in livro “O Futuro do Sucesso (viver e trabalhar na nova economia)” de Robert B. REICH; 1ª edição portuguesa; vol.22;
colecção Actualidades; Lisboa; editora Terramar; original – 2000 e edição
portuguesa – 2004; pp.362.
São
extractos-chave deste livro que achei importante guardar e agora venho
partilhar convosco.
(pp.50-3) «O
sistema emergente é bastante diferente. Cada vez mais as tecnologias digitais
permitem que os vendedores criem produtos à medida para satisfazer determinados
compradores, mas continuem a reduzir os custos de produção.
Como é que eu
consegui comprar tão barato as minhas camisas e calças feitas por medida? Foi
graças a robôs programáveis, a ferramentas mecânicas controladas numericamente,
a sistemas computorizados de encaminhamento e à internet. Ao contrário das
velhas máquinas e linhas de montagem, estes novos sistemas fazem instantaneamente
uma coisa e logo a seguir outra diferente. A minha encomenda seguiu
directamente para um computador onde foi transformada em símbolos digitais e em
seguida enviada para uma máquina que pegou numa peça de tecido, cortou-a de
acordo com as minhas instruções e coseu tudo num abrir e fechar de olhos.
Depois, o produto acabado foi-me enviado. Entretanto foram seres humanos que
programaram os robôs, criaram o software e o portal na web e o
comercializaram.
Fazer por
encomenda começa a ser a regra.
(p.55) O valor
real da encomenda da minha camisa e das minhas calças está no sistema que a
transforma em instruções digitais ao longo do caminho, que acompanha todos os
passos para garantir que ela seja executada rápida e correctamente e que depois
ma envia. Essencialmente eu estou a comprar produtos intangíveis.
As empresas
estão a fundir-se em monstros gigantescos de
telecomunicações-entretenimento-internet-finança e o leque de vendas a
retalho continua a diminuir. Na maior parte dos casos, a vantagem deste
tipo de concentração não reside na escala da produção, mas sim no marketing
e no reconhecimento da marca.
Actualmente, a
força competitiva consiste em ser melhor, mais rápido e mais barato do que os
rivais. O marketing e a publicidade estão a ceder terreno a um marketing
específico e dirigido a clientes únicos (homens de meia-idade e de tamanho
invulgar como eu.
➢ As empresas mais dinâmicas transferem-se para novos
mercados porque não precisam de produzir em grande escala para serem
bem-sucedidas.
➢ Os músicos contactam directamente os ouvintes através da
web, contornando as grandes empresas discográficas que antes eram as
intermediárias.
➢ Os vendedores de antiguidades encontram compradores
através das leiloeiras electrónicas.
➢ Os adeptos do comércio electrónico negoceiam online,
vinte e quatro horas por dia, à margem do resto da humanidade.
➢ As microempresas contratam designers para criarem
portais e pagam uma avença mensal a um fornecedor de serviços da internet para
os acolherem; alugam uma linha de um servidor seguro para transacções com
cartões de crédito e contratam um banco para geri-las. Quando é necessário,
recorrem a um reservatório global de especialistas. Encontram todos estes
serviços na internet e também os seus clientes.
Os compradores
estão a conseguir ter um acesso muito melhor exactamente àquilo que pretendem.
(pp.74-80) Na
nova economia, as empresas dependem de economias de
fiabilidade. O seu valor
económico não advém dos activos que elas têm nem dos empregados que elas
supervisionam, mas da confiança que conseguiram inspirar nos compradores. A
única coisa que a nova grande empresa tem de controlar e aumentar
permanentemente é o seu activo mais valioso: a reputação de melhor satisfazer os seus
clientes.
➢ A Disney é um guia fiável para o entretenimento
familiar. O seu portal encaminha os clientes para férias em família, vídeos,
livros, música, acontecimentos desportivos e actividades familiares online.
As pessoas que a Disney emprega directamente e os activos que ela controla
contribuem apenas em parte para estas ofertas e essa parte vai diminuir no
futuro. A maioria dos produtos e serviços “Disney” serão produzidos num
circuito independente. A Disney procede a uma pré selecção para ser consistente
e assim aumentar a sua reputação com o entretenimento familiar de alta
qualidade e cobrará uma pequena comissão sobre a venda de cada um. Se for bem gerido, o portal
da Disney continuará a desenvolver maiores economias de fiabilidade e a
depender cada vez menos de economias de escala.
➢
A Dell
tornou-se um portal de marca de computadores e conseguiu aumentar facilmente o
seu franchise de modo a incluir outro equipamento de escritório,
equipamento de telecomunicações e tudo o resto que ajude os compradores a
trabalhar com maior eficiência. A Dell não produz directamente nenhum dos seus
computadores. Liga a sua cada vez maior carteira de clientes à sua crescente
carteira de fornecedores através da internet. Em seguida, os seus
subcontratados associam-se para fazer as suas encomendas. A Dell limita-se a
atrair clientes e a controlar a qualidade. Depois recebe uma comissão por
cada venda.
➢ Actualmente a maioria dos filmes são produzidos por
pequenos grupos empresariais que fazem contratos com grandes estúdios de
Hollywood para comercializar e distribuir as suas obras. São grupos
independentes de trabalhadores que criam também quase todos os outros produtos
de entretenimento. Mais de 90% das cerca de 7000 empresas de entretenimento
existentes na região de Los Angeles têm menos de dez empregados.
➢ Empresas como a Warner Music, a EMI e a Sony têm de
especializar-se em descobrir grandes artistas e em fazer o seu próprio marketing
junto dos clientes, assumindo um papel de orientadores na música que os
clientes apreciam.
➢ Todas as grandes marcas estão prestes a transformar-se
num portal da web que estabelece a ligação electrónica entre os
compradores e os vendedores certos.
➢ A Yahoo é uma grande porta de entrada para o conteúdo da
internet.
➢ A Charles Schwab, para os serviços financeiros.
➢ A Amazon.com para livros e música e no futuro talvez
para produtos intelectualmente estimulantes ou de entretenimento que possam ser
prontamente embalados e enviados.
➢ A IBM cada vez mais está a prestar consultoria e
assistência técnica, muitas vezes através da internet.
➢ A universidade de Harvard está a transformar-se no mais
importante portal de marca na esfera do ensino. É a segunda marca mais
conhecida do mundo, após a Coca-cola. Harvard confere o seu franchise de
prestígio a uma vasta gama de centros de investigação, institutos, cursos de
formação para executivos, camisas, chapéus, fronhas de almofadas, animais de
peluche, um plano de saúde, um grupo hospitalar, revistas, jornais e uma
editora. Emprega directamente apenas uma pequena parcela das pessoas que
produzem estes bens e serviços; cobra comissões sobre o trabalho dos restantes.
➢ Harvard está bem posicionada para ser harvard.com – um
portal de marca de primeira linha para uma vasta gama de produtos educativos
através da internet que reúna fornecedores de todo o mundo e venda a pessoas de
todo o mundo que vêem na marca Harvard um guia de confiança.
➢ Os museus sem fins lucrativos albergam estabelecimentos
de venda a retalho com fins lucrativos e restaurantes; promovem lojas de
prendas online onde apresentam bugigangas feitas por produtores que
visam o lucro; alugam as suas salas e galerias a empresas para determinadas
funções e concedem sob licença o seu nome a uma gama de produtos vendidos com
fins lucrativos.
Na economia
emergente, muitas vezes os compradores não sabem o que querem e usam o portal
de marca como meio para o descobrir. Os grandes portais de marca representam soluções, mais do que
produtos específicos.
Os portais de marca
só conseguem manter a sua reputação de fiabilidade se continuarem a
comportar-se como agentes dos compradores e não como vendedores. O valor de uma
marca deteriora-se quando ela deixa de ser um excelente guia para aquilo que é
excelente, quando os compradores, de algum modo, se sentem enganados.
Esta dinâmica
– a necessidade competitiva que certos pequenos vendedores têm de associar-se a
portais de marca grandes e fiáveis e que os grandes portais de marca têm de
passar de produtores a representantes dos compradores – explica um aparente
paradoxo da economia moderna. É uma relação de cooperação. Os grupos de
empresas especializam-se na criação de grandes produtos. Um grupo
comparativamente pequeno de grandes marcas funciona como conselheiro fiável dos
consumidores.
(pp.81-91)
Mesmo depois de atrair um cliente, o desafio de um vendedor ainda não terminou.
Ele tem de conservar o
cliente. O vendedor
depende mais do cliente do que este depende dele porque é muito mais
dispendioso ganhar um novo cliente do que descobrir um novo vendedor: «Depois de o encontrar nunca mais o deixe
fugir».
Há várias
técnicas para aumentar a fidelidade:
➢ continuar a reduzir o preço e a acrescentar valor àquilo
que o vendedor oferece para que o cliente não tenha razões para mudar.
➢ Acompanhe de perto o desempenho dos seus rivais. Se eles
descobrirem uma nova maneira de reduzir custos, melhorar a qualidade ou
inventar algo melhor, faça imediatamente o mesmo.
➢ A criação de um sistema de interconectividade cuja
utilização seja tão ampla que, na prática, todos os vendedores sejam obrigados
a recorrer a ele assim como todos os compradores.
➢ Acima de tudo, acarinhe o seu cliente. Satisfaça-o.
Surpreenda-o com a sua solicitude. Ofereça-lhe vantagens especiais, se ele se
lhe mantiver fiel.
➢ Eles podem oferecer aos compradores um amplo leque de
descontos se partilharem as informações com outros vendedores – companhias
aéreas, empresas de aluguer de automóveis, hotéis e teatros.
➢ Os doadores sistemáticos de Harvard são recompensados
com viagens especiais, seminários e visitas;
➢ os membros leais do Metropolitan Museum, com convites
exclusivos para o pré visionamento de exposições de impressionistas ou de
antiguidades;
➢ os hóspedes fiéis dos hotéis têm tratamento VIP à
chegada em vez de ficarem na fila da recepção à espera de serem atendidos.
➢ A British Airways oferece aos seus clientes assíduos o
seu jornal e a sua bebida preferidos com base no que eles escolheram em voos
anteriores.
➢ Uma florista online possui uma lista dos
aniversários e das datas festivas que os seus clientes comemoraram com flores
no passado; avisa-os por correio electrónico quando esses dias se aproximam e
até lhes recorda o que eles compraram da última vez, além de fazer uma nova entrega
num abrir e fechar de olhos.
➢ Uma cadeia de hotéis regista que um hóspede jogou golfe
numa das suas unidades e quando este reserva um quarto noutra unidade,
pergunta-lhe automaticamente se ele quer reservar uma hora para jogar.
➢ A Amazon.com contempla os seus compradores na web
com recomendações de outros livros e música de que eles possam gostar com base
na análise de encomendas anteriores.
As grandes
marcas estão numa posição ideal para recolher estes dados. As bases de dados de
clientes constituem outro dos seus activos preciosos, visto que permitem
associar os clientes aos vendedores cuja probabilidade de os satisfazer é
maior. Quando o comprador se cansar de ser bajulado e se aperceber do valor
comercial dos seus dados pessoais, pode ele próprio armazená-los em base de dados
que o próprio constrói – eu.com – e poderá cedê-los a outro vendedor qualquer
para conseguir um negócio mais vantajoso.
Mesmo que os
vendedores rivais não descolem dos clientes de outros vendedores, os Governos
podem fazê-lo. Assim, segundo a legislação em vigor nos Estados Unidos e na
maioria dos outros países capitalistas, os proprietários de
marcas registadas perdem a sua exclusividade quando a utilização se torna de tal modo ampla que
estas marcas passam a fazer parte da linguagem geral, exemplo: aspirina.
A lição a
tirar é mais ou menos clara. O que começa por ser um modelo conveniente pode
acabar por ser um obstáculo à inovação, pois a propriedade privada continuada impediria que os
rivais apresentassem produtos competitivos porque teriam de partir sempre do
modelo estandardizado existente pela necessidade de compatibilidade com este.
O primeiro
princípio da nova economia é que as opções estão a aumentar e os compradores
têm cada vez mais facilidade em mudar e conseguir um negócio melhor. O segundo
princípio é que esse leque de opções e essa facilidade de mudança estão a
reduzir a segurança dos vendedores e a torná-los mais vulneráveis à
concorrência, fomentando assim a inovação.
Estamos a
assistir a uma explosão de inovação que conduz a melhores produtos e serviços.
A produtividade está a aumentar e a inflação a atingir níveis moderados. Os
compradores estão a beneficiar de custos mais baixos e de melhores valores.
Este fenómeno passa-se principalmente nos sectores do entretenimento, finança,
media, software e comunicações via internet. Também a indústria
automóvel, a química e a metalurgia estão a passar da produção em massa para
produtos mais ao gosto do cliente e a usar a web para descobrir melhores
fornecedores. A tecnologia e o espírito inovador continuarão a estender-se por
toda a economia mundial. Contudo, embora seja a tecnologia a ditar o ritmo,
podemos controlar o nosso destino.
(pp. 94-103)
“Parece provável que uma educação que acentue determinadas competências
analíticas capazes de complementar as novas tecnologias seja a melhor
preparação para o trabalho do futuro. Muitas das pessoas que mais valorizadas
são na nova economia não são particularmente dotadas na utilização de
computadores ou de outras tecnologias da informação. O seu valor está
tangencialmente ligado aos seus conhecimentos de informática ou à sua
capacidade de resolver problemas complexos. O verdadeiro valor que essas
pessoas acrescentam à economia advém da sua criatividade – as suas
ideias quanto ao que pode ser feito num determinado domínio (software, finança,
legislação, entretenimento, música, física, …) e num determinado mercado e
quanto à melhor maneira de organizar o trabalho para articular estas duas
vertentes. São trabalhadores criativos.
As novas
tecnologias de informação são importantes, mas os seus efeitos são indirectos:
ampliam as boas ideias. A tecnologia aumenta o valor da criatividade, permitindo
que ela alastre rapidamente através de uma rede organizacional e que acabe por
chegar aos consumidores.
Umas pessoas
podem ser mais criativas do que outras devido aos seus talentos inatos, talvez
presentes nos genes que, de certo modo estão associados à criatividade. Contudo
uma grande parte da criatividade tem a ver com as famílias e com as
circunstâncias em que fomos educados. O papel dos pais é importante e da escola
também.
No cerne da
inovação estão duas personalidades distintas que representam diferentes
inclinações, talentos e maneiras de compreender o mundo. A primeira é a do artista ou inventor, do designer, do
engenheiro, do génio financeiro, do visionário, do cientista, do escritor ou do
músico, em suma, o indivíduo que é capaz de ver novas possibilidades num
determinado ambiente e que se deleita a explorá-las e a desenvolvê-las. Esse indivíduo tem prazer em dilatar o ambiente tanto
quanto é possível, em pôr à prova os seus limites, em descobrir e resolver
novos problemas existentes no seu seio. O objecto criado reflecte saber e
destreza da parte do visionário. O prazer de criá-lo ou possui-lo nada tem a
ver com o seu valor de mercado e tem tudo a ver com a sua arte. O prazer de um
visionário está associado à novidade e à descoberta, a uma atitude de
“atenção”. Quem é apenas analítico e não atento, cria opções vulgares e procura
optimizar os resultados. Uma pessoa atenta procura novas possibilidades; não
apenas escolher as melhores opções, mas criar novas opções. O inventor não é um
ser antissocial nem um misantropo, mas a empatia não é o seu forte. Agrada-lhe
mais interagir com os equipamentos em que ocupa o seu tempo. O prazer de
interagir com outras pessoas advém do trabalho em equipa, do entusiasmo da
descoberta partilhada e das centelhas que se elevam no ar quando as mentes
conspiram e colidem no mesmo ambiente. A alegria conjunta advém da colaboração
que permitiu alcançar algo ainda mais belo, melhor.
A segunda
personalidade é a do vendedor, do representante de talentos, do mago, daquele
que identifica tendências, do produtor, do consultor, do lutador; em suma, da
pessoa que consegue identificar as hipóteses existentes no mercado e que outras
pessoas podem querer ter, ver ou aproveitar e que sabe como concretizá-las.
Esta personalidade tem uma criatividade diferente. Não procura a novidade num
ambiente específico e de se congratular com o facto de ultrapassar os seus
limites. A originalidade desta segunda personalidade consiste em identificar as
pretensões possíveis e os desejos latentes das pessoas, desejos esses dos quais
as pessoas podem nem sequer ter consciência, desejos de produtos que ainda não
existem. A sua competência concentra-se nas outras pessoas: clientes de
empresas de uma determinada indústria ou de um sector da economia, um conjunto
de clientes, um grupo de jovens utilizadores da internet, eleitores e imagina
novas maneiras de satisfazê-las e agradar-lhes. O indivíduo não está menos
concentrado no que faz do que o visionário, mas a sua tarefa consiste mais em
descobrir o que querem as pessoas e não tanto naquilo que um determinado
ambiente pode proporcionar. A sua arte consiste em saber como há-de convencer,
como há-de jogar com as necessidades emocionais dos clientes, como há-de
transformar um produto tangível em algo mais, acrescentando-lhe características
intangíveis como o fulgor, a atractividade sexual, a autoestima, a estima dos
outros… o que o cliente deseja para si próprio.
A tarefa deste
inovador criativo consiste em imaginar aquilo que eles poderiam querer, se ela
existisse e em descobrir como tal coisa pode ser criada. Uma amiga minha que
cria grandes jogos na internet, conduz grupos-alvo e entrevista centenas de
pessoas de vinte e tal anos. Observa o seu comportamento, enquanto elas
participam nos jogos. Agora está a trabalhar com programadores para criar
maneiras de os jogadores conseguirem inventar os seus próprios jogos e atraírem
outros jogadores em todo o mundo. A sua arte consiste em fazer as perguntas
certas, em ouvir atentamente as respostas, em procurar traços comportamentais
e, com base nisto, em imaginar aquilo que o cliente considerará mais atraente
ou mais útil. Neste sentido, ela trabalha mais para o cliente do que em nome do
vendedor de um determinado produto. Ela é a representante, a consultora, a
conselheira e a voz do cliente.
O arquitecto
Thierry Despont faz projectos de mansões para pessoas muito ricas. O seu
talento reside em descobrir a personalidade dos seus clientes e em dar a forma
tridimensional aos desejos únicos destes. «Para ter êxito na minha profissão é
necessário compreender muito bem não só as necessidades dos clientes como
também os seus sonhos e recordações. Temos de saber donde vem o cliente e o que
pretende. Uma parte do ofício consiste em aprender a observar as pessoas, a ver
as coisas acerca das quais elas têm ou não têm certezas; as coisas que elas não
transmitem verbalmente, mas exprimem através do que as rodeia.» - afirma-nos ele.
Classifica-se este tipo de pessoas “psicólogos”.
O visionário
apoia-se no seu enorme fascínio por um ambiente com a sua lógica interna e as
suas regras próprias. Pelo contrário, o psicólogo apoia-se no seu fascínio
pelas pessoas – os seus receios e aspirações, os seus anseios e necessidades,
os seus pressupostos inexplorados. O psicólogo cria empatia, o visionário
analisa. O visionário compreende as hipóteses de inovar num determinado meio; o
psicólogo compreende os desejos e as necessidades das pessoas.
Os visionários
têm ideias brilhantes e são capazes de fazer análises excelentes, mas nem
sempre são dotadas nas relações interpessoais.
Os psicólogos sabem ler as deixas interpessoais mais subtis, mas nem
sempre são os mais lúcidos quando se trata da substância das coisas. Os grandes
gestores apercebem-se intuitivamente da diferença e colocam as pessoas de
talento nos lugares em que elas acrescentam o máximo valor.
Todas as
pessoas dotadas de um grande espírito empreendedor são simultaneamente
visionários e psicólogos. Um indivíduo empreendedor alia as conclusões do
visionário acerca do que é possível às intuições do psicólogo acerca do que é
desejado. O génio empreendedor possui uma visão quase perfeita nos dois olhos.
Visionário e psicólogo – artista e representante, inventor e lutador,
engenheiro e comerciante, estilista de moda e negociante, realizador e
produtor, fornecedor de conteúdos e de tráfego da internet, político e
assessor, talento e “adequação”, … Cada uma destas duplas representa as duas
metades do todo empreendedor. Elas existem em cooperação. Têm de aprender uma com a outra para que haja inovação.
Sem o contributo de uma e outra, a equipa não possuirá um verdadeiro espírito
empreendedor. O visionário só por si pode criar tecnologias muito fantásticas,
mas elas não terão valor económico. Não podem ser informadas pelo conhecimento
daquilo que as pessoas querem e deste modo arriscam-se a ser irrelevantes em
termos comerciais. O psicólogo por si só pode imaginar maneiras de deliciar os
clientes ou de corresponder aos seus mais profundos anseios e necessidades, mas
as suas reflexões serão irrelevantes em termos psicológicos. Não seriam
norteados pelo conhecimento do que era possível e, deste modo, arriscar-se-iam
a ser irreflectidamente convencionais ou tremendamente irrazoáveis.
Quando as
características da concorrência mudam e o objectivo deixa de ser a produção e a
venda de um grande número de artigos idênticos e passa a ser a inovação rápida
e a conquista de uma reputação de fiabilidade, os visionários e os psicólogos
são indispensáveis. Os lucros dependem do conhecimento de um determinado
ambiente (software, música, legislação, finanças, física, cinema, …) associado
ao conhecimento de um determinado mercado.
O que os
consumidores pagam é sobretudo o custo de investigar, criar um design,
comercializar e publicitar um fluxo constante de novos artigos e este é o
território dos visionários e dos psicólogos. O custo de produzir um livro
corresponde a uma parcela relativamente pequena do preço que paga por ele. A
maior parte do seu dinheiro vai para o editor, para o designer da capa,
para o distribuidor, para os vendedores e para os publicitários. O seu autor
recebe um modesto quinhão. No ciberespaço, é tudo conteúdo e tráfego, isto é,
visionários e psicólogos.”
(pp.108-128)
”Quanto mais forem os visionários e os psicólogos que aprenderem uns com os
outros, maior será a inovação. A burocracia característica das grandes
indústrias isolou os visionários em silos de investigação e desenvolvimento e
os psicólogos em departamentos de vendas e de marketing. Daqui
resultaram alguns conhecimentos tecnológicos ocasionais e um conjunto de dados
sobre as necessidades dos consumidores, mas pouca ou nenhuma conexão entre os
dois e muito pouca inovação.
A aprendizagem
mútua que conduz à inovação permanente tende a ser informal, isenta de
planeamento e acidental. É por isso que a nova economia está a compensar mais
os pequenos grupos empresariais constituídos por visionários e psicólogos do
que as grandes burocracias hierarquizadas e é por isso que os melhores desses
grupos se organizam livremente, muitas vezes em escritórios em open space
onde se podem ver uns aos outros e encontrar-se em poucos segundos. O vestuário
informal que se vê nessas novas empresas dinâmicas – colarinhos abertos, blue
jeans e ténis – não é só fachada. As pessoas tendem a ser mais
espontâneas e criativas e mostram-se muito mais dispostas a partilhar
pensamentos e ideias ocasionais se se sentem tão confortáveis como quando se
encontram na companhia de bons amigos.
As regiões
dinâmicas do país, os locais que geram um número desproporcionadamente grande
de empresas inovadoras dispõem, em geral, de núcleos de visionários e
psicólogos de talento que se misturam permanentemente.
Há dois
critérios distintos segundo os quais uma obra pode ser avaliada:
➢ segundo a estética do seu meio;
➢ segundo a popularidade no mercado.
À medida que a
economia se torna cada vez mais ferozmente competitiva, maior é a possibilidade
de a avaliação comercial silenciar a crítica estética. Os consumidores são confrontados
com tantas opções que valorizam cada vez mais os conselhos acerca daquilo de
que irão gostar ou considerar satisfatório. Consequentemente, é menor o
interesse na avaliação estética, isto é, naquilo de que os consumidores
gostariam ou deveriam gostar, se os seus gostos fossem mais apurados.
No entanto, a
sociedade necessita de ambos. É certo que os consumidores contam com o apoio de
revistas especializadas que os alertam para o software, os filmes e
outros inventos susceptíveis de lhes agradar e é perfeitamente razoável que os
visionários e outros criadores saibam como hão-de fazer as delícias do público;
mas também importa instruir o público quanto aos padrões estéticos inerentes a
um determinado meio, independentemente do seu provável agrado. Numa cultura
obcecada pelo que vende, os inventores e os artistas podem beneficiar com a
crítica estética. Caso contrário, a sociedade arrisca-se a perder aquilo que
provoca, enfurece, enobrece, desafia ou obriga as pessoas a encarar realidades
que elas prefeririam ignorar.
A competição
cada vez mais forte, fomentada pelo novo poder dos compradores, está a obrigar
todas as editoras a se preocuparem mais com os custos.
O perigo é
grande para os profissionais que antes estavam ao abrigo das exigências do
mercado e que têm uma responsabilidade especial ao revelarem realidades que
podem ser impopulares ou toscas. O seu sustento depende cada vez mais da sua
popularidade. Os jornalistas são cada vez mais pressionados a escrever ou a
transmitir aquilo que vende por muito inexacto que seja. As novas tecnologias
permitem um feedback quase imediato.
A procura de
trabalhadores criativos, de visionários e psicólogos continuará a aumentar
porque eles são os mestres da inovação e a inovação está no cerne da nova
economia. Estes trabalhadores podem criar rapidamente produtos que sejam
melhores ou mais baratos do que os outros. Ao intensificar-se, esta competição
estará a alimentar uma procura ainda maior dos serviços desses trabalhadores
criativos. Por isso, é provável que estes postos de trabalho sejam cada vez
mais bem pagos. Também é provável que eles sejam intelectual ou artisticamente
aliciantes, emocionalmente absorventes, pessoalmente gratificantes e por vezes
incomensuravelmente frustrantes. É quase certo que eles exigem muito tempo, o
qual pode exceder as horas normais de expediente.
Os visionários
e os psicólogos imaginativos são cada vez mais procurados, enquanto que, quem é
pago para executar tarefas repetitivas ou rotineiras tende a perder terreno
económico. Todas as empresas sentem uma pressão crescente para reduzir
custos e elas possuem uma capacidade cada vez maior de o fazer através de
tecnologias de alcance global.
Até as
empresas norte-americanas lucrativas estão a reestruturar-se, a
redimensionar-se, a sofrer operações de reengenharia para diminuir os seus
postos de trabalho ao mesmo tempo que procuram mais visionários e psicólogos de
talento e subcontratam a outras empresas trabalhadores com salários mais baixos
e menos regalias. Todas as empresas estão a emagrecer, a subcontratar e a
dispersar. As sedes das grandes empresas mundiais estão hoje instaladas em
pólos de escritórios bem apresentados e convenientemente situados nos arredores
dos aeroportos internacionais; as fábricas e os laboratórios estão espalhados
pelo mundo; os fornecedores e os parceiros estão onde calha e mudam
constantemente.
(pp.137 - 142)
Os consumidores e os investigadores como o leitor e eu tiram proveito das
tecnologias – internet, comércio electrónico e do software imaginativo – que permitem
uma maior flexibilidade em todos os momentos críticos. Sujeitas a esta pressão
combinada, as empresas estão a transformar-se em grupos de pessoas que se unem
umas às outras por pouco mais do que uma conveniência temporária.
O resultado é
a inovação sem limites e o dinamismo sem precedentes. Mas é também um conjunto
de relações económicas tão transitórias que geram ambiguidade quando está em
causa o apuramento de responsabilidades tanto no presente como no futuro. Os
meus alunos vêem o mundo em que estão a entrar em termos muito mais temporários
do que a minha geração via: não tencionam passar mais do que alguns anos no
mesmo posto de trabalho; não contam com a lealdade de nenhuma organização ou
instituição e quase nunca de outra pessoa … Também não esperam vir a ser leais.
Para eles, uma relação comercial é efémera. Eles partem do princípio que terão
de assumir a responsabilidade total pela gestão das suas carreiras; não podem
confiar essa responsabilidade a mais ninguém.
A tecnologia
está a acelerar e a aumentar o acesso a negócios fabulosos. Para sobreviver
nesta nova era de competição mais feroz, a melhor maneira de o fazer é através
de pequenos grupos dinâmicos
associados a marcas fiáveis. No seu cerne estão visionários e psicólogos de
talento, cada vez mais procurados. A empresa também é obrigada a reduzir
constantemente os custos, alugando quase tudo aquilo de que necessita,
descobrindo os fornecedores mais baratos, reduzindo os salários dos
trabalhadores de rotina e nivelando todas as hierarquias e reduzindo-as a redes
contratuais sempre em mutação. A lógica da nova economia está a alterar as
relações laborais.
O que nos
reserva o futuro, a nós e aos nossos filhos?
É provável que
venhamos a ser membros de um grupo empresarial cujos proveitos variam de ano
para ano ou até de mês para mês e o nosso quinhão dependerá do nosso
contributo. Ou integraremos uma empresa de serviços especializados para cujos
clientes faremos projectos e pelos quais receberemos uma parte dos proveitos
totais. Ou trabalharemos para uma agência de talentos ou para uma empresa
temporária que nos permitirá trabalhar em projectos específicos durante um
período limitado e que em troca, cobrará uma percentagem sobre o que ganharmos.
Cada vez somos menos empregados de uma organização e mais vendedores dos nossos
serviços a determinados clientes com a marca da organização. Assim o nosso
rendimento dependerá do que esses compradores estiverem dispostos a pagar pelos
nossos serviços e do prestígio da marca que os atrai para nós. A ideia de
emprego estável é bastante recente em termos históricos, durante a era
industrial da produção em larga escala. Agora está a chegar ao fim. «O
homem que trabalhou para outro no ano passado, trabalha para si este ano e no
próximo, contratará outros para trabalharem para ele.» (Abraham Lincoln, Speech at Kalamazoo
– Michigan, 27 de Agosto de 1856 in Roy P. Basler, ed., The
Collected Works of Abraham Lincoln, vol II, New Brunswick – N. J.,
Rutgers University Press, 1953, p.364.)❐
Os meus filmes
1.º – As Amendoeiras em Flor e o Corridinho
Algarvio.wmv http://www.youtube.com/watch?v=NtaRei5qj9M&feature=youtu.be
2.º – O Cemitério de Lagos
3.º – Lagos e a sua Costa Dourada
4.º – Natal de 2012
5.º – Tempo de Poesia
Os meus
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(livros, música, postais, … cristãos)
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