sábado, 17 de novembro de 2012

Meu trabalho "O Caderno da Minha Adolescência


O Caderno da Minha Adolescência de Maria de Portugal  
(até ao 25 de Abril)
  Venho partilhar convosco este meu trabalho dos tempos da minha adolescência.

Apresentação
Esta recolha de textos de reflexão escritos na minha adolescência que medeia a Revolução de 25 de Abril tem a ver com uma necessidade interior de busca das origens para poder fechar uma fase da minha vida.

Todo este segundo semestre deste ano tenho sentido este fecho, esta conclusão desta fase da minha vida. Isto dá-me uma grande esperança para o início da nova fase da minha vida que se vai abrindo para mim agora em 2003. Tenho toda a confiança na nova fase porque será toda com Deus e a Sua Família.

Os textos fizeram-me recordar situações e tensões daquela altura que já estavam completamente esquecidas por mim. Escrevi-os porque necessitava imenso de comunicar e ser compreendida. A folha em branco foi o melhor psicólogo que poderia ter e a presença de Deus e do Bem estavam sempre em mim a apoiar-me.

Foi interessante verificar como é bom escrever, deixar memória e também analisar que a minha essência continua a mesma. Os valores que procurava porque necessitava e não encontrava devido a uma vida cheia de desencontros; verifico agora que finalmente os encontrei e que sempre estiveram comigo, só que eu não conseguia encontrá-los porque não conseguia identificá-los devido aos valores exteriores, do ambiente, serem outros.

Actualmente sou a pessoa que se encontrou porque encontrou a Vida, o Amor, a Paz, a Felicidade, a Liberdade e sou feliz porque a essência da Felicidade mora em mim. Acabei verificando que estes foram os valores que tanto busquei na minha adolescência.

Este texto parece-me mais um epílogo do que uma apresentação. Talvez seja ambas as coisas: uma apresentação de mim mesma adolescente e um epílogo da primeira grande fase da minha vida que foi de busca=Aprendizagem para uma apresentação de mim mesma Mulher a iniciar a grande fase da Realização.

Deus sabe melhor do que eu. A mim bastam-me as preocupações de cada dia.

Carpe diem!

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Lagos, 27 de Abril de 1972

Esta é a data da festa de despedida do Dr Raul Horta, director da actual Escola Secundária Gil Eanes de Lagos que na altura se chamava Escola Secundária de Lagos. Além de director da escola foi também meu professor; um óptimo professor e muito humano.
Com alguma antecedência a minha professora de português, na altura a Dra Emília Veiga, durante uma das aulas convidou-nos a escrevermos umas palavras sobre o director para um dos alunos depois ler durante esta festa em nome de todos os alunos. Salientou que gostaria que eu não deixasse de escrever porque tinha muito jeito. Assim incentivada, não deixei de escrever um pequeno texto que lhe entreguei na aula seguinte.
Passadas algumas aulas após esta, numa outra aula, a professora disse-nos que os professores tinham analisado os textos entregues e tinham escolhido dois textos como os melhores e que, por acaso, encaixavam bastante bem e eram os dois, textos das duas Carmelitas, que frequentavam a escola. Os meus colegas imediatamente expressaram o seu apoio e disseram que eu escrevia muito bem. A professora disse-me que, do outro texto escolheram a introdução que encaixava perfeitamente no meu texto, que tinha sido todo aproveitado. O texto a dizer tinha ficado assim com estava no papel que ela me entregou no momento. Perguntou-me se eu me incomodava com isso. Eu disse logo que não. Então ela disse-nos que os professores também me tinham escolhido para dizer o texto na festa. Eu fiquei apreensiva e ela disse-me logo que já tinha falado com a outra Carmelita e ela concordou e até preferia e também o meu texto era a parte maior.
Assim eu fui uma das convidadas nesta festa de despedida do Dr. Raul Horta por limite de idade e ele ficou muito sensibilizado com as palavras que proferi em nome de todos os alunos. Era assim o texto:

Senhor Director

Venho aqui em nome dos meus colegas dizer umas palavrinhas ...
Gostaria que elas fossem belas, mas não tenho pretensões visto que o meu génio oratório não me ajuda e, além disso, a costureira não acabou o vestido de seda e ouro com que elas deviam vir vestidas.
Contudo arrisco porque o que interessa verdadeiramente não são as palavras, mas os sentimentos e, neste momento, é a saudade e a eterna gratidão que nos invade.
Acredite, Senhor Doutor, que nós, vossos alunos presentes e, com certeza, todos os que se encontram ausentes por motivos de ordem vária; todos nós, uns com a sua presença, outros com o coração, estamos reconhecidos ao senhor pela maneira como nos tem dirigido como director e ensinado como professor; pois que tem sido companheiro e amigo de todos os que por aqui passaram.
Como director porque soube manter a ordem entre todos os jovens que aqui se encontram, dando castigos convenientes a quem os merece e estimulando os que cumprem o dever a que se obrigaram ao se matricularem nesta escola.
Como mestre porque fez sempre o possível para que todos os alunos compreendessem a matéria que ensinava, explicando-a da maneira mais fácil e ainda, pisando-a e repisando-a sempre que necessário para uma melhor compreensão.
Por nunca ter posto obstáculos a qualquer convite que pudesse enriquecer culturalmente os seus discípulos; por tudo o que fez por nós, o muito obrigado, do fundo do coração, de todos nós, rapazes e raparigas desta escola.
Muito obrigado, senhor director!

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                         A MÃE

(Primeiro poema escrito por mim para participar num concurso a nível nacional entre escolas sob o tema A MÃE em 1969 com catorze anos. Não ganhei prémio nenhum, mas fez-me sentir como é bom passar para o papel o que nos vai na alma.)

Mãe!
Que nome tão doce e lindo
Como não há outro igual;
Parece a rosa abrindo
Com seu perfume, tal qual.

Mãe!
Ó mãe, ó meu grande amor,
Preciso do teu carinho
Preciso do teu calor
P’ra seguir no bom caminho.

Mãe!
Ó mãe, quando eu for maior
E poder ganhar p’ra mim;
Procurarei te ajudar,
Se precisares de mim.

Mãe!
Que bonito quadro fazes
Quando embalas teu filhinho;
Pareces Nossa Senhora
Tendo Jesus ao colinho.

Mãe!
Nome que traz alegria
E amor do mais profundo
Até para os corações
Mais infelizes do mundo.

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Lagos, ano de 1973 com 17 anos de idade     (composição escolar)
A vida é algo que pode ser muito lindo e agradável, mas também pode ser dura e cruel. Tudo depende do carácter da pessoa e, muitas vezes, também do ambiente social. Apesar de ser jovem, já tenho idealizado a minha vida. Para mim gostaria que ela fosse assim:
De aqui a alguns anos, se Deus quiser, tirarei o curso que tenho pensado. Então empregar-me-ei como professora de jovens. Desejo imenso comunicar a tantos jovens que menosprezam a vida e que a vivem pelo lado mau, que a vida é bela e vivemos numa constante felicidade quando a vida é vivida com pureza, amor ao próximo; procurando tornar felizes as pessoas que se encontram à nossa volta e ao mesmo tempo tornando-nos felizes. Também existe muita felicidade em nós quando se ama a natureza.
Exercerei a minha profissão e chegarei a minha casa contente por me ter conseguido realizar nesse dia esperando pela hora de fazer o jantar ou simplesmente jantar, escutarei música ou lerei algumas páginas de algum bom livro. E assim sentirei uma felicidade imensa e assim, mais ou menos, gostaria que transcorressem os dias da minha vida quotidiana.
Na altura das férias viria para uma cidade assim como Lagos, se cá não vivesse e sentir-me-ia imensamente feliz por poder saborear as delícias de um sol bem quentinho me aquecendo o corpo quando eu estivesse estendida sobre a areia a apanhar os meus banhos de sol. Também me sentiria feliz por poder nadar despreocupada e feliz nas águas calmas das nossas praias algarvias.
Também seriam muito boas as tardes passadas em piqueniques por esses campos que existem pelo Algarve a saborear o aroma exalado pelos pinheiros ou quaisquer outras árvores que existem por aí; andar de balouço e apreciar tudo o que de belo a natureza tem para nos oferecer. Claro que algumas férias tiraria para viajar e conhecer outras paisagens e outras gentes.
Também haveria dias nas minhas férias em que iria a alguma festa, a algum baile, ao cinema e ao teatro.

E assim, metendo entre a beleza da natureza algumas coisas sãs e belas que as pessoas fazem, gostaria de passar a minha vida.

Pelo ditado que diz que, com fé em Deus e a ajuda d’Ele tudo se consegue, esperemos que a minha vida siga, pouco mais ou menos, nestes moldes.

Parece-me que uma pessoa que aprecia a natureza, que leva uma vida sã e que procura fazer algum bem ao próximo, mesmo que se divirta em bailes, teatro levando uma vida pura; penso que essa pessoa é que se pode gabar de ter vivido uma vida em plenitude.

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Lagos, Fevereiro de 1973 com dezassete anos

Rainhas do Inverno


Amendoeiras em flor!

Que tom de alegria e rejuvenescimento dais ao triste e friorento inverno. E o sol, vosso amigo, faz o possível para estar sempre na vossa companhia aquecendo-vos as pétalas macias e perfumadas.

Certo dia de inverno que imaginava um mau dia porque não me deixaria sair à rua a passear por causa da chuva e do frio; de manhãzinha abro a minha janela e que vejo?

Uns raiozinhos tépidos de um sol que há pouco nasceu, mas que promete transformar o dia de inverno num esplêndido dia de primavera, a convidar-me para um passeio.

Aprecio um pouco mais esse calor tão agradável que recebo e então olho à minha volta e que vejo?

Umas singelas, mas lindas florinhas que se encontram colocadas nos ramos negros das amendoeiras. A brisa traz até mim o perfume delicado, exalado por essas florinhas de inverno. Então decido dar o passeio que há pouco o rei-sol me propôs.

Caminho um pouco e já estou entre estas lindas árvores que escolheram uma época triste para florescerem e lembrarem aos humanos que mesmo num ambiente triste e vazio pode florir e ser alegre um coração.

Que perfume tão delicado e agradável vem até mim!

Faz nascer dentro de mim uma alegria que pouco a pouco vai aumentando até me dar uma vontade enorme de saltar e cantar. Então digo:

Bendito sejas, sol, por me teres convidado a dar este passeio e teres ajudado estas florinhas a brotarem;

Benditas sejais, amendoeiras, por me terdes perfumado com o vosso perfume vindo das vossas pétalas e chegado até mim por esta brisa que me acaricia;

Bendito sejais, meu Deus, por terdes posto tanta beleza na Terra e dado um pouco de alegria a estes seres que pouco sabem apreciar o bem que lhes quereis.

Obrigada por me terdes dado saúde para apreciar a natureza e posto alegria em meu coração nesta manhã de primavera num dia de inverno.

Paro um pouco a apreciar uma esplêndida amendoeira carregada de milhares de essas florinhas brancas ou rosa pálido que enfeitam as estradas e o campo da minha cidade. Estou tentada a tirar um raminho com estas florinhas para pôr no meu cabelo.

Mas não, não devo fazer isso! E também para que farei tal? Se tirar algum raminho com estas florinhas de perfume tão subtil ao fim de pouco tempo as vossas pétalas perderão o hálito e cairão, enquanto que na mãe-árvore esse raminho, junto a muitos outros, vossos irmãos, formam esta tão linda árvore que, como tantas, é apreciada por mim, pelos meus conterrâneos e por tantos forasteiros que se deslocam cá para vos apreciar, rainhas do inverno!

Acho que mereceis bem esse cognome, pois que tantas pessoas se deslocam das suas casas em passeio para vos apreciar e sentir o vosso perfume.

Que estranho! Vós unis este Portugal, pois vos encontrais apenas no seu Sul e Norte. E isso faz-me pensar que, como vós, o amor une as pessoas que se encontram longe das suas amadas.

Como vos pareceis com coisas tão belas, sublimes e, ao mesmo tempo, singelas.

Bem-aventuradas sejais, amendoeiras do meu Portugal!
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Lagos, Fevereiro de 1973 com dezassete anos

Neve perfumada


Gente que passais apressada
Sem saberdes o que é viver,
Já vistes as amendoeiras
Com seus raminhos a florescer?

Olhai bem para essas flores
Tão belas e tão singelas.
Oh! Não lhes façais mal algum
Vede as pétalas tão belas!

E seu perfume delicado
Aspirá-lo enche os pulmões;
Que bela e linda paisagem
Elas oferecem aos peões!

Neve branca e perfumada
Espalhada pela estrada,
Vós também dais as boas-vindas
À primavera que não tarda.

Amendoeiras, flori, flori
No meu Algarve quentinho!
Enchei de flores e beleza
Do meu Portugal, o caminho!
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Lagos, 17 de Março de 1973 com dezoito anos  (composição escolar)

Como aquela mãe chora a acenar para o filho que se encontra já no barco que o levará para longes terras, a África, onde irá defender com honra e heroísmo a sua pátria-mãe, Portugal.
Por que choras tanto, ó mãe?
Bem sei que será longa a ausência e que o teu coração pensa apenas nos perigos que ele irá enfrentar e na incerteza de o tornares a ver ou não. Acena, sim; despede-te dele, mas não com lágrimas que se estão tornando um pranto. Não vês que lhe estás a roubar a coragem e a deixá-lo tão triste. Põe o mais belo sorriso que puderes arranjar para que ele leve para essas paragens a lembrança de uma mãe heróica que soube despedir-se do seu filho com um sorriso nos lábios.
Ele bem sabe que tu o amas e que te custa esse sorriso; mas fá-lo para o bem dele, para o teu bem!
Rapaz, que te encontras dentro do navio a acenar para a tua mãe e teus parentes. Tens o coração apertado pela despedida que fizeste. É tão longa, tão incerta esta viagem!... Cá deixas o teu futuro: tua noiva, talvez tua esposa e filhos e o passado: teus pais, teus irmãos, teus amigos de infância. O teu coração debate-se entre o amor à família que para ti acena e em cada movimento dos seus lenços a brisa traz até ti a saudade, a dor e as lágrimas que seus peitos oprimem e, por outro lado, o amor à pátria que por ti chama porque precisa de ti. Ela deu-te o alimento, o ensino, ... Dedica-lhe tanto amor como dedicas à tua família; ela merece-o.
Vai, bravo militar, não ligues aos choros e apelos que te faz a família. Tens-lhes dedicado e continuarás a dedicar-lhes a tua vida. Dispensa agora uns aninhos à tua pátria.
Vai, cumpre o teu dever e volta feliz e honrado, na certeza do dever cumprido!
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Lagos, 02 de Junho de 1973 com dezoito anos   (composição escolar)

Dia de Portugal

É dia 10 de Junho! Dia da Raça! Dia de Portugal!
Se é dia de Portugal, é o dia da tua pátria. Daquela em que deste os primeiros passos; daquela em que, ao tentares correr e brincar, muitas vezes tombaste e ela, mãe – como nossa mãe que é – ao pressentir que ias cair e magoar-te, tornou o seu corpo macio e assim levantas-te e continuas a correr para espanto dos grandes.
Mais tarde, quando já homenzinho, quantas maravilhas desfrutaste e ficaste maravilhado com a paisagem de Portugal.
Hoje estudas, procuras tornar-te um homem, um homem com letra grande e ela, mãe zeladora e perfeita, dá-te os conhecimentos de que precisas através de si: da sua vegetação, dos seus rios e do que eles contêm, das obras que os teus antepassados lhe ofereceram e que ela guarda com ternura e amor para enriquecimento da tua geração e das gerações vindouras.
Mais tarde, casar-te-ás e então os teus filhos sentirão o mesmo amparo, carinho e protecção que tu sentiste e continuas a sentir porque ela nos ampara e protege pela vida fora.
Quantas vezes triste, saíste do meio do bulício em que te encontravas e onde ninguém te compreendia e foste ter com ela onde a pressentias mais: ao pé do mar ou no campo. Então contaste-lhe as tuas mágoas, por vezes choraste e ela compreendeu-te; tu o sentiste quando, depois de terminado o teu pranto ou a tua exposição de mágoas, olhaste para o céu e viste-o claro, lindo, irradiando luz e calor; olhaste ao teu redor e viste mil e uma florinhas multicolores, árvores com suas folhas de um verde de rejuvenescimento, ouviste os passarinhos com os seus chilreios de paz e alegria.
Ou então, se foste para junto do mar, lençol de águas colhidas pelas mágoas dos filhos que a não souberam amar e compreender; o mar sussurrando um hino de paz e louvor ao Senhor, transformou o teu coração oprimido num coração cheio de compreensão pelo mundo e alegria; os peixinhos, teus amigos, também te quiseram alegrar dando saltinhos e brincando uns com os outros até que, por fim, tu riste, riste e esqueceste todas as tuas mágoas.
Depois deste desabafo com a tua pátria, voltas feliz para o meio daqueles que te feriram e compreende-los, tentando esquecer os incidentes que te fizeram sofrer.
A tua pátria dá-te tudo isto sem condições. Não sejas o filho ingrato que quer aumentar o caudal de mar que ela já possui. Tenta mantê-la bela e sã como tu a conheces. Não permitas que quem a cobiça, ta roube e lhe tire toda a sua beleza. Ela é tua, defende-a dos inimigos que te querem tirar a liberdade de possuí-la e mantém-na jovem, bela e mãe para os teus filhos para que ela lhes dê a paz, compreensão e amparo que tu lhe conheces.
Que a voz de Camões, grande amante da nossa pátria, testemunhando o seu amor a ela, principalmente através dos Lusíadas, chegue até nós e nos aconselhe e guie na continuação de uma pátria livre e bela que todos nós conhecemos.
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Lagos, 02 de Junho de 1973 com dezoito anos

Portugal

Camões! Camões!
Teu nome ecoa dentro de nós
Portugal! Portugal!
Os Lusíadas são a tua voz.

Lusíadas, livro tão lindo
Que ao mundo Portugal mostrou
Nas suas belas páginas
Os heróis portugueses evocou.

Desde Viriato até hoje
Portugueses têm lutado,
Honrado a nossa pátria.

Que assim continuem a ser
Para ninguém se sentir humilhado
Ao gritar bem alto: Eu sou português.
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Lagos, 22 de Junho de 1973 com dezoito anos

Esperança de férias melhores

Férias!
Palavra que soa tão bem ao ouvido; sinónimo de liberdade, de passeios, de adeus aos livros de estudo ...
Nos últimos dias de aulas a palavra férias parece-nos o paraíso, algo difícil de alcançar, que nunca mais chega...
Nos primeiros dias de férias, só nos interessa pular, saltar, brincar, conversar, passear, ...
A nossa consciência pede-nos que gozemos, divertamo-nos o mais possível. Nada de ler livros que dão cabo dos olhos!
Mas passados os primeiros dias de êxtase, estas já não têm tanto valor para nós. Já nos apetece ler uns livrinhos, entre outros, de aventuras ...
Enquanto nos entretemos na leitura de certa aventura, sonhamos que bom seria se nas nossas férias também existissem algumas daquelas aventuras. Que emocionante seria e que ricas férias nós teríamos!
Nas férias passadas na cidade não sucede nada de diferente; nem uma aventurazinha pequenina para variar.
No meu caso, estas que estão a decorrer têm sido passadas na cidade, na minha cidade – Lagos. No princípio, ia todos os dias para a praia e achava pouco o tempo que lá estava, apesar de ser sempre o mesmo tempo que agora passo, mas agora já não me dão tanta alegria aquelas horas que passo estirada ao sol, bronzeando-me um pouco mais ou nadando vagarosamente nas águas calmas e amenas da praia de S. Roque. Gosto de estar lá, mas já não é um gosto tão excitante como nos primeiros dias.
Talvez seja porque sinto a falta das minhas amigas que no princípio me acompanhavam nas minhas idas à praia ou então o desejo que me vai nascendo no espírito de mudar de ritmo, de mudar de actividade ...
Talvez por causa desta ansiedade o dia cinco de Julho ainda me parece tão longínquo.
Que acontecerá nesse dia, 05 de Julho, para o esperares com tanta inquietação? (podes lembrar-te de perguntar-me).
Será o dia do teu aniversário?
Será o dia do aniversário de alguém da família?
Será a chegada de alguém que se encontra ausente?
- Não! (responder-te-ei eu). Nesse dia não acontecerá nada do que possas imaginar.
Será apenas o dia em que começam as actividades para a juventude – dirão as pessoas que conhecem o assunto.
Mas não. Para mim não significa apenas isso. Significa muito mais. Para mim, será o dia em que iniciarei umas férias diferentes; totalmente diferentes daquelas que tenho passado. Aprenderei viola em conjunto com jovens da minha idade ou fotografia; espero conversar com eles e até talvez criar amizades. Quem sabe!
Também tenciono aperfeiçoar-me em natação e lá também tenciono fazer novos amigos.
Ajudai-me, meu Deus, para que os meus desejos se realizem sem desapontamentos.
Dia 05 de Julho, chega depressa!
Estou à tua espera!

N.A.: Quando chegou o dia das aulas começarem, lá estávamos nós todos na hora marcada e no local que nos foi informado pelo Centro para a Juventude para iniciarmos a nossa aula de viola. Esperámos, esperámos e qual não foi o nosso espanto quando a porta se abre e o professor Anatólio Falé aparece e diz-nos que as violas que tem já estão todas ocupadas e não pode receber mais ninguém. Lembro-me que disse que tínhamos chegado de acordo com as horas que no Centro para a Juventude (por cima da Biblioteca da Gulbenkian) nos tinham informado e um dos rapazes até disse: - E eu cheguei antes do tempo. Então o professor mandou-nos regressar ao Centro e informar que ele não tinha mais violas disponíveis. Pouco convencidos lá fomos. A funcionária inscreveu-nos então no curso de Fotografia com o professor Manuel Montes. 
O tempo passou e hoje compreendo o que se passou. As violas foram todas entregues aos alunos que o professor tinha na Escola de Música. Estes cursos de férias tiveram a duração de dois meses e houve uma festa de encerramento das actividades com a presença das pessoas mais importantes da Câmara e o professor Falé apresentou os seus alunos que tocaram várias peças musicais. Claro que isso não poderia ter sido feito por nós que não tínhamos o básico sequer para tocar viola.
O grupo de Fotografia onde nos inserimos fez uma exposição das melhores fotos, todas assinadas pelos autores, nos Paços do Concelho – Câmara Municipal durante uma semana e foram avaliadas por uma equipa de quatro profissionais da matéria que atribuíram os primeiro, segundo e terceiro lugares. Na festa de encerramento, houve a entrega das taças e uma foto minha foi classificada em primeiro lugar. Não fui a esta festa, mas o Sr Manuel Montes entregou-me depois a taça que ainda guardo.

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CONTO

A folha que viajou

Chegou o outono e com ele certos dias de vento e dias em que o sol já não dá tanto calor como no verão.
Num cantinho do Algarve certa árvore, como tantas outras, é sacudida pelo vento do outono despindo-a do vestido que a cobriu na primavera e verão. Esse lindo vestido de verde lindo composto de mil e uma folhinhas que outrora foram tão verdes e que agora já vão amarelecendo; enfim, envelhecendo.
Essas folhinhas tentam agarrar-se aos braços da mãe-árvore:

- Querida mãezinha, não nos abandones. Não permitas que o vento mau nos leve para as terras sem fim. Querida mãezinha, queremos continuar junto de ti. Protege-nos!

A mãe-árvore faz a sua seiva correr com mais força para alimentar as suas queridas filhas para que elas tornem a verdejar e assim se possam aguentar um pouco mais. Um pouco mais – sim! Pobre coração de mãe. Bem sabe que é uma ilusão bastante grande; que de nada serve este tão grande esforço que se encontra a fazer.
Todos os anos se repete. Chegando o outono o vento vem roubar-lhe as filhinhas e deitá-las para o mundo; um mundo que, ao vê-las solitárias, franzinas e sem cor, nem sequer se digna a lhes oferecer um olhar. Espezinha-as, muitas vezes de cabeça erguida caminhando, caminhando sempre, sem no fundo saber para onde: se para o bem; se para o mal.
Crianças vergastam-nas, espezinham-nas, dão-lhes fogo, rasgam-nas sem um fim definido; apenas brincar e ... quanto mais maldade cada um fizer, mais importante será aos olhos dos companheiros.
Triste objectivo este!
Aquele coração amargurado sabe, conhece bem isto tudo. Tantas vezes tem observado este mundo cruel que à sua volta se desenrola. E por fim, num último esforço diz:

- Queridas filhas, bem as queria segurar e mantê-las sempre aqui, junto de mim povoando o meu corpo. Bem queria! Mas este vento maldito não deixa; não nos larga e parece que cada vez sopra mais forte ...

Adeus, queridas filhas, que Deus vos proteja e a sorte vos sorria e que tenham melhor futuro que a maioria das vossas irmãs.
Dizendo isto desatou a chorar, num choro convulsivo e amargurado. Nisto uma das folhinhas, a mais novinha, ainda com algum verde e portanto mais segura do que as outras, diz:

- Querida mãezinha, não chores. Eu fico perto de ti a consolar-te, a conversar contigo. Deixa lá, não te rales; vamos divertir-nos imenso. Bem vês, o vento não consegue levar-me; estou mais forte do que as minhas irmãs. Coitadas, a maior parte já partiu, já se foi; levadas nesse sopro forte do Vento Norte. Para onde, meu Deus?

Arrancadas da mãe, desprotegidas, sem destino. Que triste fim. Mas descansa! Eu far-te-ei companhia. Ele que sopre o que quiser. Dos teus braços não me vai arrancar porque eu não deixo. Não é assim, mãezinha?!

© Sim, minha filhinha, será assim.

- Mãezinha, que bom que é estar ao pé de ti. Tu alimentas-me, tentas brincar comigo, proteges-me e ... ofereces-me o teu amor, o teu amor tão bom sem o qual não saberia viver. Como é bom estar ao pé de ti. E eu também te ofereço coisas. Não é assim, mãezinha? Eu dou-te a minha alegria, brinco contigo e dou-te todo o amor que um coração de folhinha pode conter. Tu gostas do meu amor, não gostas, mãezinha?

© Sim, filhinha. Eu adoro o teu amor porque te adoro a ti. Tu és o sol da minha vida. se não fosses tu com certeza já teria morrido de tanta solidão e desgosto. Eu dou-te a seiva física que te mantém junto a mim e tu dás-me a seiva moral sem a qual eu já não viveria. Que o vento se afaste e nos deixe assim ainda por muito tempo, é o que eu peço aos céus.

- Nós vamos viver ainda muito tempo juntas, não vamos, mãezinha? Sabes, mãezinha, ao ouvir a tua voz; uma voz linda com alguma alegria e esperança, mas também com muita melancolia; essa melancolia trespassou-me e tornou-me também um pouco melancólica. Isso deu origem a que me lembrasse das manas. Que será feito delas? Qual terá sido o seu destino? Já terão morrido muitas?
Quantas perguntas das quais nunca obterei resposta. Como é triste a partida e a ausência de alguém que nos é querido. No auge da nossa alegria e durante os nossos momentos de tristeza, a sua imagem chega-nos e enche-nos de saudade. Faz com que meditemos um pouco sobre a vida e sobre o amor. Pois isto é a vida; a vida é amor e a vida é maravilhosa, não é, mãezinha?

2.ª parte

Algum tempo decorreu. O outono estava quase no fim e o inverno ia-se aproximando e com ele o vento forte e a chuva grossa.
A tal folhinha já não se encontrava tão viçosa e com tanta resistência como na altura em que as outras folhinhas, suas irmãs, partiram. Agora já estava um pouco amarelecida.
Certa noite soprou um vento muito forte e a tal folhinha, que nessa altura estava adormecida, acordou sobressaltada ao sentir-se empurrada e grita:

- Mãezinha, mãezinha, que está acontecendo?

- Mãezinha, o vento está a empurrar-me como da outra vez que nos levou as manas. Vai embora daqui, vento mau!

Mas o vento continuou a soprar, cada vez com mais força e ela, sentindo as forças a faltarem-lhe, exclama muito aflita:

- Mãezinha, o vento vai separar-nos. Vai levar-me para longes terras, afastando-me de ti, do teu coração e do teu carinho. Tu não me podes auxiliar e eu não posso aguentar mais. Como pôde isto acontecer? Nós tínhamos combinado nunca nos separarmos.

Nisto um sopro mais forte e a pobre folhinha lá foi transportada nos braços fortes do vento. Repetiu muitas vezes entre soluços até ficar sem forças:

- Adeus, mãezinha, querida mãezinha. Adeus para sempre!

A pobre mãe viu-a abalar com os olhos rasos de água, a soluçar e nem forças teve para lhe dizer um adeus.

O vento continuou a soprar, levando-a cada vez para mais longe.

A triste e descontente folhinha viu assim coisas que lhe pareceram tão estranhas, esquisitas. Mas também viu outras que, embora tivesse visto apenas de relance, tinham-na encantado.

A certa altura, o vento começou a abrandar até se transformar numa brisa. Então a folhinha foi baixando até que pisou solo, mas coisa estranha para ela; o solo era branco, muito branco como ainda não tinha visto e frio, muito frio como nunca sentira. Pois pudera, aquele chão que ela achara tão esquisito era neve que se tinha formado havia pouco tempo.

A triste folhinha encontrava-se numa encosta e essa brisa fez com que ela fosse escorregando, escorregando. Ela ia dizendo de si para si:

- Querida mãezinha, quantas saudades eu tenho de ti. Parece-me que foi há séculos que esse maldito vento me separou de ti. E que frio, que frio tão grande que sinto. Que falta me faz a tua seiva e o calor dado por ela. Por nada trocaria esse lugar com o calor dos teus braços e o rico cantinho onde nasci, aquecida por aquele solinho sempre quentinho e sempre presente que todos os dias me acolhia.

Quantas saudades, quantas tenho de ti e de tudo isso. Do senhor que nos tratava; do cãozinho que se sentava à nossa frente e se punha a fitar-nos com aqueles olhinhos meigos e inquiridores a verificar se havia algum passarinho pousado nalgum dos teus ramos, querida mãezinha.

E das crianças que à nossa volta pulavam e saltavam e também faziam rodas. As suas presenças, quanta felicidade, nos punham nos corações. E o sol, sobretudo o sol que nos aquecia e fazia sermos maiores e mais fortes e também mais alegres. Como aí tudo é belo e aqui tudo é triste e medonho!

Ao rolar pela encosta a folhinha exilada foi cair num regato que corria bastante depressa por se encontrar numa encosta. E a folhinha exclama:

- Ai, ai, triste de mim! Isto ainda é pior do que aquela encosta em que escorregava. Esta água, sinto-a muito mais fria e já estou toda molhada. Com que força esta água me empurra. Para onde irei agora, meu Deus? Que irei encontrar?

Aquele regato vai engrossando e tornando-se cada vez maior. Pelo caminho a pobre folhinha vai encontrando pedras e exclama:

- Ai, que dores tenho. Não basta a água estar tão gelada senão ainda ir batendo em pedregulhos que me amachucam e quase me desfazem. Ai, ai, quem me socorre?

Gritou a folhinha, mas ninguém apareceu nem ouviu nada além do seu próprio eco. Que fim te estará reservado?

Será melhor ou pior que o das tuas irmãs?

Ou será simplesmente igual?

3.ª parte

As lamentações da pobre folhinha iam decorrendo neste estilo e a triste lembrava-se cada vez mais do seu querido cantinho no Algarve onde nasceu e desta maneira o seu horror àquela terra onde estava, ia aumentando porque embora para os nativos de lá fosse bonita e talvez boa (quem lhe obrigaria a ela dizê-lo?) para ela não lhe despertava a menor atenção. E assim a sua saudade ia aumentando cada vez mais até ao ponto em que ela só dizia:

- Meu Deus, fazei-me este favor. Deixai-me morrer na terra onde nasci; aos pés da minha mãe. Por favor, sim?

E ia dizendo isto entre soluços muito fortes.

De repente, sem ela dar por isso, levantou-se uma brisa que vinha em sentido contrário à corrente da água do regato que empurrava a pobre folhinha. Essa brisa foi aumentando até se transformar em vento forte como o que a trouxe dos braços da sua mãe.

Agora a folhinha solitária encontra-se impelida pela corrente na mesma, mas existe algo que não a deixa correr livremente como momentos atrás – a força do vento. O vento consegue abrandar a corrida em que ela ia, sem querer.

Nisto a folhinha passa por uma queda pequenina desse regato e, sem que a folhinha dê por isso encontra-se outra vez nos braços do vento. A sensação que ela agora sente é bastante diferente da que sentia quando o vento a deslocou do leito maternal para aquele sítio horrível onde nem o amigo sol tinha para a confortar. Esse só aparecia lá muito ao longe e os seus raios tocavam tão delicadamente a água do regato que nem um leve calor o seu corpinho frágil sentia.

Agora sente uma sensação de alívio. Encontra-se confortada nestes braços fortes, pois leva no coração a ténue esperança de voltar a ver a sua terra e a sua querida mãezinha, tão só e abandonada.

Os seus olhos já não choram. O seu corpo já esqueceu os tormentos que passou e, apesar de o vento a fazer andar às voltas, ela agora já vê com outros olhos os lugares por onde passa e já pensa:

- Que lindo jardim aquele! Que engraçado, as crianças a construírem um boneco de neve. Quem sabe, se não fosse este frio, talvez gostasse de morar aqui.

Os seus pensamentos correm assim porque no seu coração já não existe a dor, o sofrimento, o tormento. No seu coração vai aumentando um calor que se vai transformando em alegria à medida que ela vai sentindo o seu corpinho mais quente. Tudo isto porque o sol ia ficando cada vez mais quentinho e ela já se sentia próximo da terra onde nasceu.


4.ª parte

Com que infinita gratidão a folhinha olhava para o céu e imensamente agradecida, pensava que Deus não a tinha abandonado, pois ouviu o pedido que ela Lhe fez com tanto fervor e prestou-Se a atendê-la para felicidade da (pobre) agora rica folhinha.

E ela vai dizendo:

- Que bom sentir de novo este sol tão querido; ver tantas árvores iguais à minha mãe e com tantas folhinhas novas. Terá a minha mãe também folhinhas novas? E aquele regato, como serpenteia alegremente acariciado por este sol tão quentinho. Nem por sonhos se pode compará-lo àquele regato frio e cheio de pedregulhos que me ia desfazendo. Que vejo acolá? Parece a minha mãe!

Oh, meu Deus, será verdade que poderei tornar a vê-la, conversar com ela e deitar-me a seus pés? Como Te estou agradecida. Grata, muito grata, meu Deus.

Efectivamente era a sua mãe que se encontrava a curta distância. O vento, seu amigo, trouxe-a de volta e depô-la a seus pés. A folhinha despede-se do vento dizendo:

- Adeus e muito obrigada por me teres trazido para junto de minha mãe. Muito obrigada e boa sorte!

Voltando-se para a mãe diz:

- Querida mãezinha, não me reconheces? Sou a tua filha. A última a deixar-te. Aquela que te contou estórias e brincou contigo quando tu estavas apenas com ela. Estou esfarrapada e sem cor. O gelo queimou o meu vestido em certos lugares; mas, mãezinha querida, não me reconheces?

© Claro que te reconheço, minha querida filha. Os olhos de uma mãe reconhecem sempre o que lhe pertence. Querida, como estás estranha! Pensei tanto em ti! Senti tanto a tua falta! Agora a primavera já me deu novas filhinhas para as alimentar e ajudar a crescer, mas nunca me esqueci de ti nem das tuas irmãs. Ainda sinto a dor que a vossa partida me causou.

Mas estou a aborrecer-te. Deves ter imensas coisas para me contar. Deves ter vivido imensas aventuras. Querida, conta-me tudo que estou ansiosa por ouvir-te. Conta-me, sim?

E a folhinha, que outrora se encontrava nos braços de sua mãe com o seu vestido muito verde, impecável; encontra-se agora a seus pés com um vestido todo roto e sem cor. Mas em seus corações nada disso interessa, nem sequer repararam. O que interessa e muito é encontrarem-se de novo juntas matando saudades, tantas!

A sua mãe ouve atentamente as narrativas e não menos interessadas estão as suas novas irmãzinhas que se extasiam, maravilhadas com tantas aventuras. Terminada a narrativa a folhinha diz:

- Ai, como me sinto cansada. Mãezinha, posso deitar-me a teus pés e tu agasalhas-me e abrigas-me do vento? Que bem me sinto aqui! Que sono! Até logo, queridas manas e mãe.

Assim a folhinha que parecia ter um destino igual a tantas outras, regressou para junto de sua mãe e do seu sítio e ali viveu o resto dos seus dias, alegre e feliz, até se transformar em cinzas e desaparecer.

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Lagos, Julho de 1973 com dezoito anos

Cantinho Abençoado

Que bem e feliz me sinto
Neste cantinho do lar materno.
Aqui penso, recordo e pressinto
O que será a minha vida
E sentada escrevo o que se passa no interno
Do meu coração e da minha alma.

Nestes momentos de quietude
E solidão lembro as férias
Diferentes que passei em plenitude.
E sem deixarem de ser lérias
As recordo, estas ligando
Ao meu futuro e procurando raízes
Em certos gestos e palavras
Que o vento foi levando.

Futuro, bola de cristal opaca
Que constantemente tentamos abrir
Mas por mais que se tente,
Só parcialmente o podemos construir.
Serás belo, feliz? mas o presente
Não o deixa sequer bulir.

Meu futuro, futuro meu
Sem o qual não viverei
Diz-me em qual sonho meu
O teu rosto eu verei.

Lagos, Outubro de 1973

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Sol

Sol, luz bem-aventurada
Do nascer ao seu pôr,
Dado por Deus a todos os homens
Para mostrar quão grande
E puro é o Seu amor.

O dia com o nascer do Sol começa
Assim como a faina de todo o ser:
A flor suas pétalas estende,
Os passarinhos seus chilreios soltam;
E não existe nada que impeça
A maravilhosa coisa que é viver.

Lagos, Outubro de 1973

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Coração Sonhador

Que passarinhos
Alegres e voadores
São os meus 18 anos
Tão sonhadores.

Deram-me um nome
Um ser me descreveram
E com toque de magia foi tornado
Em meu príncipe encantado.

Carta, querida amiga
Vê se na realidade
Esse ser me foi dado
Por Cupido, em verdade.

Vai depressa à sua mão
Traz depressa companheira
Que me abra dele o coração
Para aí plantar minha roseira.

Coração que doido és
Imaginando coisas tais
Que à nascença podem morrer
Como sucedeu a sonhos iguais.


Coração, voa baixo.
Lava-te com realidade.
Não tragas mais ilusões;
Traz um amor de verdade.

Silves, 24 de Novembro de 1973

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Comboio das 14:08h

Comboio das 14:08h
Vagaroso e sonolento,
Pareces uma lesma
A caminhar, lento ... lento ...

Tuas paragens,
Tua corrida
Sem velocidade
Desloca-nos no tempo
Aos anos remotos
De reis e fidalgos.

Que desperdício de tempo
Nas tuas carruagens
Sentarmo-nos;
Mas talvez não seja tanto
Pois dás tempo
Para pensarmos.
Mas no entanto
O dia está tão lindo!
Nem parece dia
De fins de Novembro.

O céu claro e limpo,
Um sol bem quentinho,
Árvores e campos
Verdejantes,
Um desejo enorme de passear.

Mas tal não farei
Porque tenho apetite
E para casa irei.
Assim esse passeio
Tão bom e agradável
Será guardado
Para hora memorável.

Lagos, 28 de Novembro de 1973

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Isabel, minha colega


Choraste,
Isabel
Choraste;
Porque pensaste
Que o teu sol
Deixou-te
E partiu.

Voltaste,
Isabel,
A rir, a brincar
Porque o teu sol
Não te abandonou,
Mas sim, voltou
A mais te amar. 

Pulas e ris
E brincas agora
E pela vida fora
Assim farás;
Porque para te aquecer
E compreender
O teu sol terás.

Lagos, 30 de Novembro de 1973

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Tarde no castelo

Ar puro
Sol quentinho
De tarde de inverno
Aqui se aspira
Aqui se sente.

Que quietude
Por aqui se sente
Que paz entra em nós.
Bem hajas, D. Sancho,
Rei dos nossos avós.

O vento perpassa
Pelas folhas movendo-as;
Ouve-se uma canção de embalar ...
Vozes de crianças soam
E eu encontro-me a voar.

Tarde de inverno
Em mim ficarás
Como esse bater de asas
De pomba voando
Não sei para onde.

Silves, 26 de Dezembro de 1973

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Os meus porquês ...

Hoje estou cheia de porquês ...

Apetecia-me escrever-te e relatar-te tudo o que sinto: os meus anseios, os meus desejos, a minha necessidade de voar ... de ser livre.
Poderia eu dizer-te isto tudo?
Poderei contar contigo como meu outro eu?
Até aqui os meus gritos não têm passado de mim correndo em circuito fechado, mas sinto que não poderei continuar assim por muito tempo. Sinto-me rebentar ...
Preciso de alguém a quem contar os meus desesperos; que me dê a razão dos meus porquês; que me dê a vida porque eu só tenho vegetado. Serás tu esse alguém?
Ou vejo em ti esse alguém apenas porque estou quase a explodir e tu me surges como tubo de escape.

Quando terei a certeza de o ter encontrado?
Quando o encontrarei?
Alguma vez tal sucederá?
Quando poderei gritar cá para fora tudo o que sinto?
Mais perguntas sem resposta que hoje têm aflorado em mim.

Por que razão tenho cabelos brancos apenas com dezoito anos?
Por que razão não posso pintá-los, se tantas os pintam sem tê-los?
Por que hei-de ter sempre algum desespero, alguma apoquentação que me impeça de ser feliz?
Por que não posso usar os cabelos brancos que na minha cabeça apareceram sem eu os querer?1
Qual a diferença entre os ter agora ou quando já for velhinha?
Quererá dizer que não chegarei à idade dos cabelos brancos?
Que me importa morrer agora, se eu não vivo; se ainda não vivi.

Por que razão me apoquento com eles se há quem pinte os seus de branco?
Por que razão não posso ir passear sozinha pelos campos e praias?
Por que razão não posso ir ver o futebol sozinha?
Por que razão não posso viver sozinha?
Por que razão sinto falta de alguém?
Que me impede de correr, saltar e de gritar todas as mágoas que povoam o meu coração?
Porquê esta ânsia de não sei quê que não me deixa ser feliz?

Se analisar bem, não existe directamente nada que me impeça de fazer o que desejo; o que me impede é apenas a sociedade representada em mim pela consciência (que em mim é tudo) e que me mantém presa, encarcerada numa prisão onde daqui a pouco não poderei nem respirar.
Preciso de alguém a quem contar tudo isto; que me conte também os seus problemas; que me fale e discuta os meus problemas para que eu ouça outra voz que não seja a da minha consciência ou do meu eu; que me compreenda e me ajude a dar um passo em frente de tudo isto. Que me ensine a viver!
Se existe alguém que completa o meu eu por que não aparece e me diz:
- Estou aqui! Sou quem tu esperas há tanto tempo. Conta comigo! Sou o teu amigo fiel, o companheiro da tua vida. Ajuda-me a viver que eu ensinar-te-ei a viver. Não sejas mais infeliz. Tens-me aqui; tens-me a mim.
Se tens de aparecer, aparece já! Não demores mais porque não poderei esperar muito mais tempo.
Se tu não existes; se não virás, meu Anjo da Guarda, ajudai-me a viver de maneira diferente; dai-me o caminho da felicidade que está reservada para mim; mas, por favor, não me façais criar ilusões que para mim são cruéis.
Não posso viver mais tempo com o coração fechado na mão, trancado à chave. Se tens de vir, vem já!

Lagos, 02 de Fevereiro de 1974

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Que sei afinal?

Que é a vida?
- Não sei!
Que é ser livre?
- Não sei!
Que é amar?
- Não sei!
Que sabes, afinal?
- Apenas sonhar!...

Lagos, 13 de Fevereiro de 1974

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A vida por mim esvoaça
Sem dela me aperceber;
Assim como esta paisagem
Que por mim passa a correr.

Lagos, 21 de Fevereiro de 1974

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With the baby’s birth
Begins a new life,
A young being in the Earth
Has just arrived.

(À minha correspondente americana)

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Borboleta

Borboleta voando
Para onde irás?
O além será o objectivo
Sem objectivo preciso
Do teu caminho.

Em flores tu poisas
E o seu aroma aspiras,
E vais levando a vida
Voando, aspirando e poisando
Em belas e singelas flores.

O teu último suspiro
Ninguém o vê ou sente,
Mas apesar de ti dizerem mal,
Tu fazes parte da natureza
De tudo o que é natural.

Muitas vezes o meu pensamento
Acompanha-te e contigo
Gostaria de ir voando,
Ser livre e leve como tu
Em Amor o mundo transformando.

Mas sou outra espécie de ser
Aquele que tem inteligência
E preso à terra vive,
Mas meus pensamentos esvoaçam contigo
E a liberdade em mim revive.

Adeus, borboleta,
Companheira da minha alma!

Silves, 21 de Fevereiro de 1974

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Carnaval de 1974

O Carnaval por mim passou
E dele não me aproximei,
Mas ele ao pé de mim veio
E para mim representou.

O enterro do Entrudo
Ao pé de mim passou
E eu ri maravilhada
Com o que ali se mostrou.

Um homem com uma cruz e um pincel
Molhando num balde de água
A todos baptizando
E molhando com grande mágoa.

Este acompanhado do sacristão
Lá seguia à frente do morto,
Acompanhado de gritos e choros
Lá ia muito sério e absorto.

A pobre viúva, coitada, com vestido
Vermelho e lenço preto,
Com grande sentimento e gritaria
Lá seguia no cortejo.

Homens, mulheres e crianças
Mascarados por mim desfilaram
E a sua alegria espontânea
A todo o mundo mostraram.

Um grupo de três rapazes
Alegres e muito divertidos
Tocaram e cantaram
De mulher vestidos.

Todos me divertiram
E me deram alegria
Mostrando-me o Carnaval
Que sem eles não veria.

Pessoas enfarinhadas
Todas branquinhas
Esfregas deram e receberam
Até as criancinhas.

Isto tudo vi e apreciei
Sem da minha casa me deslocar,
Pois os meus pais não me deixam
Nas festas de Carnaval entrar.

Obrigada, meu Deus,
Pelo Carnaval que me deste,
Que me lembrou que sou
Uma rapariga de 18 anos
Que Tu fizeste.

Lagos, 28 de Fevereiro de 1974

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Um dia recordando outros ...

Hoje, Quarta-feira de Cinzas, está um dia maravilhoso de primavera com um céu azul límpido, um sol ameno e uma brisa vagueando; enfim um dia maravilhoso para passear.
E eu que gostaria tanto de ir dar uma volta por aí e tirar fotografias! Encontro-me aqui sentada no terraço da minha casa a gozar este fresquinho e a desabafar escrevendo porque não posso ir passear.
E não posso ir passear porque a minha amiga Augusta que anda em Medicina, vai agora embora no comboio das 17:00h para Lisboa porque tem dia um exame de Ecologia e, por isso não posso ir passear com ela. Também aos meus pais não lhes apetece ir passear e encontram-se ali para dentro sentados no sofá: o meu pai quase a dormir, a minha mãe a fazer renda e os meus irmãos a ler o Tio Patinhas.
Estou farta de lhes dizer que, quando for independente, me pagarei destas restrições todas que me fazem. Mas realmente apetecia-me imenso ir dar um passeio como os que dei no sábado e no domingo, dias vinte e três e vinte e quatro, com a Augusta e com o namorado e o irmão dela. Só me faltou a máquina fotográfica e hoje apetecia-me imenso tirar fotografias.
No dia vinte e três, por volta das 18:00h fomos passear pela avenida até ao cais. Subimos ao miradouro da Praia Formosa. Conversámos com o Júlio Barroso e a Ana Maria Quintas. Voltámos pelo centro da cidade e regressei a casa cerca das 19:30h muito contente e feliz porque é destes passeios que gosto.
No dia vinte e quatro, um pouco mais cedo, fomos passeando até à Ponta da Piedade. Esperámos até ver o sol desaparecer completamente no horizonte e regressámos apanhando, pelo caminho, lírios do campo e mimosas. O sol pôs-se às 19:15h e cheguei a casa perto das 20:00h.
Fiquei maravilhada com o passeio e senti uma grande paz de espírito e felicidade tranquila. Soube-me tão bem ir andando devagarinho, ouvindo o canto dos passarinhos e dos grilos e sentindo aquele puro ar campestre e o sol tão ameno.
Era um destes passeios que me apetecia dar hoje. Amanhã já terei aulas e começará a vida do dia-a-dia com pontos próximo, já marcados. Nestas férias é a primeira vez que escrevo ou leio. Tenho arrumado a casa, feito renda, tudo o que não faço em tempo de aulas.
Tenho muita pena de não ter recebido ainda carta do meu correspondente em resposta da que lhe escrevi no meio do mês de Janeiro, mas já não lhe escrevo enquanto não receber resposta. Se calhar nunca receberei e tenho pena por isso.
Ouvindo música e escrevendo ou lendo eis como me parece que passarei esta tarde de Quarta-feira de Cinzas, tão linda em que me apetece passear e tirar fotografias e me encontro aqui sentada com os meus dezanove anos se aproximando cada vez mais.
Tanta gente se diverte e goza, mesmo essas que estão quase à espera que o seu bebé nasça. Só eu não!
Adeus, mocidade, que não vivi e que vai desaparecendo sem eu dar por isso porque não vivo ...

Lagos, 28 de Fevereiro de 1974

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Eu sou alguém!

Quem és tu?
- Eu? Alguém!
Para seres alguém
Tens de trabalhar
E contribuir
Para o progresso.
Só assim és alguém ...

Pois sim.
Eu faço por isso.
Por isso me considero alguém;
Alguém que procura
Fazer bem a outrém
Progredir e contribuir
Para melhorar o seu país.

Tento marcar
A minha presença
Neste mundo em desequilíbrio,
Mas com fé e equilíbrio;
Tentando entrar no grupo
Dos que o tentam equilibrar
Sem o menosprezar.

Para que possa gritar:
- Neste mundo sou alguém!
Com verdade e firmeza
Aqui deixo a minha presença
E com ela me desvendo
Assim como o povo
Que em mim estão vendo!

Lagos, 23 de Março de 1974

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A liberdade da mulher existe?

Que é a liberdade da mulher?
Onde está a sua liberdade?
E a felicidade
Quando para ela chegará?

Quando é livre
Quer prender-se, pois
Julga que a felicidade
À porta bateu.
Ao prender-se
Vê que a felicidade
Deixou fugir.

Esse a quem ama
Não a trata como um ser,
Mas como objecto
Sem valor ou direito.

Ela submissa
E obediente ao amado
Perde a vontade,
O amor-próprio;
E torna-se menos
Que um objecto:
Torna-se uma escrava
Sem opinião ou direito.

Ao buscar a felicidade
E quando pensa possuí-la
Ela já não existe,
Nem sombra dela.
A mulher que dantes
Tinha opinião e direitos
E regateava por eles;
Perdeu-os de vista
E chega ao ponto
Em que pensa que eles
São parte de um sonho.

Sacrificando a vida
Inteira pelos filhos,
Só encontrará a felicidade
Quando o céu lhe levar
O ente que ela julgava
Ser o seu amado;
E ao governar-se sozinha
Sem a necessidade que o filho
Um bocado de pão lhe dê
Para tapar certo vazio.

Que infelicidade ser mulher,
Pois a felicidade para si
É uma nuvem que nunca
Dela se aproxima
E que, quando a tem
Não a reconhece
E só muito tarde
Ou nunca a poderá apreciar.

Existirá a felicidade
Para a mulher?
- Duvido!

Lagos,05 de Abril de 1974

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Quinta-feira Santa

Nesta Quinta-feira Santa
Que paz de espírito
Em mim entrou ...
Sinto-me leve voando
Suavemente ... e melancólica!

Faz hoje 1974 anos que Jesus
Sofreu os maiores tormentos.
E talvez por isso
Em meu coração
Eu sinto lamentos.

Mas apesar desta tristeza
Infinda, mas calma que sinto;
A tua imagem está em meu peito
E sinto uma vida de compreensão
E felicidade para nós.

Analiso e torno a analisar
O que sinto, o que em mim
Se encontra a passar:
Que será isto? Amor?
Necessidade de amar?

De pensar em alguém?
Do meu coração entregar?
Que sentirá ele por mim?
Qual será o seu pensar?
Ainda não te vi.
E o meu coração?

Lagos, 11 de Abril de 1974

25-04-74
A Liberdade libertou-se ...

À memória do Dr. Mealha

Sonho, amargura ...
De mãos dadas andam
Pelas terras de Portugal.
Desprezo, escárnio
Para os que fizeram mal.

Liberdade! Vitória!
(Mas não é para todos.)
Na prisão vão ficar
Os da PIDE que maltrataram
Os que para lá iam parar.

Vinganças se efectuam
Culpa-se quem não é;
E por isso o sub-Director
Mealha dá fim à sua vida
Numa corda, longe do Redentor.

Ele escreveu: Em paz
A minha consciência levo.
Meus filhos, podem de mim
Orgulhar-se, pois nunca
Denunciado foi alguém por mim.

Estou inocente. Não me culpem
Injustamente, pois para isso
Não têm motivo. Perdoem meus gritos,
Lembrem-se de mim com amor
E ajudem sempre os aflitos.

Morreu no dia 02 de Maio de 1974

Lagos, 04 de Maio de 1974

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Reuniões ... Ideias ....

Desde o dia vinte e cinco de Abril que o país anda em alvoroço. Pedem-se reivindicações, fazem-se assembleias, procura-se e prende-se os da PIDE, fazem-se reformas: na sociedade, no ensino, no trabalho, ... em tudo. Todas as escolas estabelecem reuniões para formar associações ...
A escola de Silves não se pôs de parte (porque nem se podia pôr) e começou por eleger os delegados de turma. Estes indivíduos foram eleitos por sufrágio directo nas turmas. Na minha turma eu tive quinze votos, a Conceição Pina cinco votos, a Fernanda Guia quatro votos, a Vitória três votos (parece-me), ...
Como foi ordenado dois delegados em cada turma, a minha turma tem como delegadas eu e a Conceição.
Depois de eleitos os dois delegados de turma em todas as turmas da escola que são à volta de vinte e sete, fez-se uma reunião dos delegados de turma de cada curso para se escolherem entre eles os representantes de curso, que foram quatro para cada curso. Somente o Complementar tem seis representantes por ser o curso que possui mais turmas. Os cursos são Complementar, Indústria, Comércio, Secções e Nocturno.
Na reunião dos delegados de turma do meu curso (por sufrágio directo) foram sete votos para António Luís Grade, cinco votos para mim, quatro votos para a Conceição Pina, dois votos para António Martins Alfarroba. Portanto o curso Complementar ficou representado pelos quatro que tiveram mais votos.
De seguida estabeleceu-se outra reunião dos representantes do curso para distribuir os trabalhos destinados à formação da assembleia: uns foram incumbidos de ir para a mesa, outros de apresentarem e defenderem as propostas, outros de vigiarem pelo bom funcionamento da assembleia, outros de escreverem e colocarem os papéis a afixar.
Tudo preparado deu-se a assembleia que foi hoje; deu-se esclarecimentos sobre alguns pontos e abriu-se a sessão. Fizeram-se propostas; houve barulho e terminada a aceitação da proposta um aluno do curso complementar de Mecanotecnia foi dizer umas palavras. Entre o que disse no discurso afirmou que o homem trabalha para o futuro e a mulher só pensa em amor e casamento. Também que a mulher só pensa no homem. A mulher olha para o homem como animal.
Não se pode admitir que em fins do século XX, próximos do século XXI existam homens que pensam desta maneira e mulheres que dão aso a que eles pensem assim. Não se pode admitir!
Temos de esclarecê-los numa reunião!

Lagos, 24 de Maio de 1974

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Quatro dias de greve

Na segunda-feira, dia vinte e sete de Maio, fomos eu e o meu irmão Helder(pois andamos sempre na mesma turma) de camioneta até à escola e qual não foi o meu espanto e dos outros colegas que vinham na camioneta, quando em hora de aulas, vimos todos os nossos colegas no recreio e no jardim. Perguntei aqui e ali e alguns responderam-me que estavam em greve.
Mandaram-nos para o ginásio e lá disseram-nos que estávamos em greve para fazermos com que o ministro aprovasse a proposta de dispensarmos com dez valores e irmos a exame com oito ou nove e também porque todas as escolas no país estavam em greve, então era preciso dar-lhes apoio. Assim decretou-se a greve oficialmente e foram nomeados piquetes. Começaram as reuniões de explicação. Comecei a chegar a casa às 19:00h enquanto em tempo de aulas chegava às 15:00h e a ir à mesma hora para a escola como sempre. Chegava a casa com a cabeça cheia de barulho e dormia um bocadinho para aclarar ideias.
Foi uma delegação de alunos (entre os quais eu) apresentar a nossa proposta que era a primeira proposta numa reunião de professores. A partir da nossa proposta surgiram outras propostas tais como:
Segunda proposta: nas disciplinas de passagem os alunos ficariam prejudicados. Devia-se baixar a média, neste caso até oito. Portanto nas disciplinas de passagem o aluno passaria com média de oito.
Terceira proposta: como se anulava o terceiro período não haveria pontos neste período porque se tinha dado pouca ou nenhuma matéria e todos andavam excitados. Também não haveria exames porque não se encontrariam em condições de fazê-los.
Esta reunião começou às 10:00h e às 12h e picos fez-se a votação para aprovação da terceira proposta: na qual toda a gente passaria, não haveria exames e só faltou um voto para atingir os dois terços e portanto ser aceite. Aqui interrompeu-se a reunião e fomos almoçar. A reunião recomeçaria às 14:30h.
Depois do almoço já vinham com a proposta bem entendida e puseram-se as três propostas à votação. Começou-se pela última, a terceira e houve agora apenas doze votos incluindo seis votos dos alunos. Como um almoço pode mudar tanto as opiniões havendo quarenta e nove pessoas, segundo ouvi; de quase dois terços passou-se a doze.
A proposta que teve mais votos foi a dos alunos, a primeira. Depois de muita conversa e discussão foi essa proposta que foi enviada para o Ministério da Educação e Cultura. Saímos desta reunião às 16:20h já se pode imaginar a discussão que houve e a divergência de opiniões para durar tanto tempo. Além disto houve mais reuniões de alunos.
Na quarta-feira dois colegas nossos foram a Lisboa para participar na manifestação em frente do ministério e no outro dia, pelas 11:00h vieram-nos dar a notícia. Havia uma grande alegria espelhada naqueles rostos e muitas palmas e risos de alegria. Aquele ginásio estava cheio de felicidade. Depois das palmas e risos sucederam-se os gritos de vitória. Não consigo descrever a felicidade que sentia, inebriada pelas ondas de felicidade que vinham daqueles rostos. E sem precisar destes favores, eu estava felicíssima.
Na manhã desse dia, antes deles virem, alguns já queriam que as aulas começassem e diziam que, se a escola de Faro tinha acabado a greve, que nós também devíamos e que nem tínhamos querido a greve. Mas isto tudo morreu quando eles vieram com a notícia.
Na quinta-feira, às 13:30h já as aulas começaram. Só tinha feito dois testes até à greve, já não fiz mais nenhum. As aulas deixaram de ter a frequência de todos os alunos. Já não nos deram mais matéria. Passou-se o tempo a alguns alunos fazerem testes facultativos e a frequentarem a escola como eu.

Lagos, 31 de Maio de 1974

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À Isabel

Isabel:
Dezassete anos passaram
Inda agora nasceste;
Tens uma longa vida à tua frente.
Sabes que a vida é uma estrada?
Uma estrada com alguns pedregulhos
E covas, com certeza;
Mas terá muito mais sol,
Flores das mais lindas,
Muita amizade e amor.
Equilibra-te nas covas e pedregulhos
E passa depressa por cima deles
Que não te ferirás.
O sol e as flores
Esperam ansiosos
A tua chegada.

Lagos, 07 de Junho de 1974

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Solidão

Sinto-me apática!
A espera invadiu meu coração.
Não existe sol em mim
Como não há na Terra.
O que gosto de fazer, não faço
(desporto, passear, conversar, ...)
A solidão mora em mim
E encontro-me a mim mesma
Em sonhos, ilusões, devaneios
Que não os aceito porque o meu eu
De realidade encara-os como impossíveis.
Não vivo, apesar de comer,
Dormir e andar.
Encontro-me na Estratosfera!

Lagos, 29 de Junho de 1974

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Espero

Espero ...
(ensinaram-me a esperar)
Pelo sol, pelo céu limpo de nuvens
Pela amizade, pelas amigas
Apesar de tantas vezes as achar vazias,
Mas elas dão-me alegria,
Fazem-me passear e divertir
E eu torno-me mais terra a terra
Mais social
Abandonando a minha solidão.
Vai-te embora, solidão!
Não te quero junto a mim.

Lagos, 29 de Junho de 1974

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Quero

Quero sol e alegria
Quero mansidão e mar
Quero rir e conversar.
Quero esperança
Quero confiança
Num amanhã melhor.
Quero poder acreditar
Quero amizade e amor
E quero amar, amar, amar ...

Lagos, 29 de Junho de 1974

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Não é isto o Paraíso?

Que paraíso
Maravilhoso e lindo
É este dia.
Mar e céu
Confundem-se
Tão límpidos e azuis
Estão. Que fantasia!
Aves chilreiam
Poisadas em verdes ramos;
Flores belas
E singelas
Cujo perfume aspiramos.

Não é isto o paraíso?
Que mais se pode desejar?
Mas paraíso ... paraíso ...
Sinto-te tão perto
Mas não estou dentro de ti.
Parece-me andar
Numa redoma de vidro
A voar ... a voar ...
E a te admirar!

Em casa me encontro
Como prisioneira
De qualquer feiticeira
Que me quis amaldiçoar.
Meu príncipe ... meu príncipe ...
Quando me vens libertar?
Pois contigo quero viver
No nosso Algarve tão lindo
E com os passarinhos
Cantar ... cantar ...

Lagos, 21 de Julho de 1974

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Maria Lamas

Maria Lamas
Tu és excepcional:
És Mulher
És político
És alma bondosa
És alguém, afinal.

Gostas da solidão
(como eu)
E precisas de conviver,
De contactar.
Enfim, amar
E ajudar os outros
(como eu).

Sabes
Tu tens sessenta e nove 
E eu dezanove
Anos de idade;
E como gostaria
De contigo falar,
De contigo aprender
Tudo o que sabes.

Tenho a certeza
Que as tuas vivências
Minhas se tornariam
Tu em mim verias
O teu futuro prolongado
E tu para mim serias
A base da nossa ambição
As pedras do meu passado.
Lagos, 31 de Agosto de 1974

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Divagações

Sol, terra e mar
Vida, flores e luar
A natureza!

Um par passeia
Um pássaro chilreia
Ouve-se murmurar!

Uma criança canta
Uma rosa encanta
Há amor no ar!

Velhinhos sentados
Com o sol deleitados
A paz a entrar!

Passeios no jardim
Com árvores e jasmim
Primavera a chegar!

Lagos, 02 de Novembro de 1974

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Pensamentos

A alma
É como a flor:
Ora está radiante
Ora triste e desfolhada
Ora esperando
Que floresça,
Impassível.

Há momentos
De tristeza e melancolia
Assim como outros
De felicidade e alegria.
Há momentos
De impassibilidade
E outros de animosidade.

Existem tantos
E tão variados
Estados de alma
Que não chego a compreender
O que realmente quero
O que realmente sinto
O que realmente espero.

Umas vezes desejo
Viver ... viver longo tempo;
Amar e ser amada
Num cantinho maravilhoso
Ao pé da praia
E bastante espaçoso.

Outras vezes é a morte
Desejo agudo e forte
Que o meu pensamento
Açambarca.
Ninguém me compreende,
Não existe amor na Terra
Somente falsidade.

Como desejaria
Destas vagas sair
Colocar os pés em terra
E dizer: - Quero viver
Porque existe amor.
Ou então: - Quero morrer,
Pois só há falsidade.

Lagos, 01 de Outubro de 1974

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CONTO

A Vida ... as pessoas ...

Linda Mónica era uma linda princesa de cabelos loiros e olhos azuis que morava num condado na Suécia.
Na primavera, quando o jardim se enchia de flores, as árvores de folhas e em seus ramos passarinhos chilreavam, Linda gostava imenso de sentar-se num banco deste jardim ... contemplar o céu, as flores e pensar ... pensar no mundo e nas pessoas.
Como ela achava estúpidos aqueles homens que sem nenhum interesse pela verdade fervilhavam em volta de seu pai, lisonjeando-o pelas mais simples coisas; somente para adquirirem a sua simpatia e assim aguentarem-se no seu cargo ou passarem para outro melhor.
E aquelas aias a falarem desta ou daquela sobre a sua vida particular; a criticarem este acto ou aquele que determinado cavaleiro ou donzela fez que trespassou as normas estabelecidas pela sociedade.
Como eram enfadonhos todos eles ...
Como ela os detestava ...
E pensava:

- Por que são as pessoas tão cretinas?
- Por que não se ajudam mutuamente em vez de pôr de parte a pessoa em apuros?
- Por que não amam a verdade e não praticam a verdade?
Ao pensar nisto ficava triste. Quase tinha vontade de chorar. Não encontrava significado na vida. Que lhe interessava viver se não encontrava amor, compreensão; se só via nos outros aversão pelo próximo, malvadez e ruindade.
Linda também gostava imenso de cavalgar e quando surgiam lindos dias de primavera ela vestia-se de amazona e atravessava o monte cavalgando até à beira de um ribeiro que corria no sopé deste.
Levava longas horas a olhar a limpidez da água, os passarinhos a saltitar de ramo em ramo nos salgueiros; a luz do sol reflectido nas águas ... enquanto que o Marialva provava a água do regato ou comia feliz as tenras ervinhas que por ali havia.

2ª parte
Certo dia, encontrando-se a sós com os seus pensamentos ouve o relinchar de um cavalo e, olhando em frente repara que, dando de beber ao seu cavalo, está um viajante jovem. Ela olha para ele e ele, talvez sentindo esse olhar, olha também na direcção dela. Enquanto ela continuava sentada, ele pega no seu cavalo e dirige-se para ela.
Ao chegar ao pé dela cumprimenta-a e pergunta-lhe se ela lhe pode indicar o caminho para o castelo. Ela diz que sim e que até pode acompanhá-lo, pois vai para lá. Todo o caminho vão trocando ideias ... conversando e ... simpatizando um com o outro.
Ao chegarem perto do castelo ele pergunta-lhe para onde ela se dirige, pois gostaria de acompanhá-la e não haveria o perigo de se perder porque já tinha aprendido o caminho para o castelo. Então ela diz-lhe:

- Agradeço-lhe imenso a atenção, mas o meu caminho é o mesmo que o vosso, pois eu moro neste castelo. Sou a filha do rei.
O viajante fica bastante surpreendido e não diz nada porque o seu coração paralisou e segue em frente.

3ª parte
Este viajante e a sua conversa ocupam a mente de Linda todo o dia e todos os dias.
Dois dias passaram e logo pela manhã Linda é acordada por uma notícia dada pela sua aia mais amiga que a deixa muito contente: seu pai nessa noite dará um baile em honra do recém-chegado, pois este é um príncipe que veio pedir a mão da princesa ao rei.
Linda, nessa noite, pôs o mais belo vestido que tinha e penteou-se da maneira que lhe ficava melhor para comparecer no baile. Nessa noite era a mais linda rapariga que havia no baile e, além disso, dançou toda a noite com o príncipe o que a deixou maravilhada. E conversaram muito ...
Que noite maravilhosa, encantada foi esta. Ao terminar o baile a princesa dirigiu-se para os seus aposentos e continuou a bailar e a cantar ... até a aia lhe dizer que já bastava e que agora tratasse de dormir. Linda bem foi para a cama, mas qual quê dormir ... o seu coração e a sua cabeça estavam demasiado felizes para dormirem. Chegou a manhã e não tinha pregado olho ...
O casamento fez-se daquele dia a seis meses.

4ª parte
Foi um casamento lindo, pomposo, próprio de uma princesa linda e feliz.
Agora Linda continua a sentar-se no mesmo banco do jardim e também na margem do rio e continua a pensar ..., mas os seus pensamentos são diferentes. Agora ela sonha com a felicidade, sente a felicidade no ar, nas flores e nos passarinhos e certas vezes tem companhia: a do marido e amado que a acompanha nos pensamentos e palavras e lhe dá muito amor ...
Daqui a pouco os seus pensamentos já não poderão vogar pelo ar assim livremente. Haverá crianças, mãozitas de crianças a puxarem pelo vestido ou pela mão convidando-a a brincar com eles. Outras vezes serão crianças no colo a lhe darem beijinhos e a fazerem-lhe festinhas. E a felicidade permanece ...
E assim certa vez, existiu felicidade numa pequenina parte do mundo.

Lagos, 11 de Dezembro de 1974

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Feliz aniversário

Nesta manhã clara e bela
Aproximas-te da janela
Olhas ao redor
E que vês?

Andorinhas sobrevoando
Que te vão anunciando:
- Feliz aniversário!
- Feliz aniversário!

As amendoeiras florindo
Com seus botões abrindo
Dizem-te: - Muitas felicidades
Reunidas a muitas amizades!

E o sol bem ardente
Olha para ti mui contente
E diz-te: - Muitos anos de vida,
Minha querida amiga!

Lagos, 06 de Fevereiro de 1975

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As eleições

Em Janeiro houve eleições para a nomeação da Comissão de Gestão da Escola de Silves. Esta Comissão de Gestão é composta por cinco professores, cinco alunos, um elemento de Corpo Administrativo e outro do Corpo Auxiliar. Estes foram nomeados por listas apresentadas ao Director Provisório da escola.
Entre os professores ninguém elaborou lista e no último dia do prazo para a eleição nomearam-se à pressa os professores para esta Comissão de Gestão.
Entre os alunos apareceram duas listas: a A e a B. Um candidato à lista B, José do Ó que era membro da UEC, propôs-me na lista A. Estas duas listas foram submetidas à aprovação, mas antes meteram a política nisto tudo.
Este colega que me nomeou, colocou também na lista A um outro colega que no curso geral tinha apanhado vinte dias de suspensão para que a lista A não ganhasse e ele ficasse na Comissão de Gestão. Os alunos membros da UEC reuniram-se com o seu chefe, Vicente que os avisou para nenhum votar na lista A, pois esta lista não representava nenhum partido político. Além disso estes elementos espalharam-se entre os estudantes mandando bocas para ninguém votar na lista A, pois esta lista tinha um elemento que tinha apanhado vinte dias de suspensão e portanto não tinha condições para representar e velar pelos interesses dos alunos.
Depois desta propaganda chegou o dia da contagem dos votos e numa escola de mil e quinhentos alunos a lista B consegue quatrocentos e tal votos e a lista A duzentos e tal votos. Portanto nenhuma lista conseguiu metade dos votos dos alunos da escola.
No dia seguinte procede-se novamente à votação, mas desta vez sem abstenções e no dia posterior a este procedeu-se novamente à contagem dos votos: alunos que votaram na lista A vão votar na lista B e desta vez a lista B ganha por maioria ficando assim na Comissão de Gestão os alunos representados, não por alunos que defendessem os interesses destes, mas por alguns que defendem sim a vontade e o interesse do seu partido. Ouvi o seu chefe dizer que agora a escola iria para a frente, pois eles a levariam; mas tal não aconteceu, talvez por causa da greve.

Lagos, Janeiro de 1975

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É tão bom ser passarinho
Ter asas e voar ... voar ...
Ter um sol bem quentinho
E, de ramo em ramo, saltitar.

Lagos, 16 de Dezembro de 1974

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Liberdade ... Primavera ...

Liberdade, primavera
Sente, cheira meu coração.
Vem ... esvoaça comigo
Por estes campos e mares,
Por cima de flores e fontes;
Vem comigo pelos ares.

Dá-me asas, primavera,
Dá-me um bocado
Da tua liberdade
E irei contigo
Seja por onde for
Até onde haja
Um bocado de amor.

Lagos, 22 de Março de 1975

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Sol

Sol por que foges de mim?
Eu vim para junto de ti
Para me aqueceres
Para me dares conforto
Para me dares alegria.
Sol, por que és assim?

Lagos, 22 de Março de 1975

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Estou triste pensando em ti ...

A Terra tem o sol como amigo
O mar tem a praia para amar
O céu tem as estrelas consigo
E eu não terei a quem meu coração dar?

Lagos, 11 de Agosto de 1975

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Epílogo

(…) e encerrou-se esta fase da minha vida.
Em finais de Setembro, dei os meus primeiros passos na universidade. Uma nova fase se iniciou na minha vida.
Como por magia aquele stress que havia em mim e me exasperava porque parecia tão insuportável levantar-me cedo, ir para as aulas, estar nas aulas, estudar, … toda aquela rotina de tantos anos da minha adolescência e eu ficava ansiosa “e agora como vou poder aguentar a universidade?” pensava eu.
Tudo isto desapareceu mal mudei de ares, de ambiente e foi um começar de novo com toda a disposição de um começo ...


O meu Clube de Leitura
http://www.clubedaleitura.pt/clubes/?id=97
Os meus filmes
1.º – As Amendoeiras em Flor e o Corridinho Algarvio.wmv
2.º – O Cemitério de Lagos
3.º – Lagos e a sua Costa Dourada

Os meus blogues

Cristianismo


http://www.psd.pt/ - “Povo Livre” - Arquivo - PDF
http://www.arteemgestao.pt/ (empresa de consultoria e negócios utilizando a metodologia 'coaching')


1 N. A.: Esta interrogação surge porque, sempre que ia à cabeleireira, esta me atacava dizendo: - Ah, mas tantos cabelos brancos e tão novinha! É uma vergonha uma rapariga da sua idade andar na rua já assim branquinha. Tem de pintar o cabelo!