sabem quando podem semear. Então vão ter com ele para saber quando
vai chover e o que ele diz bate sempre certo.
O rei disse logo:
- Tragam-me, o mais rapidamente possível, esse homem à
minha presença.
Assim aconteceu. O adivinhão de Espiche foi à corte falar com o rei. O
rei perguntou-lhe:
- Ouve lá, é verdade que adivinhas tudo o que te
pedem?
- Assim tem acontecido, meu rei.
- Passa-se o seguinte: dei uma grande festa aqui neste
palácio e uma quadrilha de ladrões interrompeu a festa e assaltou todas as
senhoras e cavalheiros que lá se encontravam e roubaram-lhes as jóias que
traziam consigo. Peço-te que me descubras quem foram os ladrões.
O homem ficou muito atrapalhado e pensou com os seus botões: “Agora
é que estou perdido. Como é que vou adivinhar quem foram os ladrões?”
Este homem tinha muita fé em Deus, então invocou a Sua ajuda e foi
atendido.
O Adivinhão pediu ao rei para ficar numa casa sozinho durante três
dias, dentro do próprio palácio, pois precisava pensar sobre o caso. O rei
concordou e assim foi feito.
Havia três criados no palácio que faziam serviço de quartos e era da
sua conta levar as refeições e tudo o que fosse necessário ao Adivinhão. Cada
dia o Adivinhão era servido por um dos criados. Quando chegou a noite e o
criado foi levar a última refeição desse dia ao Adivinhão, este exclamou:
- Um já cá canta!
O criado ficou muito aflito e foi logo contar aos outros dois colegas:
- Sabem o que o Adivinhão disse quando lhe entreguei o
jantar esta noite? “Um já cá canta!”
Dizem logo os outros dois:
- Amanhã vais tu e tomas atenção ao que ele disser.
No dia seguinte lá foi o outro criado e à noite o homem voltou a dizer:
- Dois já cá cantam!
O criado ainda ficou mais aflito do que o outro e foi logo contar esta
frase aos colegas. Os três disseram ao mesmo tempo:
- Estamos perdidos! Ele é mesmo adivinhão.
Diz um deles:
- Amanhã é a minha vez. Vamos lá a ver o que ele diz.
No dia seguinte lá foi o terceiro criado servir o Adivinhão, mas todo o
dia andou muito nervoso e receoso. Quando foi entregar o jantar o Adivinhão
disse-lhe:
- Até que enfim já cá cantam três!
O criado ficou tão assustado que disse logo:
- O senhor é mesmo adivinho! Acaba de dizer que já tem
os três. Pois é verdade. Fomos nós os três que roubámos as jóias durante a
festa.
O homem ficou muito satisfeito e disse:
- Eu já sabia que tinham sido vocês, por isso eu dizia
aquela frase. Também acho que vocês ainda têm as jóias dentro do castelo; por
isso os conselheiros do rei não conseguiram descobri-las.
O criado ficou todo atrapalhado e disse que as jóias estavam enterradas
no jardim do palácio. O Adivinhão ficou todo feliz e pensou: “Desta já me
safei. Vou pedir ao rei que me seja permitido regressar a minha casa.”
O homem não era adivinho. Ele tinha muita fé em Deus. Quando as pessoas
lhe pediam ajuda, ele pedia a Deus que o ajudasse a descobrir a resposta certa
para assim poder ajudar as outras pessoas.
Quando ele dizia aquelas frases na presença dos criados estava a
referir-se aos dias que tinha pedido ao rei para encontrar a resposta. Só que
os criados, como tinham a consciência pesada, atribuíam a frase ao que eles
tinham feito e deduziam que ele os estava a contar como ladrões.
Tinham-se acabado os três dias que o homem tinha pedido ao rei para
pensar e o rei mandou chamá-lo. Quando o homem ficou na presença do rei
disse-lhe:
- Saiba Vossa Majestade que já sei quem foram os
ladrões. Também onde estão enterradas as jóias.
O rei pediu logo para ele lhe dizer o que sabia. O homem informou-o:
- Foram os seus três criados de quarto que roubaram as
jóias e foram enterrá-las no jardim do palácio.
O rei mandou logo prender os ladrões e desenterrar as jóias. Então o
homem disse ao rei que queria regressar à sua terra e à sua casa, mas o rei não
concordou:
- Uma pessoa assim faz falta no palácio.
Lá ficou o infeliz do Adivinhão a viver no palácio.
Um dia a rainha ficou grávida e logo o rei quis usar os talentos do
Adivinhão para saber se seria rapaz ou rapariga. O homem ficou todo
atrapalhado, mas não se desorientou. Disse ao rei que, para saber tal coisa,
necessitava ficar numa casa sozinho com a rainha. O rei concordou logo todo
satisfeito.
Quando se encontrou a sós com a rainha pediu para esta se despir
completamente e a rainha assim o fez. Depois pediu para a rainha virar as
costas para ele. Mirou a rainha, remirou e disse:
- É rapaz.
Depois pediu para a rainha se pôr de frente para ele. Novamente mirou e
remirou e disse:
- É rapariga.
De seguida pediu à rainha para se vestir e ele próprio foi falar com o
rei e disse-lhe:
- Vossa Majestade, é necessário esperar o tempo
necessário para saber se estou certo ou errado. Na minha ideia, parece-me serem
um rapaz e uma rapariga.
Assim fizeram e quando os bebés nasceram, eram dois gémeos: um rapaz e
uma rapariga.
O rei e a rainha ficaram tão satisfeitos que de maneira nenhuma o
deixavam ir embora, pois ele era muito precioso para aconselhar o rei a decidir
bem os assuntos do reino.
Um dia andavam o rei e a rainha a passear nos jardins do palácio com o
príncipe e a princesa quando a rainha viu um grilo e o apanhou. Fechou o grilo
na sua mão e disse para o rei:
- Agora vou perguntar ao Adivinhão se sabe o que tenho
na mão.
Acontece que o verdadeiro apelido do Adivinhão era Grilo. Quando a
rainha lhe faz a pergunta ele fica todo aflito e pensa: “Qualquer dia não
acerto, descobrem que não adivinho nada e mandam-me matar por trapaceiro.”
Então sem pensar o Adivinhão diz assim:
- Ai Grilo, Grilo; em que mãos estás metido!
A rainha olhou para o rei e disse-lhe:
- Olha, voltou a adivinhar. É verdade que tenho um
grilo na minha mão.
Lá continuou o Adivinhão no palácio cada vez mais assustado.
E assim acaba esta história. Quem quiser continuá-la mais amigos fará.
FIM
Os meus
filmes
1.º – As Amendoeiras em Flor e o Corridinho Algarvio.wmv http://www.youtube.com/watch?v=NtaRei5qj9M&feature=youtu.be
2.º – O Cemitério de Lagos
3.º – Lagos e a sua Costa Dourada
Os meus blogues
http://www.custodiosdemaria.pt/ (terço + livrinho das orações do
terço; linda gravura da Senhora do
Perpétuo Socorro + Oração-Pedido)
(livros, música, postais, … cristãos)
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(hora de Lisboa) http://www.santo-antonio.webnode.pt/
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