O
Caderno da Minha Adolescência de Maria de Portugal
(até
ao 25 de
Abril)
Venho partilhar convosco este meu trabalho dos tempos da minha adolescência.
Apresentação
Esta
recolha de textos de reflexão escritos na minha adolescência que
medeia a Revolução de 25 de Abril tem a ver com uma necessidade
interior de busca das origens para poder fechar uma fase da minha
vida.
Todo
este segundo semestre deste ano tenho sentido este fecho, esta
conclusão desta fase da minha vida. Isto dá-me uma grande esperança
para o início da nova fase da minha vida que se vai abrindo para mim
agora em 2003. Tenho toda a confiança na nova fase porque será toda
com Deus e a Sua Família.
Os
textos fizeram-me recordar situações e tensões daquela altura que
já estavam completamente esquecidas por mim. Escrevi-os porque
necessitava imenso de comunicar e ser compreendida. A folha em branco
foi o melhor psicólogo que poderia ter e a presença de Deus e do
Bem estavam sempre em mim a apoiar-me.
Foi
interessante verificar como é bom escrever, deixar memória e também
analisar que a minha essência continua a mesma. Os valores que
procurava porque necessitava e não encontrava devido a uma vida
cheia de desencontros; verifico agora que finalmente os encontrei e
que sempre estiveram comigo, só que eu não conseguia encontrá-los
porque não conseguia identificá-los devido aos valores exteriores,
do ambiente, serem outros.
Actualmente
sou a pessoa que se encontrou porque encontrou a Vida, o Amor, a Paz,
a Felicidade, a Liberdade e sou feliz porque a essência da
Felicidade mora em mim. Acabei verificando que estes foram os valores
que tanto busquei na minha adolescência.
Este
texto parece-me mais um epílogo do que uma apresentação. Talvez
seja ambas as coisas: uma apresentação de mim mesma adolescente e
um epílogo da primeira grande fase da minha vida que foi de
busca=Aprendizagem para uma apresentação de mim mesma Mulher a
iniciar a grande fase da Realização.
Deus
sabe melhor do que eu. A mim bastam-me as preocupações de cada
dia.❐
Carpe
diem!
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Lagos,
27 de Abril de 1972
Esta
é a data da festa de despedida do Dr Raul Horta, director da actual
Escola Secundária Gil Eanes de Lagos que na altura se chamava Escola
Secundária de Lagos. Além de director da
escola foi também meu professor; um óptimo professor e muito
humano.
Com
alguma antecedência a minha professora de português, na altura a
Dra Emília Veiga, durante uma das aulas convidou-nos a escrevermos
umas palavras sobre o director para um dos alunos depois ler durante
esta festa em nome de todos os alunos. Salientou que gostaria que eu
não deixasse de escrever porque tinha muito jeito. Assim
incentivada, não deixei de escrever um pequeno texto que lhe
entreguei na aula seguinte.
Passadas
algumas aulas após esta, numa outra aula, a professora disse-nos que
os professores tinham analisado os textos entregues e tinham
escolhido dois textos como os melhores e que, por acaso, encaixavam
bastante bem e eram os dois, textos das duas Carmelitas, que
frequentavam a escola. Os meus colegas imediatamente expressaram o
seu apoio e disseram que eu escrevia muito bem. A professora disse-me
que, do outro texto escolheram a introdução que encaixava
perfeitamente no meu texto, que tinha sido todo aproveitado. O texto
a dizer tinha ficado assim com estava no papel que ela me entregou no
momento. Perguntou-me se eu me incomodava com isso. Eu disse logo que
não. Então ela disse-nos que os professores também me tinham
escolhido para dizer o texto na festa. Eu fiquei apreensiva e ela
disse-me logo que já tinha falado com a outra Carmelita e ela
concordou e até preferia e também o meu texto era a parte maior.
Assim
eu fui uma das convidadas nesta festa de despedida do Dr. Raul Horta
por limite de idade e ele ficou muito sensibilizado com as palavras
que proferi em nome de todos os alunos. Era assim o texto:
Senhor
Director
Venho
aqui em nome dos meus colegas dizer umas palavrinhas ...
Gostaria
que elas fossem belas, mas não tenho pretensões visto que o meu
génio oratório não me ajuda e, além disso, a costureira não
acabou o vestido de seda e ouro com que elas deviam vir vestidas.
Contudo
arrisco porque o que interessa verdadeiramente não são as palavras,
mas os sentimentos e, neste momento, é a saudade e a eterna gratidão
que nos invade.
Acredite,
Senhor Doutor, que nós, vossos alunos presentes e, com certeza,
todos os que se encontram ausentes por motivos de ordem vária; todos
nós, uns com a sua presença, outros com o coração, estamos
reconhecidos ao senhor pela maneira como nos tem dirigido como
director e ensinado como professor; pois que tem sido companheiro e
amigo de todos os que por aqui passaram.
Como
director porque soube manter a ordem entre todos os jovens que aqui
se encontram, dando castigos convenientes a quem os merece e
estimulando os que cumprem o dever a que se obrigaram ao se
matricularem nesta escola.
Como
mestre porque fez sempre o possível para que todos os alunos
compreendessem a matéria que ensinava, explicando-a da maneira mais
fácil e ainda, pisando-a e repisando-a sempre que necessário para
uma melhor compreensão.
Por
nunca ter posto obstáculos a qualquer convite que pudesse enriquecer
culturalmente os seus discípulos; por tudo o que fez por nós, o
muito obrigado, do fundo do coração, de todos nós, rapazes e
raparigas desta escola.
Muito
obrigado, senhor director!❐
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A MÃE
(Primeiro
poema escrito por mim para participar num concurso a nível nacional
entre escolas sob o tema A MÃE em 1969 com catorze anos. Não ganhei
prémio nenhum, mas fez-me sentir como é bom passar para o papel o
que nos vai na alma.)
Mãe!
Que
nome tão doce e lindo
Como
não há outro igual;
Parece
a rosa abrindo
Com
seu perfume, tal qual.
Mãe!
Ó
mãe, ó meu grande amor,
Preciso
do teu carinho
Preciso
do teu calor
P’ra
seguir no bom caminho.
Mãe!
Ó
mãe, quando eu for maior
E
poder ganhar p’ra mim;
Procurarei
te ajudar,
Se
precisares de mim.
Mãe!
Que
bonito quadro fazes
Quando
embalas teu filhinho;
Pareces
Nossa Senhora
Tendo
Jesus ao colinho.
Mãe!
Nome
que traz alegria
E
amor do mais profundo
Até
para os corações
Mais
infelizes do mundo.
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Lagos,
ano de 1973 com 17
anos de idade (composição escolar)
A
vida é algo que pode ser muito lindo e agradável, mas também pode
ser dura e cruel. Tudo depende do carácter da pessoa e, muitas
vezes, também do ambiente social. Apesar de ser jovem, já tenho
idealizado a minha vida. Para mim gostaria que ela fosse assim:
De
aqui a alguns anos, se Deus quiser, tirarei o curso que tenho
pensado. Então empregar-me-ei como professora de jovens. Desejo
imenso comunicar a tantos jovens que menosprezam a vida e que a vivem
pelo lado mau, que a vida é bela e vivemos numa constante felicidade
quando a vida é vivida com pureza, amor ao próximo; procurando
tornar felizes as pessoas que se encontram à nossa volta e ao mesmo
tempo tornando-nos felizes. Também existe muita felicidade em nós
quando se ama a natureza.
Exercerei
a minha profissão e chegarei a minha casa contente por me ter
conseguido realizar nesse dia esperando pela hora de fazer o jantar
ou simplesmente jantar, escutarei música ou lerei algumas páginas
de algum bom livro. E assim sentirei uma felicidade imensa e assim,
mais ou menos, gostaria que transcorressem os dias da minha vida
quotidiana.
Na
altura das férias viria para uma cidade assim como Lagos, se cá não
vivesse e sentir-me-ia imensamente feliz por poder saborear as
delícias de um sol bem quentinho me aquecendo o corpo quando eu
estivesse estendida sobre a areia a apanhar os meus banhos de sol.
Também me sentiria feliz por poder nadar despreocupada e feliz nas
águas calmas das nossas praias algarvias.
Também
seriam muito boas as tardes passadas em piqueniques por esses campos
que existem pelo Algarve a saborear o aroma exalado pelos pinheiros
ou quaisquer outras árvores que existem por aí; andar de balouço e
apreciar tudo o que de belo a natureza tem para nos oferecer. Claro
que algumas férias tiraria para viajar e conhecer outras paisagens e
outras gentes.
Também
haveria dias nas minhas férias em que iria a alguma festa, a algum
baile, ao cinema e ao teatro.
E
assim, metendo entre a beleza da natureza algumas coisas sãs e belas
que as pessoas fazem, gostaria de passar a minha vida.
Pelo
ditado que diz que, com fé em Deus e a ajuda d’Ele tudo se
consegue, esperemos que a minha vida siga, pouco mais ou menos,
nestes moldes.
Parece-me
que uma pessoa que aprecia a natureza, que leva uma vida sã e que
procura fazer algum bem ao próximo, mesmo que se divirta em bailes,
teatro levando uma vida pura; penso que essa pessoa é que se pode
gabar de ter vivido uma vida em plenitude. □
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Lagos,
Fevereiro de 1973 com
dezassete anos
Rainhas do Inverno
Amendoeiras
em flor!
Que
tom de alegria e rejuvenescimento dais ao triste e friorento inverno.
E o sol, vosso amigo, faz o possível para estar sempre na vossa
companhia aquecendo-vos as pétalas macias e perfumadas.
Certo
dia de inverno que imaginava um mau dia porque não me deixaria sair
à rua a passear por causa da chuva e do frio; de manhãzinha abro a
minha janela e que vejo?
Uns
raiozinhos tépidos de um sol que há pouco nasceu, mas que promete
transformar o dia de inverno num esplêndido dia de primavera, a
convidar-me para um passeio.
Aprecio
um pouco mais esse calor tão agradável que recebo e então olho à
minha volta e que vejo?
Umas
singelas, mas lindas florinhas que se encontram colocadas nos ramos
negros das amendoeiras. A brisa traz até mim o perfume delicado,
exalado por essas florinhas de inverno. Então decido dar o passeio
que há pouco o rei-sol me propôs.
Caminho
um pouco e já estou entre estas lindas árvores que escolheram uma
época triste para florescerem e lembrarem aos humanos que mesmo num
ambiente triste e vazio pode florir e ser alegre um coração.
Que
perfume tão delicado e agradável vem até mim!
Faz
nascer dentro de mim uma alegria que pouco a pouco vai aumentando até
me dar uma vontade enorme de saltar e cantar. Então digo:
Bendito sejas, sol,
por me teres convidado a dar este passeio e teres ajudado estas
florinhas a brotarem;
Benditas
sejais, amendoeiras, por me terdes perfumado com o vosso perfume
vindo das vossas pétalas e chegado até mim por esta brisa que me
acaricia;
Bendito sejais,
meu Deus, por terdes posto tanta beleza na Terra e dado um pouco de
alegria a estes seres que pouco sabem apreciar o bem que lhes
quereis.
Obrigada por me terdes
dado saúde para apreciar a natureza e posto alegria em meu coração
nesta manhã de primavera num dia de inverno.
Paro
um pouco a apreciar uma esplêndida amendoeira carregada de milhares
de essas florinhas brancas ou rosa pálido que enfeitam as estradas e
o campo da minha cidade. Estou tentada a tirar um raminho com estas
florinhas para pôr no meu cabelo.
Mas
não, não devo fazer isso! E também para que farei tal? Se tirar
algum raminho com estas florinhas de perfume tão subtil ao fim de
pouco tempo as vossas pétalas perderão o hálito e cairão,
enquanto que na mãe-árvore esse raminho, junto a muitos outros,
vossos irmãos, formam esta tão linda árvore que, como tantas, é
apreciada por mim, pelos meus conterrâneos e por tantos forasteiros
que se deslocam cá para vos apreciar, rainhas do inverno!
Acho
que mereceis bem esse cognome, pois que tantas pessoas se deslocam
das suas casas em passeio para vos apreciar e sentir o vosso perfume.
Que
estranho! Vós unis este Portugal, pois vos encontrais apenas no seu
Sul e Norte. E isso faz-me pensar que, como vós, o amor une as
pessoas que se encontram longe das suas amadas.
Como
vos pareceis com coisas tão belas, sublimes e, ao mesmo tempo,
singelas.
Bem-aventuradas
sejais, amendoeiras do meu Portugal!
□
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Lagos,
Fevereiro de 1973 com
dezassete anos
Neve perfumada
Gente
que passais apressada
Sem
saberdes o que é viver,
Já
vistes as amendoeiras
Com
seus raminhos a florescer?
Olhai
bem para essas flores
Tão
belas e tão singelas.
Oh!
Não lhes façais mal algum
Vede
as pétalas tão belas!
E
seu perfume delicado
Aspirá-lo
enche os pulmões;
Que
bela e linda paisagem
Elas
oferecem aos peões!
Neve
branca e perfumada
Espalhada
pela estrada,
Vós
também dais as boas-vindas
À
primavera que não tarda.
Amendoeiras,
flori, flori
No
meu Algarve quentinho!
Enchei
de flores e beleza
Do
meu Portugal, o caminho!
□
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Lagos,
17 de Março de 1973 com
dezoito anos (composição escolar)
Como
aquela mãe chora a acenar para o filho que se encontra já no barco
que o levará para longes terras, a África, onde irá defender com
honra e heroísmo a sua pátria-mãe, Portugal.
Por
que choras tanto, ó mãe?
Bem
sei que será longa a ausência e que o teu coração pensa apenas
nos perigos que ele irá enfrentar e na incerteza de o tornares a ver
ou não. Acena, sim; despede-te dele, mas não com lágrimas que se
estão tornando um pranto. Não vês que lhe estás a roubar a
coragem e a deixá-lo tão triste. Põe o mais belo sorriso que
puderes arranjar para que ele leve para essas paragens a lembrança
de uma mãe heróica que soube despedir-se do seu filho com um
sorriso nos lábios.
Ele
bem sabe que tu o amas e que te custa esse sorriso; mas fá-lo para o
bem dele, para o teu bem!
Rapaz,
que te encontras dentro do navio a acenar para a tua mãe e teus
parentes. Tens o coração apertado pela despedida que fizeste. É
tão longa, tão incerta esta viagem!... Cá deixas o teu futuro: tua
noiva, talvez tua esposa e filhos e o passado: teus pais, teus
irmãos, teus amigos de infância. O teu coração debate-se entre o
amor à família que para ti acena e em cada movimento dos seus
lenços a brisa traz até ti a saudade, a dor e as lágrimas que seus
peitos oprimem e, por outro lado, o amor à pátria que por ti chama
porque precisa de ti. Ela deu-te o alimento, o ensino, ... Dedica-lhe
tanto amor como dedicas à tua família; ela merece-o.
Vai,
bravo militar, não ligues aos choros e apelos que te faz a família.
Tens-lhes dedicado e continuarás a dedicar-lhes a tua vida. Dispensa
agora uns aninhos à tua pátria.
Vai,
cumpre o teu dever e volta feliz e honrado, na certeza do dever
cumprido! □
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Lagos,
02 de Junho de 1973 com
dezoito anos (composição escolar)
Dia de Portugal
É
dia 10 de Junho! Dia da Raça! Dia de Portugal!
Se
é dia de Portugal, é o dia da tua pátria. Daquela em que deste os
primeiros passos; daquela em que, ao tentares correr e brincar,
muitas vezes tombaste e ela, mãe – como nossa mãe que é – ao
pressentir que ias cair e magoar-te, tornou o seu corpo macio e assim
levantas-te e continuas a correr para espanto dos grandes.
Mais
tarde, quando já homenzinho, quantas maravilhas desfrutaste e
ficaste maravilhado com a paisagem de Portugal.
Hoje
estudas, procuras tornar-te um homem, um homem com letra grande e
ela, mãe zeladora e perfeita, dá-te os conhecimentos de que
precisas através de si: da sua vegetação, dos seus rios e do que
eles contêm, das obras que os teus antepassados lhe ofereceram e que
ela guarda com ternura e amor para enriquecimento da tua geração e
das gerações vindouras.
Mais
tarde, casar-te-ás e então os teus filhos sentirão o mesmo amparo,
carinho e protecção que tu sentiste e continuas a sentir porque ela
nos ampara e protege pela vida fora.
Quantas
vezes triste, saíste do meio do bulício em que te encontravas e
onde ninguém te compreendia e foste ter com ela onde a pressentias
mais: ao pé do mar ou no campo. Então contaste-lhe as tuas mágoas,
por vezes choraste e ela compreendeu-te; tu o sentiste quando, depois
de terminado o teu pranto ou a tua exposição de mágoas, olhaste
para o céu e viste-o claro, lindo, irradiando luz e calor; olhaste
ao teu redor e viste mil e uma florinhas multicolores, árvores com
suas folhas de um verde de rejuvenescimento, ouviste os passarinhos
com os seus chilreios de paz e alegria.
Ou
então, se foste para junto do mar, lençol de águas colhidas pelas
mágoas dos filhos que a não souberam amar e compreender; o mar
sussurrando um hino de paz e louvor ao Senhor, transformou o teu
coração oprimido num coração cheio de compreensão pelo mundo e
alegria; os peixinhos, teus amigos, também te quiseram alegrar dando
saltinhos e brincando uns com os outros até que, por fim, tu riste,
riste e esqueceste todas as tuas mágoas.
Depois
deste desabafo com a tua pátria, voltas feliz para o meio daqueles
que te feriram e compreende-los, tentando esquecer os incidentes que
te fizeram sofrer.
A
tua pátria dá-te tudo isto sem condições. Não sejas o filho
ingrato que quer aumentar o caudal de mar que ela já possui. Tenta
mantê-la bela e sã como tu a conheces. Não permitas que quem a
cobiça, ta roube e lhe tire toda a sua beleza. Ela é tua, defende-a
dos inimigos que te querem tirar a liberdade de possuí-la e
mantém-na jovem, bela e mãe para os teus filhos para que ela lhes
dê a paz, compreensão e amparo que tu lhe conheces.
Que
a voz de Camões, grande amante da nossa pátria, testemunhando o seu
amor a ela, principalmente através dos Lusíadas, chegue até nós e
nos aconselhe e guie na continuação de uma pátria livre e bela que
todos nós conhecemos.
□
----------------------------------------------------------Lagos, 02 de Junho de 1973 com dezoito anos
Portugal
Camões!
Camões!
Teu
nome ecoa dentro de nós
Portugal!
Portugal!
Os
Lusíadas são a tua voz.
Lusíadas,
livro tão lindo
Que
ao mundo Portugal mostrou
Nas
suas belas páginas
Os
heróis portugueses evocou.
Desde
Viriato até hoje
Portugueses
têm lutado,
Honrado
a nossa pátria.
Que
assim continuem a ser
Para
ninguém se sentir humilhado
Ao
gritar bem alto: Eu sou português.
❐
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Lagos,
22 de Junho de 1973 com
dezoito anos
Esperança de férias melhores
Férias!
Palavra
que soa tão bem ao ouvido; sinónimo de liberdade, de passeios, de
adeus aos livros de estudo ...
Nos
últimos dias de aulas a palavra férias parece-nos o paraíso,
algo difícil de alcançar, que nunca mais chega...
Nos
primeiros dias de férias, só nos interessa pular, saltar, brincar,
conversar, passear, ...
A
nossa consciência pede-nos que gozemos, divertamo-nos o mais
possível. Nada de ler livros que dão cabo dos olhos!
Mas
passados os primeiros dias de êxtase, estas já não têm tanto
valor para nós. Já nos apetece ler uns livrinhos, entre outros, de
aventuras ...
Enquanto
nos entretemos na leitura de certa aventura, sonhamos que bom seria
se nas nossas férias também existissem algumas daquelas aventuras.
Que emocionante seria e que ricas férias nós teríamos!
Nas
férias passadas na cidade não sucede nada de diferente; nem uma
aventurazinha pequenina para variar.
No
meu caso, estas que estão a decorrer têm sido passadas na cidade,
na minha cidade – Lagos. No princípio, ia todos os dias para a
praia e achava pouco o tempo que lá estava, apesar de ser sempre o
mesmo tempo que agora passo, mas agora já não me dão tanta alegria
aquelas horas que passo estirada ao sol, bronzeando-me um pouco mais
ou nadando vagarosamente nas águas calmas e amenas da praia de S.
Roque. Gosto de estar lá, mas já não é um gosto tão excitante
como nos primeiros dias.
Talvez
seja porque sinto a falta das minhas amigas que no princípio me
acompanhavam nas minhas idas à praia ou então o desejo que me vai
nascendo no espírito de mudar de ritmo, de mudar de actividade ...
Talvez
por causa desta ansiedade o dia cinco de Julho ainda me parece tão
longínquo.
Que
acontecerá nesse dia, 05 de Julho, para o esperares com tanta
inquietação? (podes lembrar-te de perguntar-me).
Será
o dia do teu aniversário?
Será
o dia do aniversário de alguém da família?
Será
a chegada de alguém que se encontra ausente?
-
Não! (responder-te-ei eu). Nesse dia não acontecerá nada do que
possas imaginar.
Será
apenas o dia em que começam as actividades para a juventude –
dirão as pessoas que conhecem o assunto.
Mas
não. Para mim não significa apenas isso. Significa muito mais. Para
mim, será o dia em que iniciarei umas férias diferentes; totalmente
diferentes daquelas que tenho passado. Aprenderei viola em conjunto
com jovens da minha idade ou fotografia; espero conversar com eles e
até talvez criar amizades. Quem sabe!
Também
tenciono aperfeiçoar-me em natação e lá também tenciono fazer
novos amigos.
Ajudai-me,
meu Deus, para que os meus desejos se realizem sem desapontamentos.
Dia
05 de Julho, chega depressa!
Estou
à tua espera!
❐
N.A.:
Quando chegou o
dia das aulas começarem, lá estávamos nós todos na hora marcada e
no local que nos foi informado pelo Centro para a Juventude para
iniciarmos a nossa aula de viola. Esperámos, esperámos e qual não
foi o nosso espanto quando a porta se abre e o professor Anatólio
Falé aparece e diz-nos que as violas que tem já estão todas
ocupadas e não pode receber mais ninguém. Lembro-me que disse que
tínhamos chegado de acordo com as horas que no Centro para a
Juventude (por cima da Biblioteca da Gulbenkian) nos tinham informado
e um dos rapazes até disse: - E
eu cheguei antes do tempo.
Então o professor mandou-nos regressar ao Centro e informar que ele
não tinha mais violas disponíveis. Pouco convencidos lá fomos. A
funcionária inscreveu-nos então no curso de Fotografia com o
professor Manuel Montes.
O
tempo passou e hoje compreendo o que se passou. As violas foram todas
entregues aos alunos que o professor tinha na Escola de Música.
Estes cursos de férias tiveram a duração de dois meses e houve uma
festa de encerramento das actividades com a presença das pessoas
mais importantes da Câmara e o professor Falé apresentou os seus
alunos que tocaram várias peças musicais. Claro que isso não
poderia ter sido feito por nós que não tínhamos o básico sequer
para tocar viola.
O
grupo de Fotografia onde nos inserimos fez uma exposição das
melhores fotos, todas assinadas pelos autores, nos Paços do Concelho
– Câmara Municipal durante uma semana e foram avaliadas por uma
equipa de quatro profissionais da matéria que atribuíram os
primeiro, segundo e terceiro lugares. Na festa de encerramento, houve
a entrega das taças e uma foto minha foi classificada em primeiro
lugar. Não fui a esta festa, mas o Sr Manuel Montes entregou-me
depois a taça que ainda guardo.❐
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CONTO
A folha que viajou
Chegou
o outono e com ele certos dias de vento e dias em que o sol já não
dá tanto calor como no verão.
Num
cantinho do Algarve certa árvore, como tantas outras, é sacudida
pelo vento do outono despindo-a do vestido que a cobriu na primavera
e verão. Esse lindo vestido de verde lindo composto de mil e uma
folhinhas que outrora foram tão verdes e que agora já vão
amarelecendo; enfim, envelhecendo.
Essas
folhinhas tentam agarrar-se aos braços da mãe-árvore:
-
Querida mãezinha, não nos abandones. Não permitas que o vento mau
nos leve para as terras sem fim. Querida mãezinha, queremos
continuar junto de ti. Protege-nos!
A
mãe-árvore faz a sua seiva correr com mais força para alimentar as
suas queridas filhas para que elas tornem a verdejar e assim se
possam aguentar um pouco mais. Um pouco mais – sim! Pobre coração
de mãe. Bem sabe que é uma ilusão bastante grande; que de nada
serve este tão grande esforço que se encontra a fazer.
Todos
os anos se repete. Chegando o outono o vento vem roubar-lhe as
filhinhas e deitá-las para o mundo; um mundo que, ao vê-las
solitárias, franzinas e sem cor, nem sequer se digna a lhes oferecer
um olhar. Espezinha-as, muitas vezes de cabeça erguida caminhando,
caminhando sempre, sem no fundo saber para onde: se para o bem; se
para o mal.
Crianças
vergastam-nas, espezinham-nas, dão-lhes fogo, rasgam-nas sem um fim
definido; apenas brincar e ... quanto mais maldade cada um fizer,
mais importante será aos olhos dos companheiros.
Triste
objectivo este!
Aquele
coração amargurado sabe, conhece bem isto tudo. Tantas vezes tem
observado este mundo cruel que à sua volta se desenrola. E por fim,
num último esforço diz:
-
Queridas filhas, bem as queria segurar e mantê-las sempre aqui,
junto de mim povoando o meu corpo. Bem queria! Mas este vento maldito
não deixa; não nos larga e parece que cada vez sopra mais forte ...
Adeus,
queridas filhas, que Deus vos proteja e a sorte vos sorria e que
tenham melhor futuro que a maioria das vossas irmãs.
Dizendo
isto desatou a chorar, num choro convulsivo e amargurado. Nisto uma
das folhinhas, a mais novinha, ainda com algum verde e portanto mais
segura do que as outras, diz:
-
Querida mãezinha, não chores. Eu fico perto de ti a consolar-te, a
conversar contigo. Deixa lá, não te rales; vamos divertir-nos
imenso. Bem vês, o vento não consegue levar-me; estou mais forte do
que as minhas irmãs. Coitadas, a maior parte já partiu, já se foi;
levadas nesse sopro forte do Vento Norte. Para onde, meu Deus?
Arrancadas
da mãe, desprotegidas, sem destino. Que triste fim. Mas descansa! Eu
far-te-ei companhia. Ele que sopre o que quiser. Dos teus braços não
me vai arrancar porque eu não deixo. Não é assim, mãezinha?!
©
Sim, minha filhinha, será assim.
-
Mãezinha, que bom que é estar ao pé de ti. Tu alimentas-me, tentas
brincar comigo, proteges-me e ... ofereces-me o teu amor, o teu amor
tão bom sem o qual não saberia viver. Como é bom estar ao pé de
ti. E eu também te ofereço coisas. Não é assim, mãezinha? Eu
dou-te a minha alegria, brinco contigo e dou-te todo o amor que um
coração de folhinha pode conter. Tu gostas do meu amor, não
gostas, mãezinha?
©
Sim, filhinha. Eu adoro o teu amor porque te adoro a ti. Tu és o sol
da minha vida. se não fosses tu com certeza já teria morrido de
tanta solidão e desgosto. Eu dou-te a seiva física que te mantém
junto a mim e tu dás-me a seiva moral sem a qual eu já não
viveria. Que o vento se afaste e nos deixe assim ainda por muito
tempo, é o que eu peço aos céus.
-
Nós vamos viver ainda muito tempo juntas, não vamos, mãezinha?
Sabes, mãezinha, ao ouvir a tua voz; uma voz linda com alguma
alegria e esperança, mas também com muita melancolia; essa
melancolia trespassou-me e tornou-me também um pouco melancólica.
Isso deu origem a que me lembrasse das manas. Que será feito delas?
Qual terá sido o seu destino? Já terão morrido muitas?
Quantas
perguntas das quais nunca obterei resposta. Como é triste a partida
e a ausência de alguém que nos é querido. No auge da nossa alegria
e durante os nossos momentos de tristeza, a sua imagem chega-nos e
enche-nos de saudade. Faz com que meditemos um pouco sobre a vida e
sobre o amor. Pois isto é a vida; a vida é amor e a vida é
maravilhosa, não é, mãezinha?
2.ª
parte
Algum
tempo decorreu. O outono estava quase no fim e o inverno ia-se
aproximando e com ele o vento forte e a chuva grossa.
A
tal folhinha já não se encontrava tão viçosa e com tanta
resistência como na altura em que as outras folhinhas, suas irmãs,
partiram. Agora já estava um pouco amarelecida.
Certa
noite soprou um vento muito forte e a tal folhinha, que nessa altura
estava adormecida, acordou sobressaltada ao sentir-se empurrada e
grita:
-
Mãezinha, mãezinha, que está acontecendo?
-
Mãezinha, o vento está a empurrar-me como da outra vez que nos
levou as manas. Vai embora daqui, vento mau!
Mas
o vento continuou a soprar, cada vez com mais força e ela, sentindo
as forças a faltarem-lhe, exclama muito aflita:
-
Mãezinha, o vento vai separar-nos. Vai levar-me para longes terras,
afastando-me de ti, do teu coração e do teu carinho. Tu não me
podes auxiliar e eu não posso aguentar mais. Como pôde isto
acontecer? Nós tínhamos combinado nunca nos separarmos.
Nisto
um sopro mais forte e a pobre folhinha lá foi transportada nos
braços fortes do vento. Repetiu muitas vezes entre soluços até
ficar sem forças:
-
Adeus, mãezinha, querida mãezinha. Adeus para sempre!
A
pobre mãe viu-a abalar com os olhos rasos de água, a soluçar e nem
forças teve para lhe dizer um adeus.
O
vento continuou a soprar, levando-a cada vez para mais longe.
A
triste e descontente folhinha viu assim coisas que lhe pareceram tão
estranhas, esquisitas. Mas também viu outras que, embora tivesse
visto apenas de relance, tinham-na encantado.
A
certa altura, o vento começou a abrandar até se transformar numa
brisa. Então a folhinha foi baixando até que pisou solo, mas coisa
estranha para ela; o solo era branco, muito branco como ainda não
tinha visto e frio, muito frio como nunca sentira. Pois pudera,
aquele chão que ela achara tão esquisito era neve que se tinha
formado havia pouco tempo.
A
triste folhinha encontrava-se numa encosta e essa brisa fez com que
ela fosse escorregando, escorregando. Ela ia dizendo de si para si:
-
Querida mãezinha, quantas saudades eu tenho de ti. Parece-me que foi
há séculos que esse maldito vento me separou de ti. E que frio, que
frio tão grande que sinto. Que falta me faz a tua seiva e o calor
dado por ela. Por nada trocaria esse lugar com o calor dos teus
braços e o rico cantinho onde nasci, aquecida por aquele solinho
sempre quentinho e sempre presente que todos os dias me acolhia.
Quantas
saudades, quantas tenho de ti e de tudo isso. Do senhor que nos
tratava; do cãozinho que se sentava à nossa frente e se punha a
fitar-nos com aqueles olhinhos meigos e inquiridores a verificar se
havia algum passarinho pousado nalgum dos teus ramos, querida
mãezinha.
E
das crianças que à nossa volta pulavam e saltavam e também faziam
rodas. As suas presenças, quanta felicidade, nos punham nos
corações. E o sol, sobretudo o sol que nos aquecia e fazia sermos
maiores e mais fortes e também mais alegres. Como aí tudo é belo e
aqui tudo é triste e medonho!
Ao
rolar pela encosta a folhinha exilada foi cair num regato que corria
bastante depressa por se encontrar numa encosta. E a folhinha
exclama:
-
Ai, ai, triste de mim! Isto ainda é pior do que aquela encosta em
que escorregava. Esta água, sinto-a muito mais fria e já estou toda
molhada. Com que força esta água me empurra. Para onde irei agora,
meu Deus? Que irei encontrar?
Aquele
regato vai engrossando e tornando-se cada vez maior. Pelo caminho a
pobre folhinha vai encontrando pedras e exclama:
-
Ai, que dores tenho. Não basta a água estar tão gelada senão
ainda ir batendo em pedregulhos que me amachucam e quase me desfazem.
Ai, ai, quem me socorre?
Gritou
a folhinha, mas ninguém apareceu nem ouviu nada além do seu próprio
eco. Que fim te estará reservado?
Será
melhor ou pior que o das tuas irmãs?
Ou
será simplesmente igual?
3.ª
parte
As
lamentações da pobre folhinha iam decorrendo neste estilo e a
triste lembrava-se cada vez mais do seu querido cantinho no Algarve
onde nasceu e desta maneira o seu horror àquela terra onde estava,
ia aumentando porque embora para os nativos de lá fosse bonita e
talvez boa (quem lhe obrigaria a ela dizê-lo?) para ela não lhe
despertava a menor atenção. E assim a sua saudade ia aumentando
cada vez mais até ao ponto em que ela só dizia:
-
Meu Deus, fazei-me este favor. Deixai-me morrer na terra onde nasci;
aos pés da minha mãe. Por favor, sim?
E
ia dizendo isto entre soluços muito fortes.
De
repente, sem ela dar por isso, levantou-se uma brisa que vinha em
sentido contrário à corrente da água do regato que empurrava a
pobre folhinha. Essa brisa foi aumentando até se transformar em
vento forte como o que a trouxe dos braços da sua mãe.
Agora
a folhinha solitária encontra-se impelida pela corrente na mesma,
mas existe algo que não a deixa correr livremente como momentos
atrás – a força do vento. O vento consegue abrandar a corrida em
que ela ia, sem querer.
Nisto
a folhinha passa por uma queda pequenina desse regato e, sem que a
folhinha dê por isso encontra-se outra vez nos braços do vento. A
sensação que ela agora sente é bastante diferente da que sentia
quando o vento a deslocou do leito maternal para aquele sítio
horrível onde nem o amigo sol tinha para a confortar. Esse só
aparecia lá muito ao longe e os seus raios tocavam tão
delicadamente a água do regato que nem um leve calor o seu corpinho
frágil sentia.
Agora
sente uma sensação de alívio. Encontra-se confortada nestes braços
fortes, pois leva no coração a ténue esperança de voltar a ver a
sua terra e a sua querida mãezinha, tão só e abandonada.
Os
seus olhos já não choram. O seu corpo já esqueceu os tormentos que
passou e, apesar de o vento a fazer andar às voltas, ela agora já
vê com outros olhos os lugares por onde passa e já pensa:
-
Que lindo jardim aquele! Que engraçado, as crianças a construírem
um boneco de neve. Quem sabe, se não fosse este frio, talvez
gostasse de morar aqui.
Os
seus pensamentos correm assim porque no seu coração já não existe
a dor, o sofrimento, o tormento. No seu coração vai aumentando um
calor que se vai transformando em alegria à medida que ela vai
sentindo o seu corpinho mais quente. Tudo isto porque o sol ia
ficando cada vez mais quentinho e ela já se sentia próximo da terra
onde nasceu.
4.ª
parte
Com
que infinita gratidão a folhinha olhava para o céu e imensamente
agradecida, pensava que Deus não a tinha abandonado, pois ouviu o
pedido que ela Lhe fez com tanto fervor e prestou-Se a atendê-la
para felicidade da (pobre) agora rica folhinha.
E
ela vai dizendo:
-
Que bom sentir de novo este sol tão querido; ver tantas árvores
iguais à minha mãe e com tantas folhinhas novas. Terá a minha mãe
também folhinhas novas? E aquele regato, como serpenteia
alegremente acariciado por este sol tão quentinho. Nem por sonhos se
pode compará-lo àquele regato frio e cheio de pedregulhos que me ia
desfazendo. Que vejo acolá? Parece a minha mãe!
Oh,
meu Deus, será verdade que poderei tornar a vê-la, conversar com
ela e deitar-me a seus pés? Como Te estou agradecida. Grata, muito
grata, meu Deus.
Efectivamente
era a sua mãe que se encontrava a curta distância. O vento, seu
amigo, trouxe-a de volta e depô-la a seus pés. A folhinha
despede-se do vento dizendo:
-
Adeus e muito obrigada por me teres trazido para junto de minha
mãe. Muito obrigada e boa sorte!
Voltando-se
para a mãe diz:
-
Querida mãezinha, não me reconheces? Sou a tua filha. A última
a deixar-te. Aquela que te contou estórias e brincou contigo quando
tu estavas apenas com ela. Estou esfarrapada e sem cor. O gelo
queimou o meu vestido em certos lugares; mas, mãezinha querida, não
me reconheces?
©
Claro que te reconheço, minha querida filha. Os olhos de uma mãe
reconhecem sempre o que lhe pertence. Querida, como estás estranha!
Pensei tanto em ti! Senti tanto a tua falta! Agora a primavera já me
deu novas filhinhas para as alimentar e ajudar a crescer, mas nunca
me esqueci de ti nem das tuas irmãs. Ainda sinto a dor que a vossa
partida me causou.
Mas
estou a aborrecer-te. Deves ter imensas coisas para me contar. Deves
ter vivido imensas aventuras. Querida, conta-me tudo que estou
ansiosa por ouvir-te. Conta-me, sim?
E
a folhinha, que outrora se encontrava nos braços de sua mãe com o
seu vestido muito verde, impecável; encontra-se agora a seus pés
com um vestido todo roto e sem cor. Mas em seus corações nada disso
interessa, nem sequer repararam. O que interessa e muito é
encontrarem-se de novo juntas matando saudades, tantas!
A
sua mãe ouve atentamente as narrativas e não menos interessadas
estão as suas novas irmãzinhas que se extasiam, maravilhadas com
tantas aventuras. Terminada a narrativa a folhinha diz:
-
Ai, como me sinto cansada. Mãezinha, posso deitar-me a teus pés e
tu agasalhas-me e abrigas-me do vento? Que bem me sinto aqui! Que
sono! Até logo, queridas manas e mãe.
Assim
a folhinha que parecia ter um destino igual a tantas outras,
regressou para junto de sua mãe e do seu sítio e ali viveu o resto
dos seus dias, alegre e feliz, até se transformar em cinzas e
desaparecer. □
----------------------------------------------
Lagos,
Julho de 1973 com
dezoito anos
Cantinho
Abençoado
Que
bem e feliz me sinto
Neste
cantinho do lar materno.
Aqui
penso, recordo e pressinto
O
que será a minha vida
E
sentada escrevo o que se passa no interno
Do
meu coração e da minha alma.
Nestes
momentos de quietude
E
solidão lembro as férias
Diferentes
que passei em plenitude.
E
sem deixarem de ser lérias
As
recordo, estas ligando
Ao
meu futuro e procurando raízes
Em
certos gestos e palavras
Que
o vento foi levando.
Futuro,
bola de cristal opaca
Que
constantemente tentamos abrir
Mas
por mais que se tente,
Só
parcialmente o podemos construir.
Serás
belo, feliz? mas o presente
Não
o deixa sequer bulir.
Meu
futuro, futuro meu
Sem
o qual não viverei
Diz-me
em qual sonho meu
O
teu rosto eu verei. ❐
Lagos,
Outubro de 1973
--------------------------------------
Sol
Sol,
luz bem-aventurada
Do
nascer ao seu pôr,
Dado
por Deus a todos os homens
Para
mostrar quão grande
E
puro é o Seu amor.
O
dia com o nascer do Sol começa
Assim
como a faina de todo o ser:
A
flor suas pétalas estende,
Os
passarinhos seus chilreios soltam;
E
não existe nada que impeça
A
maravilhosa coisa que é viver.❐
Lagos,
Outubro de 1973
------------------------------
Coração Sonhador
Que
passarinhos
Alegres
e voadores
São
os meus 18 anos
Tão
sonhadores.
Deram-me
um nome
Um
ser me descreveram
E
com toque de magia foi tornado
Em
meu príncipe encantado.
Carta,
querida amiga
Vê
se na realidade
Esse
ser me foi dado
Por
Cupido, em verdade.
Vai
depressa à sua mão
Traz
depressa companheira
Que
me abra dele o coração
Para
aí plantar minha roseira.
Coração
que doido és
Imaginando
coisas tais
Que
à nascença podem morrer
Como
sucedeu a sonhos iguais.
Coração,
voa baixo.
Lava-te
com realidade.
Não
tragas mais ilusões;
Traz
um amor de verdade. ❐
Silves,
24 de Novembro de 1973
--------------------------------
Comboio das 14:08h
Comboio das 14:08h
Vagaroso e
sonolento,
Pareces uma lesma
A caminhar, lento
... lento ...
Tuas paragens,
Tua corrida
Sem velocidade
Desloca-nos no
tempo
Aos anos remotos
De reis e
fidalgos.
Que desperdício
de tempo
Nas tuas
carruagens
Sentarmo-nos;
Mas talvez não
seja tanto
Pois dás tempo
Para pensarmos.
Mas no entanto
O dia está tão
lindo!
Nem parece dia
De fins de
Novembro.
O céu claro e
limpo,
Um sol bem
quentinho,
Árvores e campos
Verdejantes,
Um desejo enorme
de passear.
Mas tal não farei
Porque tenho
apetite
E para casa irei.
Assim esse passeio
Tão bom e
agradável
Será guardado
Para hora
memorável. ❐
Lagos,
28 de Novembro de 1973
--------------------------------------
Isabel, minha colega
Choraste,
Isabel
Choraste;
Porque pensaste
Que o teu sol
Deixou-te
Porque pensaste
Que o teu sol
Deixou-te
E
partiu.
Voltaste,
Isabel,
A
rir, a brincar
Porque
o teu sol
Não
te abandonou,
Mas
sim, voltou
A
mais te amar.
Pulas
e ris
E
brincas agora
E
pela vida fora
Assim
farás;
Porque
para te aquecer
E
compreender
O
teu sol terás. ❐
Lagos,
30 de Novembro de 1973
------------------------------------------
Tarde
no castelo
Ar
puro
Sol
quentinho
De
tarde de inverno
Aqui
se aspira
Aqui
se sente.
Que
quietude
Por
aqui se sente
Que
paz entra em nós.
Bem
hajas, D. Sancho,
Rei
dos nossos avós.
O
vento perpassa
Pelas
folhas movendo-as;
Ouve-se
uma canção de embalar ...
Vozes
de crianças soam
E
eu encontro-me a voar.
Tarde
de inverno
Em
mim ficarás
Como
esse bater de asas
De
pomba voando
Não
sei para onde. ❐
Silves,
26 de Dezembro de 1973
----------------------------------------
Os
meus porquês ...
Hoje
estou cheia de porquês ...
Apetecia-me
escrever-te e relatar-te tudo o que sinto: os meus anseios, os meus
desejos, a minha necessidade de voar ... de ser livre.
Poderia
eu dizer-te isto tudo?
Poderei
contar contigo como meu outro eu?
Até
aqui os meus gritos não têm passado de mim correndo em circuito
fechado, mas sinto que não poderei continuar assim por muito tempo.
Sinto-me rebentar ...
Preciso
de alguém a quem contar os meus desesperos; que me dê a razão dos
meus porquês; que me dê a vida porque eu só tenho vegetado. Serás
tu esse alguém?
Ou
vejo em ti esse alguém apenas porque estou quase a explodir e tu me
surges como tubo de escape.
Quando
terei a certeza de o ter encontrado?
Quando
o encontrarei?
Alguma
vez tal sucederá?
Quando
poderei gritar cá para fora tudo o que sinto?
Mais
perguntas sem resposta que hoje têm aflorado em mim.
Por
que razão tenho cabelos brancos apenas com dezoito anos?
Por
que razão não posso pintá-los, se tantas os pintam sem tê-los?
Por
que hei-de ter sempre algum desespero, alguma apoquentação que me
impeça de ser feliz?
Por
que não posso usar os cabelos brancos que na minha cabeça
apareceram sem eu os querer?1
Qual
a diferença entre os ter agora ou quando já for velhinha?
Quererá
dizer que não chegarei à idade dos cabelos brancos?
Que
me importa morrer agora, se eu não vivo; se ainda não vivi.
Por
que razão me apoquento com eles se há quem pinte os seus de branco?
Por
que razão não posso ir passear sozinha pelos campos e praias?
Por
que razão não posso ir ver o futebol sozinha?
Por
que razão não posso viver sozinha?
Por
que razão sinto falta de alguém?
Que
me impede de correr, saltar e de gritar todas as mágoas que povoam o
meu coração?
Porquê
esta ânsia de não sei quê que não me deixa ser feliz?
Se
analisar bem, não existe directamente nada que me impeça de fazer o
que desejo; o que me impede é apenas a sociedade representada em mim
pela consciência (que em mim é tudo) e que me mantém presa,
encarcerada numa prisão onde daqui a pouco não poderei nem
respirar.
Preciso
de alguém a quem contar tudo isto; que me conte também os seus
problemas; que me fale e discuta os meus problemas para que eu ouça
outra voz que não seja a da minha consciência ou do meu eu; que me
compreenda e me ajude a dar um passo em frente de tudo isto. Que me
ensine a viver!
Se
existe alguém que completa o meu eu por que não aparece e me diz:
-
Estou aqui! Sou quem tu esperas há tanto tempo. Conta comigo! Sou o
teu amigo fiel, o companheiro da tua vida. Ajuda-me a viver que eu
ensinar-te-ei a viver. Não sejas mais infeliz. Tens-me aqui; tens-me
a mim.
Se
tens de aparecer, aparece já! Não demores mais porque não poderei
esperar muito mais tempo.
Se
tu não existes; se não virás, meu Anjo da Guarda, ajudai-me a
viver de maneira diferente; dai-me o caminho da felicidade que está
reservada para mim; mas, por favor, não me façais criar ilusões
que para mim são cruéis.
Não
posso viver mais tempo com o coração fechado na mão, trancado à
chave. Se tens de vir, vem já! ❐
Lagos,
02 de Fevereiro de 1974
-----------------------------------------
Que
sei afinal?
Que é a vida?
- Não sei!
Que é ser livre?
- Não sei!
Que é amar?
- Não sei!
Que sabes, afinal?
- Apenas sonhar!...
Lagos,
13 de Fevereiro de 1974
-------------------------------------
A
vida por mim esvoaça
Sem
dela me aperceber;
Assim
como esta paisagem
Que por mim passa a correr.
Lagos,
21 de Fevereiro de 1974
--------------------------------------------
With
the baby’s birth
Begins
a new life,
A
young being in the Earth
Has
just arrived.
(À
minha correspondente americana)
---------------------------------------------------
Borboleta
Borboleta
voando
Para
onde irás?
O
além será o objectivo
Sem
objectivo preciso
Do
teu caminho.
Em
flores tu poisas
E o
seu aroma aspiras,
E
vais levando a vida
Voando,
aspirando e poisando
Em
belas e singelas flores.
O
teu último suspiro
Ninguém
o vê ou sente,
Mas
apesar de ti dizerem mal,
Tu
fazes parte da natureza
De
tudo o que é natural.
Muitas
vezes o meu pensamento
Acompanha-te
e contigo
Gostaria
de ir voando,
Ser
livre e leve como tu
Em
Amor o mundo transformando.
Mas
sou outra espécie de ser
Aquele
que tem inteligência
E
preso à terra vive,
Mas
meus pensamentos esvoaçam contigo
E a
liberdade em mim revive.
Adeus,
borboleta,
Companheira
da minha alma!
Silves, 21
de Fevereiro de 1974
-------------------------------------------------------
Carnaval
de 1974
O
Carnaval por mim passou
E
dele não me aproximei,
Mas
ele ao pé de mim veio
E
para mim representou.
O
enterro do Entrudo
Ao
pé de mim passou
E eu
ri maravilhada
Com
o que ali se mostrou.
Um
homem com uma cruz e um pincel
Molhando
num balde de água
A
todos baptizando
E
molhando com grande mágoa.
Este
acompanhado do sacristão
Lá
seguia à frente do morto,
Acompanhado
de gritos e choros
Lá
ia muito sério e absorto.
A
pobre viúva, coitada, com vestido
Vermelho
e lenço preto,
Com
grande sentimento e gritaria
Lá
seguia no cortejo.
Homens,
mulheres e crianças
Mascarados
por mim desfilaram
E a
sua alegria espontânea
A
todo o mundo mostraram.
Um
grupo de três rapazes
Alegres
e muito divertidos
Tocaram
e cantaram
De
mulher vestidos.
Todos
me divertiram
E me
deram alegria
Mostrando-me
o Carnaval
Que
sem eles não veria.
Pessoas
enfarinhadas
Todas
branquinhas
Esfregas
deram e receberam
Até
as criancinhas.
Isto
tudo vi e apreciei
Sem
da minha casa me deslocar,
Pois
os meus pais não me deixam
Nas
festas de Carnaval entrar.
Obrigada,
meu Deus,
Pelo
Carnaval que me deste,
Que
me lembrou que sou
Uma
rapariga de 18 anos
Que
Tu fizeste.
Lagos,
28 de Fevereiro de 1974
-----------------------------------------------
Um
dia recordando outros ...
Hoje,
Quarta-feira de Cinzas, está um dia maravilhoso de primavera com um
céu azul límpido, um sol ameno e uma brisa vagueando; enfim um dia
maravilhoso para passear.
E eu
que gostaria tanto de ir dar uma volta por aí e tirar fotografias!
Encontro-me aqui sentada no terraço da minha casa a gozar este
fresquinho e a desabafar escrevendo porque não posso ir passear.
E
não posso ir passear porque a minha amiga Augusta que anda em
Medicina, vai agora embora no comboio das 17:00h para Lisboa porque
tem dia um exame de Ecologia e, por isso não posso ir passear com
ela. Também aos meus pais não lhes apetece ir passear e
encontram-se ali para dentro sentados no sofá: o meu pai quase a
dormir, a minha mãe a fazer renda e os meus irmãos a ler o Tio
Patinhas.
Estou
farta de lhes dizer que, quando for independente, me pagarei destas
restrições todas que me fazem. Mas realmente apetecia-me imenso ir
dar um passeio como os que dei no sábado e no domingo, dias vinte e
três e vinte e quatro, com a Augusta e com o namorado e o irmão
dela. Só me faltou a máquina fotográfica e hoje apetecia-me imenso
tirar fotografias.
No
dia vinte e três, por volta das 18:00h fomos passear pela avenida
até ao cais. Subimos ao miradouro da Praia Formosa. Conversámos com
o Júlio Barroso e a Ana Maria Quintas. Voltámos pelo centro da
cidade e regressei a casa cerca das 19:30h muito contente e feliz
porque é destes passeios que gosto.
No
dia vinte e quatro, um pouco mais cedo, fomos passeando até à Ponta
da Piedade. Esperámos até ver o sol desaparecer completamente no
horizonte e regressámos apanhando, pelo caminho, lírios do campo e
mimosas. O sol pôs-se às 19:15h e cheguei a casa perto das 20:00h.
Fiquei
maravilhada com o passeio e senti uma grande paz de espírito e
felicidade tranquila. Soube-me tão bem ir andando devagarinho,
ouvindo o canto dos passarinhos e dos grilos e sentindo aquele puro
ar campestre e o sol tão ameno.
Era
um destes passeios que me apetecia dar hoje. Amanhã já terei aulas
e começará a vida do dia-a-dia com pontos próximo, já marcados.
Nestas férias é a primeira vez que escrevo ou leio. Tenho arrumado
a casa, feito renda, tudo o que não faço em tempo de aulas.
Tenho
muita pena de não ter recebido ainda carta do meu correspondente em
resposta da que lhe escrevi no meio do mês de Janeiro, mas já não
lhe escrevo enquanto não receber resposta. Se calhar nunca receberei
e tenho pena por isso.
Ouvindo
música e escrevendo ou lendo eis como me parece que passarei esta
tarde de Quarta-feira de Cinzas, tão linda em que me apetece passear
e tirar fotografias e me encontro aqui sentada com os meus dezanove
anos se aproximando cada vez mais.
Tanta
gente se diverte e goza, mesmo essas que estão quase à espera que o
seu bebé nasça. Só eu não!
Adeus,
mocidade, que não vivi e que vai desaparecendo sem eu dar por isso
porque não vivo ...
Lagos,
28 de Fevereiro de 1974
---------------------------------------------------
Eu
sou alguém!
Quem
és tu?
-
Eu? Alguém!
Para
seres alguém
Tens
de trabalhar
E
contribuir
Para
o progresso.
Só
assim és alguém ...
Pois
sim.
Eu
faço por isso.
Por
isso me considero alguém;
Alguém
que procura
Fazer
bem a outrém
Progredir
e contribuir
Para
melhorar o seu país.
Tento
marcar
A
minha presença
Neste
mundo em desequilíbrio,
Mas
com fé e equilíbrio;
Tentando
entrar no grupo
Dos
que o tentam equilibrar
Sem
o menosprezar.
Para
que possa gritar:
-
Neste mundo sou alguém!
Com
verdade e firmeza
Aqui
deixo a minha presença
E
com ela me desvendo
Assim
como o povo
Que
em mim estão vendo!
Lagos,
23 de Março de 1974
-------------------------------------------
A
liberdade da mulher existe?
Que
é a liberdade da mulher?
Onde
está a sua liberdade?
E a
felicidade
Quando
para ela chegará?
Quando
é livre
Quer
prender-se, pois
Julga
que a felicidade
À
porta bateu.
Ao
prender-se
Vê
que a felicidade
Deixou
fugir.
Esse
a quem ama
Não
a trata como um ser,
Mas
como objecto
Sem
valor ou direito.
Ela
submissa
E
obediente ao amado
Perde
a vontade,
O
amor-próprio;
E
torna-se menos
Que
um objecto:
Torna-se
uma escrava
Sem
opinião ou direito.
Ao
buscar a felicidade
E
quando pensa possuí-la
Ela
já não existe,
Nem
sombra dela.
A
mulher que dantes
Tinha
opinião e direitos
E
regateava por eles;
Perdeu-os
de vista
E
chega ao ponto
Em
que pensa que eles
São
parte de um sonho.
Sacrificando
a vida
Inteira
pelos filhos,
Só
encontrará a felicidade
Quando
o céu lhe levar
O
ente que ela julgava
Ser
o seu amado;
E ao
governar-se sozinha
Sem
a necessidade que o filho
Um
bocado de pão lhe dê
Para
tapar certo vazio.
Que
infelicidade ser mulher,
Pois
a felicidade para si
É
uma nuvem que nunca
Dela
se aproxima
E
que, quando a tem
Não
a reconhece
E só
muito tarde
Ou
nunca a poderá apreciar.
Existirá
a felicidade
Para
a mulher?
-
Duvido!
Lagos,05
de Abril de 1974
------------------------
Quinta-feira
Santa
Nesta
Quinta-feira Santa
Que
paz de espírito
Em
mim entrou ...
Sinto-me
leve voando
Suavemente
... e melancólica!
Faz
hoje 1974 anos que Jesus
Sofreu
os maiores tormentos.
E
talvez por isso
Em
meu coração
Eu
sinto lamentos.
Mas
apesar desta tristeza
Infinda,
mas calma que sinto;
A
tua imagem está em meu peito
E
sinto uma vida de compreensão
E
felicidade para nós.
Analiso
e torno a analisar
O
que sinto, o que em mim
Se
encontra a passar:
Que
será isto? Amor?
Necessidade
de amar?
De
pensar em alguém?
Do
meu coração entregar?
Que
sentirá ele por mim?
Qual
será o seu pensar?
Ainda
não te vi.
E o
meu coração?
Lagos,
11 de Abril de 1974
25-04-74
A
Liberdade libertou-se
...
À
memória do Dr. Mealha
Sonho,
amargura ...
De
mãos dadas andam
Pelas
terras de Portugal.
Desprezo,
escárnio
Para
os que fizeram mal.
Liberdade!
Vitória!
(Mas
não é para todos.)
Na
prisão vão ficar
Os
da PIDE que maltrataram
Os
que para lá iam parar.
Vinganças
se efectuam
Culpa-se
quem não é;
E
por isso o sub-Director
Mealha
dá fim à sua vida
Numa
corda, longe do Redentor.
Ele
escreveu: Em paz
A
minha consciência levo.
Meus
filhos, podem de mim
Orgulhar-se,
pois nunca
Denunciado
foi alguém por mim.
Estou
inocente. Não me culpem
Injustamente,
pois para isso
Não
têm motivo. Perdoem meus gritos,
Lembrem-se
de mim com amor
E
ajudem sempre os aflitos.
Morreu
no dia 02 de Maio de 1974
Lagos,
04 de Maio de 1974
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Reuniões
... Ideias ....
Desde
o dia vinte e cinco de Abril que o país anda em alvoroço. Pedem-se
reivindicações, fazem-se assembleias, procura-se e prende-se os da
PIDE, fazem-se reformas: na sociedade, no ensino, no trabalho, ... em
tudo. Todas as escolas estabelecem reuniões para formar associações
...
A
escola de Silves não se pôs de parte (porque nem se podia pôr) e
começou por eleger os delegados de turma. Estes indivíduos foram
eleitos por sufrágio directo nas turmas. Na minha turma eu tive
quinze votos, a Conceição Pina cinco votos, a Fernanda Guia quatro
votos, a Vitória três votos (parece-me), ...
Como
foi ordenado dois delegados em cada turma, a minha turma tem como
delegadas eu e a Conceição.
Depois
de eleitos os dois delegados de turma em todas as turmas da escola
que são à volta de vinte e sete, fez-se uma reunião dos delegados
de turma de cada curso para se escolherem entre eles os
representantes de curso, que foram quatro para cada curso. Somente o
Complementar tem seis representantes por ser o curso que possui mais
turmas. Os cursos são Complementar, Indústria, Comércio, Secções
e Nocturno.
Na
reunião dos delegados de turma do meu curso (por sufrágio directo)
foram sete votos para António Luís Grade, cinco votos para mim,
quatro votos para a Conceição Pina, dois votos para António
Martins Alfarroba. Portanto o curso Complementar ficou representado
pelos quatro que tiveram mais votos.
De
seguida estabeleceu-se outra reunião dos representantes do curso
para distribuir os trabalhos destinados à formação da assembleia:
uns foram incumbidos de ir para a mesa, outros de apresentarem e
defenderem as propostas, outros de vigiarem pelo bom funcionamento da
assembleia, outros de escreverem e colocarem os papéis a afixar.
Tudo
preparado deu-se a assembleia que foi hoje; deu-se esclarecimentos
sobre alguns pontos e abriu-se a sessão. Fizeram-se propostas; houve
barulho e terminada a aceitação da proposta um aluno do curso
complementar de Mecanotecnia foi dizer umas palavras. Entre o que
disse no discurso afirmou que o homem trabalha para o futuro e a
mulher só pensa em amor e casamento. Também que a mulher só
pensa no homem. A mulher olha para o homem como animal.
Não se pode
admitir que em fins do século XX, próximos do século XXI existam
homens que pensam desta maneira e mulheres que dão aso a que eles
pensem assim. Não se pode admitir!
Temos
de esclarecê-los numa reunião!
Lagos,
24 de Maio de 1974
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Quatro
dias de greve
Na
segunda-feira, dia vinte e sete de Maio, fomos eu e o meu irmão
Helder(pois andamos sempre na mesma turma) de camioneta até à
escola e qual não foi o meu espanto e dos outros colegas que vinham
na camioneta, quando em hora de aulas, vimos todos os nossos colegas
no recreio e no jardim. Perguntei aqui e ali e alguns responderam-me
que estavam em greve.
Mandaram-nos
para o ginásio e lá disseram-nos que estávamos em greve para
fazermos com que o ministro aprovasse a proposta de dispensarmos com
dez valores e irmos a exame com oito ou nove e também porque todas
as escolas no país estavam em greve, então era preciso dar-lhes
apoio. Assim decretou-se a greve oficialmente e foram nomeados
piquetes. Começaram as reuniões de explicação. Comecei a chegar a
casa às 19:00h enquanto em tempo de aulas chegava às 15:00h e a ir
à mesma hora para a escola como sempre. Chegava a casa com a cabeça
cheia de barulho e dormia um bocadinho para aclarar ideias.
Foi
uma delegação de alunos (entre os quais eu) apresentar a nossa
proposta que era a primeira proposta numa reunião de professores. A
partir da nossa proposta surgiram outras propostas tais como:
Segunda
proposta: nas disciplinas de passagem os alunos ficariam
prejudicados. Devia-se baixar a média, neste caso até oito.
Portanto nas disciplinas de passagem o aluno passaria com média de
oito.
Terceira
proposta: como se anulava o terceiro período não haveria pontos
neste período porque se tinha dado pouca ou nenhuma matéria e todos
andavam excitados. Também não haveria exames porque não se
encontrariam em condições de fazê-los.
Esta
reunião começou às 10:00h e às 12h e picos fez-se a votação
para aprovação da terceira proposta: na qual toda a gente passaria,
não haveria exames e só faltou um voto para atingir os dois terços
e portanto ser aceite. Aqui interrompeu-se a reunião e fomos
almoçar. A reunião recomeçaria às 14:30h.
Depois
do almoço já vinham com a proposta bem entendida e puseram-se as
três propostas à votação. Começou-se pela última, a terceira e
houve agora apenas doze votos incluindo seis votos dos alunos. Como
um almoço pode mudar tanto as opiniões havendo quarenta e nove
pessoas, segundo ouvi; de quase dois terços passou-se a doze.
A
proposta que teve mais votos foi a dos alunos, a primeira. Depois de
muita conversa e discussão foi essa proposta que foi enviada para o
Ministério da Educação e Cultura. Saímos desta reunião às
16:20h já se pode imaginar a discussão que houve e a divergência
de opiniões para durar tanto tempo. Além disto houve mais reuniões
de alunos.
Na
quarta-feira dois colegas nossos foram a Lisboa para participar na
manifestação em frente do ministério e no outro dia, pelas 11:00h
vieram-nos dar a notícia. Havia uma grande alegria espelhada
naqueles rostos e muitas palmas e risos de alegria. Aquele ginásio
estava cheio de felicidade. Depois das palmas e risos sucederam-se os
gritos de vitória. Não consigo descrever a felicidade que sentia,
inebriada pelas ondas de felicidade que vinham daqueles rostos. E sem
precisar destes favores, eu estava felicíssima.
Na
manhã desse dia, antes deles virem, alguns já queriam que as aulas
começassem e diziam que, se a escola de Faro tinha acabado a greve,
que nós também devíamos e que nem tínhamos querido a greve. Mas
isto tudo morreu quando eles vieram com a notícia.
Na
quinta-feira, às 13:30h já as aulas começaram. Só tinha feito
dois testes até à greve, já não fiz mais nenhum. As aulas
deixaram de ter a frequência de todos os alunos. Já não nos deram
mais matéria. Passou-se o tempo a alguns alunos fazerem testes
facultativos e a frequentarem a escola como eu.
Lagos, 31
de Maio de 1974
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À
Isabel
Isabel:
Dezassete
anos passaram
Inda
agora nasceste;
Tens
uma longa vida à tua frente.
Sabes
que a vida é uma estrada?
Uma
estrada com alguns pedregulhos
E
covas, com certeza;
Mas
terá muito mais sol,
Flores
das mais lindas,
Muita
amizade e amor.
Equilibra-te
nas covas e pedregulhos
E
passa depressa por cima deles
Que
não te ferirás.
O
sol e as flores
Esperam
ansiosos
A
tua chegada.
Lagos,
07 de Junho de 1974
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Solidão
Sinto-me
apática!
A
espera invadiu meu coração.
Não
existe sol em mim
Como
não há na Terra.
O
que gosto de fazer, não faço
(desporto,
passear, conversar, ...)
A
solidão mora em mim
E
encontro-me a mim mesma
Em
sonhos, ilusões, devaneios
Que
não os aceito porque o meu eu
De
realidade encara-os como impossíveis.
Não
vivo, apesar de comer,
Dormir
e andar.
Encontro-me
na Estratosfera!
Lagos, 29
de Junho de 1974
-------------------------------------------
Espero
Espero
...
(ensinaram-me
a esperar)
Pelo
sol, pelo céu limpo de nuvens
Pela
amizade, pelas amigas
Apesar
de tantas vezes as achar vazias,
Mas
elas dão-me alegria,
Fazem-me
passear e divertir
E eu
torno-me mais terra a terra
Mais
social
Abandonando
a minha solidão.
Vai-te
embora, solidão!
Não
te quero junto a mim.
Lagos,
29 de Junho de 1974
-----------------------------
Quero
Quero
sol e alegria
Quero
mansidão e mar
Quero
rir e conversar.
Quero
esperança
Quero
confiança
Num
amanhã melhor.
Quero
poder acreditar
Quero
amizade e amor
E
quero amar, amar, amar ...
Lagos,
29 de Junho de 1974
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Não
é isto o Paraíso?
Que
paraíso
Maravilhoso
e lindo
É
este dia.
Mar
e céu
Confundem-se
Tão
límpidos e azuis
Estão.
Que fantasia!
Aves
chilreiam
Poisadas
em verdes ramos;
Flores
belas
E
singelas
Cujo
perfume aspiramos.
Não
é isto o paraíso?
Que
mais se pode desejar?
Mas
paraíso ... paraíso ...
Sinto-te
tão perto
Mas
não estou dentro de ti.
Parece-me
andar
Numa
redoma de vidro
A
voar ... a voar ...
E a
te admirar!
Em
casa me encontro
Como
prisioneira
De
qualquer feiticeira
Que
me quis amaldiçoar.
Meu
príncipe ... meu príncipe ...
Quando
me vens libertar?
Pois
contigo quero viver
No
nosso Algarve tão lindo
E
com os passarinhos
Cantar
... cantar ...
Lagos,
21 de Julho de 1974
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Maria
Lamas
Maria
Lamas
Tu
és excepcional:
És
Mulher
És
político
És
alma bondosa
És
alguém, afinal.
Gostas
da solidão
(como
eu)
E
precisas de conviver,
De
contactar.
Enfim,
amar
E
ajudar os outros
(como
eu).
Sabes
Tu tens sessenta e
nove
E eu dezanove
Anos de idade;
E como gostaria
De contigo falar,
De contigo
aprender
Tudo o que sabes.
Tenho a certeza
Que as tuas
vivências
Minhas se
tornariam
Tu em mim verias
O teu futuro
prolongado
E tu para mim
serias
A base da nossa
ambição
As pedras do meu
passado.
Lagos,
31 de Agosto de 1974
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Divagações
Sol, terra e mar
Vida, flores e
luar
A natureza!
Um par passeia
Um pássaro
chilreia
Ouve-se murmurar!
Uma criança canta
Uma rosa encanta
Há amor no ar!
Velhinhos sentados
Com o sol
deleitados
A paz a entrar!
Passeios no jardim
Com árvores e
jasmim
Primavera a
chegar!
Lagos,
02 de Novembro de 1974
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Pensamentos
A alma
É como a flor:
Ora está radiante
Ora triste e
desfolhada
Ora esperando
Que floresça,
Impassível.
Há momentos
De tristeza e
melancolia
Assim como outros
De felicidade e
alegria.
Há momentos
De impassibilidade
E outros de
animosidade.
Existem tantos
E tão variados
Estados de alma
Que não chego a
compreender
O que realmente
quero
O que realmente
sinto
O que realmente
espero.
Umas vezes desejo
Viver ... viver
longo tempo;
Amar e ser amada
Num cantinho
maravilhoso
Ao pé da praia
E bastante
espaçoso.
Outras vezes é a
morte
Desejo agudo e
forte
Que o meu
pensamento
Açambarca.
Ninguém me
compreende,
Não existe amor
na Terra
Somente falsidade.
Como desejaria
Destas vagas sair
Colocar os pés em
terra
E dizer: - Quero
viver
Porque existe
amor.
Ou então: - Quero
morrer,
Pois só há
falsidade.
Lagos, 01
de Outubro de 1974
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CONTO
A
Vida ... as pessoas ...
Linda
Mónica era uma linda princesa de cabelos loiros e olhos azuis que
morava num condado na Suécia.
Na
primavera, quando o jardim se enchia de flores, as árvores de folhas
e em seus ramos passarinhos chilreavam, Linda gostava imenso de
sentar-se num banco deste jardim ... contemplar o céu, as flores e
pensar ... pensar no mundo e nas pessoas.
Como
ela achava estúpidos aqueles homens que sem nenhum interesse pela
verdade fervilhavam em volta de seu pai, lisonjeando-o pelas mais
simples coisas; somente para adquirirem a sua simpatia e assim
aguentarem-se no seu cargo ou passarem para outro melhor.
E
aquelas aias a falarem desta ou daquela sobre a sua vida particular;
a criticarem este acto ou aquele que determinado cavaleiro ou donzela
fez que trespassou as normas estabelecidas pela sociedade.
Como
eram enfadonhos todos eles ...
Como
ela os detestava ...
E
pensava:
-
Por que são as pessoas tão cretinas?
-
Por que não se ajudam mutuamente em vez de pôr de parte a pessoa em
apuros?
-
Por que não amam a verdade e não praticam a verdade?
Ao
pensar nisto ficava triste. Quase tinha vontade de chorar. Não
encontrava significado na vida. Que lhe interessava viver se não
encontrava amor, compreensão; se só via nos outros aversão pelo
próximo, malvadez e ruindade.
Linda
também gostava imenso de cavalgar e quando surgiam lindos dias de
primavera ela vestia-se de amazona e atravessava o monte cavalgando
até à beira de um ribeiro que corria no sopé deste.
Levava
longas horas a olhar a limpidez da água, os passarinhos a saltitar
de ramo em ramo nos salgueiros; a luz do sol reflectido nas águas
... enquanto que o Marialva provava a água do regato ou comia feliz
as tenras ervinhas que por ali havia.
2ª
parte
Certo
dia, encontrando-se a sós com os seus pensamentos ouve o relinchar
de um cavalo e, olhando em frente repara que, dando de beber ao seu
cavalo, está um viajante jovem. Ela olha para ele e ele, talvez
sentindo esse olhar, olha também na direcção dela. Enquanto ela
continuava sentada, ele pega no seu cavalo e dirige-se para ela.
Ao
chegar ao pé dela cumprimenta-a e pergunta-lhe se ela lhe pode
indicar o caminho para o castelo. Ela diz que sim e que até pode
acompanhá-lo, pois vai para lá. Todo o caminho vão trocando ideias
... conversando e ... simpatizando um com o outro.
Ao
chegarem perto do castelo ele pergunta-lhe para onde ela se dirige,
pois gostaria de acompanhá-la e não haveria o perigo de se perder
porque já tinha aprendido o caminho para o castelo. Então ela
diz-lhe:
-
Agradeço-lhe imenso a atenção, mas o meu caminho é o mesmo que o
vosso, pois eu moro neste castelo. Sou a filha do rei.
O
viajante fica bastante surpreendido e não diz nada porque o seu
coração paralisou e segue em frente.
3ª
parte
Este
viajante e a sua conversa ocupam a mente de Linda todo o dia e todos
os dias.
Dois
dias passaram e logo pela manhã Linda é acordada por uma notícia
dada pela sua aia mais amiga que a deixa muito contente: seu pai
nessa noite dará um baile em honra do recém-chegado, pois este é
um príncipe que veio pedir a mão da princesa ao rei.
Linda,
nessa noite, pôs o mais belo vestido que tinha e penteou-se da
maneira que lhe ficava melhor para comparecer no baile. Nessa noite
era a mais linda rapariga que havia no baile e, além disso, dançou
toda a noite com o príncipe o que a deixou maravilhada. E
conversaram muito ...
Que
noite maravilhosa, encantada foi esta. Ao terminar o baile a princesa
dirigiu-se para os seus aposentos e continuou a bailar e a cantar ...
até a aia lhe dizer que já bastava e que agora tratasse de dormir.
Linda bem foi para a cama, mas qual quê dormir ... o seu coração e
a sua cabeça estavam demasiado felizes para dormirem. Chegou a manhã
e não tinha pregado olho ...
O
casamento fez-se daquele dia a seis meses.
4ª
parte
Foi
um casamento lindo, pomposo, próprio de uma princesa linda e feliz.
Agora
Linda continua a sentar-se no mesmo banco do jardim e também na
margem do rio e continua a pensar ..., mas os seus pensamentos são
diferentes. Agora ela sonha com a felicidade, sente a felicidade no
ar, nas flores e nos passarinhos e certas vezes tem companhia: a do
marido e amado que a acompanha nos pensamentos e palavras e lhe dá
muito amor ...
Daqui a pouco os seus
pensamentos já não poderão vogar pelo ar assim livremente. Haverá
crianças, mãozitas de crianças a puxarem pelo vestido ou pela mão
convidando-a a brincar com eles. Outras vezes serão crianças no
colo a lhe darem beijinhos e a fazerem-lhe festinhas. E a felicidade
permanece ...
E
assim certa vez, existiu felicidade numa pequenina parte do mundo.
Lagos, 11
de Dezembro de 1974
---------------------------------------------------------
Feliz
aniversário
Nesta manhã clara
e bela
Aproximas-te da
janela
Olhas ao redor
E que vês?
Andorinhas
sobrevoando
Que te vão
anunciando:
- Feliz
aniversário!
- Feliz
aniversário!
As amendoeiras
florindo
Com seus botões
abrindo
Dizem-te: - Muitas
felicidades
Reunidas a muitas
amizades!
E o sol bem
ardente
Olha para ti mui
contente
E diz-te: - Muitos
anos de vida,
Minha querida
amiga!
Lagos, 06
de Fevereiro de 1975
-------------------------------------------------
As
eleições
Em
Janeiro houve eleições para a nomeação da Comissão de Gestão da
Escola de Silves. Esta Comissão de Gestão é composta por cinco
professores, cinco alunos, um elemento de Corpo Administrativo e
outro do Corpo Auxiliar. Estes foram nomeados por listas apresentadas
ao Director Provisório da escola.
Entre
os professores ninguém elaborou lista e no último dia do prazo para
a eleição nomearam-se à pressa os professores para esta Comissão
de Gestão.
Entre
os alunos apareceram duas listas: a A e a B. Um candidato à lista B,
José do Ó que era membro da UEC, propôs-me na lista A. Estas duas
listas foram submetidas à aprovação, mas antes meteram a política
nisto tudo.
Este
colega que me nomeou, colocou também na lista A um outro colega que
no curso geral tinha apanhado vinte dias de suspensão para que a
lista A não ganhasse e ele ficasse na Comissão de Gestão. Os
alunos membros da UEC reuniram-se com o seu chefe, Vicente que os
avisou para nenhum votar na lista A, pois esta lista não
representava nenhum partido político. Além disso estes elementos
espalharam-se entre os estudantes mandando bocas para ninguém votar
na lista A, pois esta lista tinha um elemento que tinha apanhado
vinte dias de suspensão e portanto não tinha condições para
representar e velar pelos interesses dos alunos.
Depois
desta propaganda chegou o dia da contagem dos votos e numa escola de
mil e quinhentos alunos a lista B consegue quatrocentos e tal votos e
a lista A duzentos e tal votos. Portanto nenhuma lista conseguiu
metade dos votos dos alunos da escola.
No
dia seguinte procede-se novamente à votação, mas desta vez sem
abstenções e no dia posterior a este procedeu-se novamente à
contagem dos votos: alunos que votaram na lista A vão votar na lista
B e desta vez a lista B ganha por maioria ficando assim na Comissão
de Gestão os alunos representados, não por alunos que defendessem
os interesses destes, mas por alguns que defendem sim a vontade e o
interesse do seu partido. Ouvi o seu chefe dizer que agora a escola
iria para a frente, pois eles a levariam; mas tal não aconteceu,
talvez por causa da greve.
Lagos,
Janeiro de 1975
------------------------------------------------------------
É tão bom ser
passarinho
Ter asas e voar
... voar ...
Ter um sol bem
quentinho
E, de ramo em
ramo, saltitar.
Lagos,
16 de Dezembro de 1974
---------------------------------------------
Liberdade
... Primavera ...
Liberdade,
primavera
Sente, cheira meu
coração.
Vem ... esvoaça
comigo
Por estes campos e
mares,
Por cima de flores
e fontes;
Vem comigo pelos
ares.
Dá-me asas,
primavera,
Dá-me um bocado
Da tua liberdade
E irei contigo
Seja por onde for
Até onde haja
Um bocado de amor.
Lagos,
22 de Março de 1975
--------------------------------------------------
Sol
Sol por que foges
de mim?
Eu vim para junto
de ti
Para me aqueceres
Para me dares
conforto
Para me dares
alegria.
Sol, por que és
assim?
Lagos,
22 de Março de 1975
------------------------------------------------------
Estou
triste pensando em ti ...
A Terra tem o sol
como amigo
O mar tem a praia
para amar
O céu tem as
estrelas consigo
E eu não terei a
quem meu coração dar?
Lagos, 11
de Agosto de 1975
------------------------------------------------------------
Epílogo
(…) e
encerrou-se esta fase da minha vida.
Em finais de
Setembro, dei os meus primeiros passos na universidade. Uma nova fase
se iniciou na minha vida.
Como por magia
aquele stress que havia em mim e me exasperava porque parecia
tão insuportável levantar-me cedo, ir para as aulas, estar nas
aulas, estudar, … toda aquela rotina de tantos anos da minha
adolescência e eu ficava ansiosa “e agora como vou poder
aguentar a universidade?” pensava eu.
Tudo isto
desapareceu mal mudei de ares, de ambiente e foi um começar de novo
com toda a disposição de um começo ...❐
O meu Clube de Leitura
http://www.clubedaleitura.pt/clubes/?id=97
Os
meus filmes1.º – As Amendoeiras em Flor e o Corridinho Algarvio.wmv
2.º – O Cemitério de Lagos
3.º – Lagos e a sua Costa Dourada
Os meus blogues
Cristianismo
http://www.psd.pt/
- “Povo Livre” - Arquivo - PDF
http://www.arteemgestao.pt/
(empresa de consultoria e
negócios utilizando a metodologia 'coaching')
1
N. A.: Esta interrogação
surge porque, sempre que ia à cabeleireira, esta me atacava
dizendo: - Ah, mas tantos cabelos brancos e tão novinha! É uma
vergonha uma rapariga da sua idade andar na rua já assim
branquinha. Tem de pintar o cabelo!
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