quarta-feira, 1 de julho de 2015

Tempo de Poesia II


Lagos, 21 de Março de 2015
sobre o Dia Mundial da Poesia
Hoje comemora-se o Dia Mundial da Poesia e mais uma vez gostaria de deixar uma marca.
Da minha preadolescência, gostaria de salientar três poemas que, de maneira diferente me impressionaram e fui repetindo pedaços deles que me lembrava ao longo da minha vida. São eles:
“A Bela Infanta” romance tradicional in «Romanceiro de Almeida Garrett»;
“Se Queres Viver em Paz” de D. João Manuel (século XV);
“Todo-o-Mundo e Ninguém” in «Auto da Lusitânia» de Gil Vicente.
Passo a transcrevê-los:

“A Bela Infanta” romance tradicional in «Romanceiro de Almeida Garrett»;

A Bela Infanta

Estava a bela infanta
No seu jardim sentada;
Com um pente de ouro fino
Seus belos cabelos penteava.
Deitou os olhos ao mar
Viu vir uma grande armada;
Capitão que nela vinha
Muito bem a governava.
- Dizei-me, ó capitão
dessa tão nobre armada,
se encontraste o meu marido
na terra que Deus pisava.
- Anda tanto cavaleiro
naquela terra sagrada ...
Dizei-me vós, ó Senhora,
As senhas que ele levava.
- Levava cavalo branco,
selim de prata dourada;
na ponta da sua lança
a Cruz de Cristo levava.
- Pelos sinais que me dizeis
lá o vi numa estacada
morrer morte valente;
eu sua morte vingava.
- Ai triste de mim, viúva,
ai triste de mim, coitada!
De três filhinhas que tenho
Sem nenhuma ser casada! ...
- Que daríeis vós, Senhora,
a quem o trouxera aqui?
- Dar-lhe-ia ouro e prata fina,
Quanta riqueza há por aí.
- Não quero ouro nem prata,
não os quero para mim.
Que daríeis mais, Senhora,
A quem o trouxera aqui? 
- De três moinhos que tenho,
todos três daria a ti.
Um mói cravo e canela;
O outro mói gergelim.
Rica farinha que fazem!
Tomara-os el-rei p’ra si.
- Os teus moinhos não quero.
Não os quero para mim.
Que mais daríeis, Senhora,
A quem o trouxera aqui?
- As telhas do meu telhado
que são de ouro e marfim.
- As telhas do teu telhado
não as quero para mim.
Que daríeis mais, Senhora,
A quem o trouxera aqui?
- De três filhas que tenho
todas as três daria a ti.
- As tuas filhas, infanta,
não são damas para mim.
Dá-me outra coisa, Senhora,
Se queres que o traga aqui.
- Não tenho mais p’ra te dar
nem tu mais que me pedir.
- Tudo não, Senhora minha,
ainda te não deste a ti.
- Cavaleiro que tal pede,
que tão vilão é de si;
por meus vilões arrastado
o farei andar por aí
ao rabo do meu cavalo,
à volta do meu jardim.
Vassalos, meus vassalos,
Acudi-me agora aqui!
- Este anel de sete pedras
que eu contigo reparti.
Que é da tua metade?
Pois a minha vês aqui.
- Tantos anos que chorei,
tantos sustos que tremi! ...
Deus te perdoe, marido,
Que me ias matando aqui.=

“Se Queres Viver em Paz” de D. João Manuel (século XV);

Se Queres Viver em Paz

Ouve, vê e cala
E viverás vida folgada.
Tua porta cerrarás
Teu vizinho louvarás.
Quanto podes não farás
Quanto sabes não dirás
Quanto vês não julgarás
Quanto ouves não crerás,
Se queres viver em paz.

Seis coisas sempre vê
Quando falares, te mando:
De quem falas, onde e quê
E a quem, como e quando.=

“Todo-o-Mundo e Ninguém” in «Auto da Lusitânia» de Gil Vicente.

Todo-o-Mundo e Ninguém

Ninguém – Que andas tu aí buscando?
Todo-o-Mundo – Mil coisas ando a buscar;
                            Delas não posso achar,
                   Porém ando porfiando,
                           Por quão bom é porfiar.
Ninguém – Como é teu nome, cavaleiro?
Todo-o-Mundo – Meu nome é Todo-o-Mundo
                             E meu tempo todo inteiro
                             Sempre é buscar dinheiro
                             E sempre nisto me afundo.
Ninguém – Meu nome é Ninguém
                   E busco a consciência.
Demónio – Esta é boa experiência!
                   Dinato, escreve isto bem.
Dinato – Que escreverei, companheiro?
Demónio – Que ninguém busca consciência
                   E todo o mundo dinheiro.
Ninguém – E agora que buscas lá?
Todo-o-Mundo – Busco honra muito grande.
Ninguém – E eu virtude que Deus mande
                   Que tope com ela já.
Demónio – Outra adição nos acude:
                   Escreve logo aí a fundo
                   Que busca honra todo o mundo
                   E ninguém busca virtude.
Ninguém – Buscas outro maior bem que esse?
Todo-o-Mundo – Busco mais quem me louvasse
                             Tudo quanto eu fizesse.
Ninguém – E eu quem me repreendesse
                   Em cada coisa que errasse.
Demónio – Escreve mais.
Dinato – Que tens sabido?
Demónio –Que quer em extremo agrado
                  Todo o mundo ser louvado
                  E ninguém ser repreendido.
Ninguém – Buscas mais, amigo meu?
Todo-o-Mundo – Busco a vida e quem ma dê.
Ninguém – A vida não sei que é,
                   A morte conheço eu.
Demónio – Escreve lá outra sorte.
Dinato – Que sorte?
Demónio – Muito garrida:
                  Todo o mundo busca a vida
                  E ninguém conhece a morte.
Todo-o-Mundo – E mais queria: o paraíso.
                             Sem ninguém me estorvar.
Ninguém – E eu ponho-me a pagar
                   Quanto devo para isso.
Demónio – Escreve com muito aviso.
Dinato – Que escreverei?
Demónio – Escreve
                   Que todo o mundo quer o paraíso
                   E ninguém paga o que deve.
Todo-o-Mundo – Gosto muito de enganar
                             E mentir nasceu comigo.
Ninguém – Eu sempre a verdade digo
                   Sem nunca me desviar.
Demónio – Ora escreve lá, compadre,
                   Não sejas tu preguiçoso!
Dinato – Quê?
Demónio – Que todo o mundo é mentiroso
                   E ninguém diz a verdade.
Ninguém – Que mais buscas?
Todo-o-Mundo – Lisonjear.
Ninguém – Eu sou todo desengano.
Demónio – Escreve, anda lá mano!
Dinato – Que me mandas anotar?
Demónio – Põe aí muito claro
                   Não fique a tinta no tinteiro:
                  Todo o mundo é lisonjeiro
                  E ninguém desenganado.=


"https://medium.com/@mcfpcid.portugal">Maria Inácio Duarte

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