Lagos, 12 de Junho de
2013
Os Verdes Anos do Meu Pai
O avô materno do meu pai
era uma pessoa muito instruída, educada, sábia e gostava muito de crianças.
Chamava-se César Marreiros e era católico assumido; tinha um filho Capelão
do Exército que orientou três sobrinhos, irmãos do meu pai a se integrarem nas
Forças Armadas profissionalmente. Possuía um grande armazém
de tudo em Santo Amaro, junto à Estrada de Sagres e lá trabalhava coadjuvado
pelos seus empregados. Os meus avós paternos moravam perto do moinho de Santo
Amaro e, portanto perto deste grande armazém; logo o meu pai, com poucos anos
de idade, quando davam por ele, já estava com o avô César. O meu pai nasceu a
22 de Janeiro de 1930.
Com o avô, o meu pai
aprendeu a ser homem, a portar-se como um homem, a respeitar o seu semelhante
segundo os valores cristãos e ajudava o avô no seu trabalho. Verificando o
interesse do neto pelo negócio, começou a incentivá-lo e a aconselhá-lo a ter
um negócio assim. ‘Ó avô, como é que eu posso ter um negócio destes? É
impossível!’
‘Pois começares logo por
um negócio destes é mesmo impossível, mas se começares devagarinho podes chegar
lá. O importante é gostares deste negócio, teres confiança em ti e fé em Deus e
vais conseguir.
Olha, primeiro tens de
começar a trabalhar e poupar bastante para poderes arrendar uma casa, pagares o
trespasse do negócio e comprares os primeiros artigos para a tua loja e ainda
ficares com algum dinheiro de lado para alguma eventualidade que sempre
surgem.’
O meu pai, jovenzinho,
andava feliz!
‘Já cá estás? Ainda é
muito cedo. Olha que a tua mãe ainda se zanga comigo.’
‘Não, ela sabe que eu
estou aqui e disse-me “Lá está bem. Fico descansada. Mas vê se não vais para lá
e me enganas. Então é que não sais daqui para lado nenhum!’
‘Sabe, avô, é que eu
queria mesmo aprender.’
‘Está bem, está bem.’ e
ria-se com muita vontade e o meu pai fazia tudo o que o seu avô lhe pedia e
estava atento a tudo.
Quando tinha dezassete
anos, o meu pai foi trabalhar para o mestre de obras, o Senhor Barroso, um
pedido do seu avô César porque o seu pai não queria que ele continuasse com o
avô ‘Assim não aprendia o que era a vida; o duro da vida.’ O seu avô não
levantou mais problemas para não haver discussões e fez um pedido ao Senhor
Barroso.
Sempre obediente, o meu
pai aprendeu depressa a fazer o seu trabalho, mas não esqueceu o seu sonho e
foi amealhando quanto pôde e ia aprendendo a contabilidade com o avô.
Quando tinha vinte e
dois anos, sempre com o avô como mentor e coadjutor, arrendou um armazém, onde
tem sido a sede do Benfica em Lagos, e montou o seu negócio, do mesmo
género do avô e teve muito sucesso.
Pouco antes, tinha conhecido a minha mãe num baile, no Clube Artístico, em Lagos, namoraram e, passados quase quatro anos, casaram.
A minha mãe gostava muito de conversar e sempre que tinha
alguém por perto arranjava logo motivo de conversa. Certo dia, em casa, estando
eu presente e o meu pai também, começou a contar que…
“Um
dia, quando o teu pai estava na sua loja, durante as horas de trabalho, entrou
pela loja adentro uma andorinha e o teu pai ficou quieto a observá-la. Ela
escolheu um lugar junto das traves do tecto e saiu. Depois voltou e com o seu
parceiro começaram a construir o seu ninho. Na hora de fechar a loja, o casal
de andorinhas olhou para o teu pai e o teu pai para eles. Então decidiu:
«Vou deixar o postigo da porta entreaberto para elas poderem
entrar e sair enquanto eu não estou cá.» E dirigindo-se ao casal de andorinhas,
disse-lhes:
- E vocês guardem bem
a loja. Não deixem os ladrões virem cá roubar-me. Não me façam arrepender de
vos ter aceitado.
Elas começaram um grande chilrear e o teu pai assim fez.
Ora acontece que o teu pai, depois de fechar a loja vinha
ter connosco à fazenda do Porto de Mós para jantarmos todos juntos e assim
termos um tempinho para conversar porque o meu pai gostava também muito de
conversar. Só que houve um dia que o teu pai fechou o postigo da porta,
esquecendo-se das andorinhas que tinham lá o ninho. Já estava um pouco atrasado
para o jantar e sabia que nós estávamos à espera dele. Monta na bicicleta a
pedal e lá vem ele a caminho do Porto de Mós. Nós começámos a namorar tinha ele
vinte anos e namorámos quase quatro anos.
Quando ia a meio da estrada para a nossa casa, lembrou-se
de que tinha fechado o postigo da porta e assim as andorinhas não conseguiam
entrar para alimentar os filhinhos.
- Bem, tenho de
voltar para trás e ir abrir o postigo. Eles esperam mais um bocadinho. –
pensou para consigo e assim fez. Já tinha a barriguinha a apertar, mas tinha de
ser.
Voltou para trás, abriu a porta da loja, entreabriu o
postigo, fechou a loja e lá foi ele novamente a caminho do Porto de Mós.
Entretanto nós estávamos preocupados; ele nunca tinha
demorado tanto.
- Vai a ver, o
Francisco cansou-se de nós e foi para outro lado. – disse eu ao meu pai.
- Não sejas assim, filha. Se ele ainda não
chegou, deve ter os seus motivos; mas vai chegar e explicar tudo. Vais ver!
Entretanto vamos nós começando a jantar que a fome aperta e o trabalho foi duro.
– explicou-me o meu pai.
Quando o Francisco chegou já estávamos quase no fim da
refeição.
- Ó homem, então a
estas horas é que aparece! Nós estamos a acabar de comer, mas a sua parte está
guardada. Fortunata, faz lá o prato para o Francisco. Já deve ter apetite!
- Muito, Sr Custódio.
- Então, lave as mãos
e sente-se à mesa. Primeiro, coma e depois conte o que aconteceu.
- Sr Custódio. Foi um destes dias! Só
azares.
Eu olhava de soslaio para ele, despeitada; mas muito atenta
a tudo o que ele dizia.
- Foi
assim, não foi, Francisco?
- Foi. – concluiu o meu pai com um sorriso distante nos lábios.
Os meus pais casaram no dia 04 de Outubro de 1953. Eles
queriam casar e ir morar na sua própria casa. Os meus avós paternos moravam na
sua própria casa num terreno bem espaçoso; os meus avós maternos também tinham
a sua própria casa com um óptimo quintal e um espaço ainda maior para uma horta
doméstica. Foi uma oportunidade que surgiu e que eles aproveitaram para depois
ter algum rendimento e quando já não pudessem trabalhar, “terem onde se
abrigar”, como lhes dizia o Dr Gracias, proprietário da fazenda que tinham arrendado.
Então os meus pais procuraram casa/ terreno perto do local
onde o meu pai tinha o estabelecimento comercial. Encontraram um bom lugar para
construírem a sua própria casa e o meu pai foi falar com o proprietário;
acertaram um valor – 4600$00 (quatro contos e seiscentos). O meu pai, todo
feliz, foi contar ao seu pai e este teve a reacção oposta àquela que o meu pai
esperava.
-
Filho, tu não podes ir morar tão longe de nós; tu és o nosso guardião.
- Paizinho, não é longe, dez minutos a
quinze de caminho a pé e a Emília vem ver-vos todos os dias. Além disso, a mana
pode ser a vossa guardiã. Ela continua solteira e a morar convosco.
-
Filho, tu não podes ir morar noutro lugar. Tens de morar aqui connosco!
- Paizinho, a Emília gostaria muito de que
ficássemos com aquela casa. É perto da loja.
- A Emília
não é chamada para aqui. Quem manda é o homem e tu és o homem da tua casa. Quanto
vais pagar por esse terreno?
- 4600$00.
- O quê?
4600$00? Tens assim tanto dinheiro? Olha, tu sabes que nós não vivemos em
fartura e esse dinheiro faz-nos falta. Tu dás-me esse dinheiro e ficas com o
terreno que quiseres para construir a tua casa.
- Paizinho, eu vou casar com a Emília e ela
tem direito à sua opinião e eu quero escutá-la. Eu também já dei a minha
palavra de compra ao proprietário perto da loja…
-Essas coisas
fazem-se e desfazem-se. Tu entregas-me esse dinheiro e podes começar já hoje a
construir a tua casa…
- Eu vou falar com a Emília. É minha
obrigação. Depois se vê.
Esta foi a resposta do meu pai já todo enervado e com a lágrima
no olho. Não estava à espera de uma reacção daquelas do seu pai. Tinha vinte e
três anos. Saiu do quintal onde estava com o seu pai e foi directo para a casa
dos meus avós maternos.
Quando a minha mãe olhou para ele, disse logo:
- Bem,
há coisa!
-
Francisco, o que se passa para vires nesse estado?
- Não imaginas o que se passou. Fui falar
com o meu pai sobre a compra do terreno para construirmos a nossa casa e o meu
pai quer que lhe dê o dinheiro a ele e fique com o terreno que quiser para
construir a nossa casa.
- Vem! Almoças
connosco e conversamos com os meus pais.
Assim foi. E ficou decidido, em primeiro lugar, consultar o
Doutor Gracias que estava sempre pronto a ajudá-los no que fosse preciso.
O Doutor Gracias escutou-o atentamente e disse-lhes:
- Em
primeiro lugar, um pai não pode vender a um filho e o melhor que o Marreiros
pode fazer é esquecer a proposta do seu pai e comprar o terreno que já está apalavrado.
- Doutor, os meus pais agora não me vão deixar
em paz, enquanto eu não lhes der aquele dinheiro. A questão para eles é que
eles se acham com direito a todo o dinheiro dos filhos e eu sou o guardião da
família, mas quero casar e ter a minha família ”,
disse o meu pai já num choro que não conseguia conter.
-Bem, o
melhor é acalmar-se e falar do que eu lhe disse ao seu pai. Voltem cá amanhã!
Assim aconteceu.
- Paizinho, o paizinho não me pode vender o
terreno porque sou seu filho.
-
Filho, e quem precisa da lei para isto? Dás-me o dinheiro e constróis a tua
casa e mais nada.
- Paizinho, não pode ser assim porque
depois quando os pais um dia falecerem e houver partilhas, eu vou ter problemas
com os manos.
- Não
vais ter não, confia em mim!
- Paizinho, eu vou comprar o outro terreno.
Eu não quero problemas com ninguém!
Surge a mãe do meu pai a apoiar o marido a 100% e nenhum
dos dois queria compreender os motivos do meu pai. O importante era que ele
lhes desse aquele dinheiro e construísse ali a sua casa; não havia necessidade
de papéis. E não havia volta a dar à questão por parte do meu pai.
No dia seguinte, lá foram os meus pais encontrar-se
novamente com o Doutor Gracias que era advogado de profissão.
- Não consigo, Doutor. Já me ameaçaram os
dois de cortar relações comigo, eles e toda a família. Eu já não sei que fazer…
- Há
sempre uma solução, mas que lhe vai trazer muitos dissabores no futuro, contudo
a decisão só pode ser sua.
- Diga, Doutor, o que é que eu posso fazer?
- Se realmente
decidir ficar junto dos seus pais; para ter alguma salvaguarda e poder, mais
tarde, vender a sua casa, se quiser, precisa de ter tudo de acordo com a lei e
com as assinaturas de ambas as partes. Para esta situação, só pode haver uma
doação graciosa do seu pai para si, isto é, de graça, sem lhe entregar dinheiro
nenhum.
- Doutor, eles só falam no dinheiro que
lhes faz muita falta, mais do que ao outro a quem estava disposto a comprar.
- Ai,
Marreiros, vai meter-se num grande sarilho: fica sem o dinheiro e só vai arranjar
inimigos…
- O Doutor ajuda-me nessa questão da doação;
sempre é melhor do que nada. Emília, que me dizes?
- Eu não
digo mais nada. Já sabes qual a minha opinião, mas não vou fazer finca-pé,
estando tu no estado em que já estás. Sabes que eu não concordo nada com isso
e, por mim, devíamos comprar o terreno ao pé da loja. Contudo aceito o que
decidires.
- Então, Doutor, vamos para a doação. O que
temos de fazer?
- Os
seus pais que venham cá ao escritório falar comigo e depois vamos à Conservatória.
Assim ficou decidido e assim foi feito. O meu pai entregou
os 4600$00 ao seu pai em dinheiro e eles foram à presença do advogado e depois à
Conservatória.
Tudo o que o advogado previu, aconteceu e o meu pai
arrependeu-se muitas vezes de ter resolvido as coisas a favor dos seus pais. Na mesma,
mais tarde, teve de cortar relações com os pais que ofenderam e muito durante várias
vezes os meus pais e, quando eles já estavam velhotes, foram os meus pais que
os socorreram e lhes deram o apoio de que necessitavam. Todos os outros seis
filhos moravam longe de Lagos.
Os meus avós paternos tinham uma casa com grande quintal e
um portão de entrada que ficava junto à Rua de Santo Amaro, em Lagos. Um dia,
um homem dirige-se à casa dos meus pais e diz ao meu pai:
-
Senhor Marreiros, acabo de ver um quadro muito triste. Os seus pais estão os
dois sentados em cadeiras ao portão. A sua mãe está num estado lastimoso, muito
suja (ela sofria de aterosclerose e nas crises, sujava-se toda,
dizendo que se estava a lavar) e o seu
pai ali está muito triste. Disse-me que há três dias não comem e ele pediu-me
para vir falar consigo e para a Emília começar a tratar deles. Foi ele que me
indicou a sua casa.
- Eu nem sabia que eles estavam em casa. A
minha irmã, que mora em Lisboa, tinha-os levado para a sua casa. Nós estamos de
relações cortadas já há muito tempo e eles ofenderam-nos muito, principalmente
à minha mulher.
- Ele
disse-me isso, mas pedem-lhes muita desculpa. Que a sua esposa lhes perdoe,
Deus também perdoa. A filha trouxe-os e foi-se embora sem dizer nada a ninguém.
- Bem, vou falar com a minha mulher e vamos
já lá os dois. Muito obrigado, sempre são os meus pais.
Depois o meu pai foi falar com a minha mãe e lá foram os
dois a casa dos meus avós paternos. Assim que o meu avô, José Inácio, viu os
meus pais levantou-se da cadeira.
-
Perdoem-nos, filhos, perdoem-nos! Eu sei que vos ofendemos muito e fomos
culpados de muitas ofensas que vocês receberam, mas estamos arrependidos.
Perdoem-nos!
- Sabe, foram ofensas terríveis, –
disse a minha mãe – mas a vossa situação é muito triste. Nós trouxemos o jantar para os
dois, mas primeiro vão lavar-se e vestir roupa lavada. O Francisco ajuda-me.
-
Obrigado, Emília, obrigado. Que Deus a cubra de muitas bênçãos por tanto bem
que nos faz.
- E ao Francisco também. – arrematou a
minha mãe.
Também me lembro de,
quando tinha por volta dos oito anos de idade e tinha o meu irmão mais novo
menos de um ano de idade, portanto cerca de 1963 – 64, de repente o meu pai
começar a sentir as pernas muito fracas até que passou a não ter firmeza
nenhuma nas pernas e, para andar, fazia-o, amparando-se às paredes e móveis. O meu
pai já tinha deixado o seu emprego na fábrica da cortiça e já tinha montado o
seu negócio na área alimentar com a minha mãe a apoiá-lo e já era proprietário
de um bom gasolino.
Este passou a ser um tempo
de grande aflição para todos nós.
- Francisco, como vamos
fazer? Eu não dou conta de tudo sozinha e contigo não posso contar. – disse a minha mãe com as lágrimas nos olhos. Os filhos já
eram três.
- Tem calma. Não percas a esperança!
Os meus pais percorreram
todos os médicos que conheciam e sabiam ser dos melhores e outros que as
pessoas que, vendo o sofrimento dos meus pais, aconselhavam. Foram feitos todos
os exames que os médicos pediam. Nada, todos os médicos diziam que o meu pai não
tinha doença nenhuma; não apresentava nenhuns sinais de doença.
- Doutor, eu não estou a fingir! É mesmo a sério; eu não
consigo aguentar-me de pé. – disse o meu pai,
desesperado e fazendo um esforço enorme para não desatar num pranto enorme tal
era o desespero por que estava a passar. A loja estava fechada e a minha mãe
acompanhava-o para todo o lado.
- Olhe, sabe o que me
parece tudo isto? Outras coisas, outras doenças… procure outras ajudas e que
Deus o ajude e encaminhe… -
disse-lhe o último dos médicos que consultaram.
E os meus pais passaram
a percorrer esses especialistas por todo o lado e todos lhes diziam:
- Fizeram-lhe um grande mal. Não tenho como ajudá-lo. Se é
pessoa de fé, reze muito, faça promessas… a Deus nada é impossível!
O meu pai então
lembrou-se de o seu avô César lhe ter contado que tinha passado por muito e que
a Rainha Santa Isabel sempre lhe atendeu os seus pedidos e ele também nunca
deixou por cumprir nenhuma das recompensas que prometeu.
Então o meu pai pediu à
Rainha Santa Isabel, na sua muita fé que sempre teve, que, se voltasse a andar
com as suas pernas com o vigor que sempre tiveram, oferecia pão a todos os
pobres, estivessem eles onde estivessem.
Nos dias seguintes,
começou a sentir um calorzinho da cintura para baixo até à ponta dos pés e cada
dia ia sentindo mais confiança até que, um dia, o meu pai sentiu-se com à-vontade
para andar normalmente.
- Isto está. Emília, o milagre aconteceu. Já sou capaz até
de saltar. Olha!
- Tem juízo, Francisco! Olha
que para trabalhos, já basta!
- Não, estou bem. Estou mesmo curado.
Abraçaram-se os dois a
chorar e eu também abracei os dois.
No dia seguinte, o meu
pai encomendou ao fornecedor do pão o triplo do pão que costumava.
- Sr Francisco, como vai conseguir vender esse pão todo? Há
para aí algum casamento?
- Não, é para pagar uma
promessa minha.
- Por causa das pernas?
- Sim.
- Felicito-o e pode contar com esse pão e até mais se for
preciso.
- Obrigado. – disse o meu pai com a voz embargada pela emoção.
No dia seguinte, a quem
era pobre, oferecia o pão que ele/ela vinha comprar à loja e pedia ao cliente
para dizer aos pobres que conhecesse para virem buscar o pão que precisassem
que ele oferecia; foi às instituições de caridade da cidade de Lagos oferecer o
pão que lhe pedissem.
– Sr Francisco, amanhã já não precisamos de comprar pão. Bem-haja! Se houvesse
mais gente assim o mundo estaria muito melhor!
O meu pai punha os olhos
em baixo e as lágrimas escorriam pela cara abaixo e dirigia-se para a porta.
Depois foi aos bairros
mais pobres de Lagos com sacos de pão, fazendo o percurso as vezes que fossem necessárias,
para dar o pão que lhe pedissem e, no dia seguinte, ainda voltou porque o pão
que tinha comprado não tinha chegado e só parou de oferecer quando não havia
mais ninguém que não tivesse o pão que precisasse.
Muitos anos mais tarde,
nos anos oitenta, quando me vi em grande aflição por causa dos esgotamentos
cerebrais que me causaram, lembrei-me disto que os meus pais passaram, mas eu
também vivi.
Gostaria de deixar uma nota para o facto de que o meu pai,
depois de recuperada a sua saúde, ter deixado de beber e de fumar completamente; não
mais o voltou a fazer.
Assim desde crianças que à nossa mesa de refeições não
havia uma garrafa de vinho, pois o meu pai não bebia, a minha mãe já antes
também não bebia e nós crianças também não bebíamos. Os meus irmãos, quando
passaram a ter a sua família e casa, começaram a beber às refeições. Contudo,
mesmo quando nos visitavam ou amigos que os meus pais convidavam e vinha garrafa
de vinho para a mesa nem o meu pai nem a minha mãe nem eu os acompanhávamos.
Muitas vezes diziam ao meu pai:
-
Acompanhe-nos; um copo apenas não faz mal.
- Não, eu não bebo e não bebo mesmo!
-
Desculpe!
Quando se fazia um brinde, eu e a minha mãe sempre tomávamos
um pouco de Porto num cálice, mas o meu pai brindava com sumo de fruta.
Deixar de fumar foi bem difícil para ele, pois fumava desde
os dezasseis anos. Lembro-me de uma vez em que o meu pai contestou algo que a
minha mãe lhe disse num tom que ela não gostou:
-
Francisco, olha bem como estás. Vê como estás a falar comigo; eu não te ofendi.
O meu pai bateu o pé e disse para si próprio em voz firme,
olhando para o chão:
- Não me vences! Não me vais vencer!
E foi para outra divisão da casa. O seu sistema nervoso
acalmou-se e não voltou mais a fumar na sua vida. Acredito que foi pedir ajuda à
Rainha Santa Isabel.
Um dia, já
depois de os meus pais casados há alguns anos, veio para Lagos a primeira
indústria, a fábrica da cortiça. A cidade de Lagos foi electrificada e esse
facto mudou bastante o modo de vida em Lagos. A cidade modernizou-se...
O carvão, o petróleo e
outros bens que o meu pai vendia, deixaram de se vender e as receitas
diminuíram bastante, pois aqueles eram bens essenciais e de boa venda. O meu
pai manifestou as suas preocupações à minha mãe e concordaram em que o meu pai
fosse trabalhar para a fábrica da cortiça porque era um salário pequeno, mas
certo e as despesas eram certas na família.
Mais tarde na sua vida,
o meu pai voltou a ser um empresário de sucesso até ao 25 de Abril de 1974, mas
depois continuou sempre empresário durante toda a sua vida activa. foi proprietário de três gasolinos alternadamente e empresário na área comercial.
O meu pai foi sócio n.o
443 do Clube Artístico Lacobrigense e sócio n.o 745 da
Associação dos Bombeiros Voluntários de Lagos.
O meu pai foi membro do
Apostolado da Oração desde 22 de Agosto de 1993 e membro do Movimento Cruzados
de Fátima desde 17 de Outubro de 1993.
Desde que começou a
receber o jornal “Barlavento” de divulgação com sede em Portimão o meu pai
fez-se assinante deste jornal até que passou a receber também o jornal “Correio
de Lagos” de divulgação. Então desistiu do jornal “Barlavento” e fez-se
assinante do jornal “Correio de Lagos” e foi-o até ao seu falecimento.
O meu pai foi assinante
do jornal diocesano “A Folha de Domingo”. =
O meu pai guardou na
memória muitas coisas que o avô lhe ensinou e que nos repetia de vez em quando:
“Sabes, Francisco, o segredo de uma
vida boa não é ganhar muito, mas sim gastar
pouco. Gastar pouco não é comprar barato que depressa se estraga e lá temos
de comprar novamente ou então faz mal à saúde; pelo contrário, é comprar bom, mas com conta, peso e
medida e ir gastando segundo as necessidades.”
1. “Há dias que encontro
o Dias que me aperta muito a mão.
- Ó Dias, o que dirias
se te pedisse um tostão?
Vou bem, muito obrigado;
mas sempre levo uma pressa.”
2. Quadra popular
Salsa verde na parede
Torce o pé e deita a
rama
Assim eu torcesse a
língua
A quem me deita má fama.
3. À Rainha Santa Isabel
Rainha Santa Isabel
rainha sem igual
pede a Deus pelos pobres
que morrem em Portugal.
Se tu fosses viva
com tuas mãos carinhosas
tornavas a dar a vida
aos pobres tal como
fizeste
transformando o pão em
rosas.❐
Os meus filmes
1.º – As Amendoeiras em Flor e o Corridinho Algarvio.wmv http://www.youtube.com/watch?v=NtaRei5qj9M&feature=youtu.be
2.º – O Cemitério de Lagos
3.º – Lagos e a sua Costa Dourada
4.º – Natal de 2012
5.º – Tempo de Poesia
Os meus blogues
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http://www.custodiosdemaria.pt/ (terço + livrinho
das orações do terço; linda gravura da Senhora do Perpétuo
Socorro + Oração-Pedido)
(livros, música, postais, … cristãos)
http://www.livestream.com/stantonius 16h20 – terço; 17h00 – missa
(hora de Lisboa) http://www.santo-antonio.webnode.pt/